A cigarra disse-lhe:
- Olá amiga! Vou passar o inverno em Paris. Podes cuidar da minha casinha?
A formiga respondeu:
- Claro! Sem problemas. Mas o que aconteceu? Onde conseguistes o dinheiro para ir a Paris, como comprastes esta Ferrari, e este casaco tão bonito e caro?
E a cigarra respondeu:
-Imagina lá, que eu estava cantando num bar a semana passada, como de costume, e um produtor gostou da minha voz... Assinei um contrato milionário para fazer shows em Paris! A propósito, precisas de alguma coisa de lá?
- Sim, - disse a formiga.
Se te encontrares com LA FONTAINE (autor da fábula original) manda-o à merda, da minha parte!
Tem-se presente que as relações de trabalho e o próprio trabalho em si, por um lado, humanizam a natureza, geram riquezas e socializam as pessoas; por outro lado, contudo, em muitos casos, também as degradam e fazem sofrer. Esse paradoxo é revelado de forma mais clara quando se apercebe que o trabalho libera e oprime, ou seja, que é desejado para satisfazer necessidades básicas e de consumo, mas que nem sempre aquele que trabalha mais vive melhor e tem seus sonhos de consumo concretizados! Aquela coisa de que o trabalho dignifica o homem e o enriquece nos faz “formiguinhas”. Geralmente as “cigarras” da nossa sociedade sempre se saem melhor que as “formiguinhas” da vida!
Assim, sabe-se que o (trabalhador) brasileiro fica - por força de relações de trabalho - privado de incontáveis momentos do seu tempo e/ou, às vezes – mesmo como dono do seu tempo – lhe faltam condições para dele usufruir, apesar de seu reconhecimento constitucional. Essa questão é fundamental, haja vista que tanto o trabalhador como o ser humano em geral têm necessidades vitais não apenas materiais, mas também imateriais, e a criação, o sonho, a alegria, o prazer, a felicidade – considerados componentes do tempo livre como lazer – são essenciais para a vida digna. Ressalta-se que a proteção a esse tempo livre conhecido como lazer está inscrita, no Brasil, na Constituição Federal de 1988, no Capítulo II do Título II, que trata dos direitos sociais. Assim, o artigo 6º menciona que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a providencia social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. A palavra trabalho vem do latim tripalium, instrumento de tortura - instrumento constituído de três paus ou estacas com pontas de ferro utilizado pelos agricultores para baterem o trigo, as espigas de milho... Trabalho significou por muito tempo - ainda conota – algo como padecimento e cativeiro. Moral da história: Aproveita a vida, trabalha, diverte-te em proporção, porque trabalhar demasiado, sem lazer e às vezes sem o devido reconhecimento só traz benefícios nas fábulas de LA FONTAINE!