MEU ROMANCE

MEU ROMANCE
O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

LANÇAMENTO DO EDITAL 2008 da Bolsa de Publicações Doutor Maximiano da Mata

A área da literatura no Tocantins comemorou na noite desta quarta-feira, 04, mais um incentivo com a reativação da "Bolsa de Publicações Doutor Maximiano da Mata Teixeira" pela Fundação Cultural do Tocantins. O lançamento do Edital 2008, realizado no auditório do CUICA, em Palmas, é um marco importante para autores e escritores tocantinenses, como forma de divulgação e valorização de obras inéditas.

O regulamento do Edital 2008 será publicado, na próxima semana, no Diário Oficial do Estado. Serão contempladas obras nas modalidades de ficção (conto, romance, novela e dramaturgia) e poesia, sendo disponibilizadas 1500 cópias para cada. As inscrições, gratuitas, estarão abertas de 21 de julho a 22 de agosto, na Fundação Cultural do Tocantins ou enviadas via correio. Cada concorrente poderá participar com apenas uma obra inédita.

O evento de lançamento, em Palmas, contou com a presença do presidente da Fundação Cultural do Estado, Júlio César Machado; do escritor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, Murilo Melo Filho que, lançou ainda o livro, "Testemunho Político"; do presidente da Academia Tocantinense de Letras, Eduardo Silva de Almeida; da deputada estadual Josi Nunes, do presidente do Conselho Estadual de Cultura, Sérgio Lorentino, do presidente da Academia Palmense de Letras, João Portelinha, e demais autoridades, escritores e imortais.

O imortal Murilo Melo Filho explanou um pouco sobre suas experiências nacionais e internacionais nas áreas do jornalismo político e literatura e autografou suas obras para os presentes no evento. O presidente da Fundação Cultural ressaltou a importância da reativação desta Bolsa de Publicações que é uma grande ferramenta de fomento e divulgação de obras literárias tocantinenses, com incentivos a importantes obras e autores regionais.

MEMBRO DO CONSELHO MUNICIPAL DA CULTURA


O PREFEITO DE PALMAS no uso das atribuições que lhe confere o art. 71, incisos I e III, da Lei Orgânica do Município, combinado com a Lei nº 1.390, de 25 de outubro de 2005, Decreto 307, de 6 dezembro de 2005 e Lei nº1.431, de 17 de abril de 2006, DECRETA:

Art. 1º Ficam nomeados os membros abaixo relacionados para compor o Conselho Municipal de Cultura:

I - Representantes do Poder Executivo:

a) Secretaria Municipal da Educação e Cultura:

a.1) Titulares:

a. 1.1) Wolfgang Teske;

a. 1.2) Francisquinha Laranjeira Carvalho.

a.2) Suplentes:

a. 2.1) Flamarion Mesquita;

a. 2.2) Silvia Maria Costa Lopes.

b) Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia:

b. 1 ) Alexandre Sperchi Wahbe, Titular;

b. 2) Fabiane Sales Coelho, Suplente.

c) Secretaria Municipal da Juventude e Esportes:

c.1) Orion Milhomem Ribeiro, Titular;

c.2 ) Angelly Bernardo de Souza, Suplente.

d) Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico:

d.1) Webber Casemiro da Silva, Titular;

d.2) Lázaro Gomes de Sousa, Suplente.

e) Secretaria Municipal de Governo e Orçamento Participativo:

e.1) Divino Donizeti Borges Nogueira, Titular;

e.2) Gilda Rodrigues dos Santos, Suplente.

f) Coordenação da Mulher, Direitos Humanos e Eqüidade:

f.1) Rosimar Mendes Silva, Titular;

f.2) Gleidy Braga Ribeiro, Suplente.

II - Representantes do Poder Legislativo:

a) Câmara Municipal de Palmas:

a.1) Evandro Gomes Ribeiro, Titular;

a.2) Josafá Nunes de Santana, Suplente.

III - Representantes da Sociedade Civil Organizada:

a) Câmara de Artes Cênicas:

a.1) Cícero Belém Filho, Titular;

a.2) Denílson Rodrigues Silva, Suplente.

b) Câmara de Música:

b.1) Julio Cezar Machado, Titular;

b.2) Antônio Xavier, Suplente.

c) Câmara de Patrimônio Cultural:

c.1) Kátia Maia Flores, Titular;

c.2) Ederval Camargo Rocha, Suplente.

d) Câmara do Audiovisual:

d.1) Hélio de Oliveira Brito, Titular;

d.2) Yonara Aniszewski, Suplente.

e) Câmara de Artes Plásticas:

e.1) Antônio Rodrigues Neto, Titular;

e.2) Marina Teixeira de Souza Boaventura, Suplente.

f) Câmara de Artesanato:

f.1) Zózimo Camargo de Souza, Titular;

f.2) Renato da Silva Moura, Suplente.

g) Câmara de Literatura:

g.1) João Rodrigues Portelinha, Titular;

g.2) Luiz Melchiades Gomes Sobrinho, Suplente.

h) Câmara de Fotografia:

h.1) Irenildes Teixeira, Titular;

h.2) Manoel dos Santos Junior, Suplente.

Parágrafo Único - O mandato dos membros do Conselho é de 2 (dois) anos.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

PALMAS, aos 24 dias do mês de abril de 2006.

RAUL FILHO

Prefeito de Palmas

DANILO DE MELO SOUZA

Secretário Municipal de Educação e Cultura

ANTÔNIO LUIZ COELHO

Procurador Geral do Município


Poetas, músicos, escritores se encontram em Interlúdio
(Unitins)

Em um auditório repleto de poesia e sentimento, crianças, jovens e adultos tiveram a oportunidade de se encontrarem com Zé Gomes e "Zé Perry", nome que os pescadores catarinenses chamavam o autor do Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry. O jornalista, mas antes disso, poeta, escritor e músico, Carlos de Bayma, apresentou trechos de contos e poemas desses dois autores.

Esse encontro aconteceu na noite dessa quinta-feira, 26, no auditório da Unitins e mais que uma palestra foi um reencontro de amigos, onde cada um que participou da trajetória de Zé Gomes falou um pouco dessa experiência com esse que é um dos grandes poetas tocantinenses.

Mesmo sendo natural de Garanhuns, interior de Pernambuco, José Gomes Sobrinho adotou o Estado do Tocantins para disseminar sua poesia e aqui contribuiu para o desenvolvimento da arte em suas diversas manifestações. A ex-presidente da Fundação Cultural do Tocantins, Meire Maria Monteiro, parabenizou a iniciativa e a escolha desse encontro entre os dois escritores. “Tão marcante quanto a personalidade dele, é a obra dele, não só na literatura, mas em várias outras áreas. E eu gostaria de parabenizar a Unitins por essa atitude, por permitir que poetas possam fazer esse trabalho que a gente necessita muito.”

Zé Roberto, um dos filhos de Zé Gomes, participou desse grande encontro e agradeceu a visão “muito bonita” que o palestrante apresentou da obra desse escritor. “Mais importante que a literatura, foi a poesia que ele empregou na vida. Ele sempre foi um eterno príncipe, mesmo quando era um grande tirano. E essa iniciativa mantém meu pai muito vivo”.

O presidente da Academia Palmense de Letras, João Rodrigues Portelinha da Silva, falou da importância de enaltecer os escritores tocantinenses. “Fala-se muito dos outros escritores e muito pouco dos nossos. Até os próprios escritores do Tocantins não conhecem as obras daqui. E eu gostaria de parabenizar por vocês começarem a falar dos escritores tocantinenses e o Zé Gomes é o número 1”.

Gilson Cavalcante, Luiz Melchiades, Dorivan, Chico Perna, Thiago, Meire Maria, todos eles artistas da poesia, da música, da dança, da cultura de um modo geral, falaram da importância que ele teve não só na carreira de cada um, como no desenvolvimento cultural do Tocantins.

Para finalizar a apresentação, Markin Dasantigas, que atua no movimento hip hop na região norte de Palmas, cantou uma das músicas de seu álbum, primeiro do gênero no Tocantins, pedindo paz a todos os povos.


DAS BELEZAS IDÍLICAS À CATÁSTROFE

Quando se percorre as maravilhosas cidades de Santa Catarina, temos a impressão de que alguma fada amiga e benfazeja distribuiu, a granel, pelos montes e pelos vales desse encantador Estado, como acontece com a região do vale de Itajaí, o melhor e mais bucólico das Écoglas, o mais romântico e, também, poético dos idílicos de Teócrito... Santa Catarina foi sempre charmosa. Tem a Cidade das Flores, Joinville, que ganhou esse apelido por causa dos seus belos e imensos jardins. A Festa das Flores, em novembro, que leva centenas de visitantes à cidade. O Festival de Dança, outro grande evento cultural, considerado o maior da América Latina em abrangência de gêneros e número de participantes. Terras que pertenciam à nobreza e que faziam parte do dote de Dona Francisca, filha de Dom Pedro I, e foram vendidas por seu marido, o Príncipe de Joinville, à companhia de Colonização Hamburguesa. Os primeiros imigrantes, alemães, suíços e noruegueses, chegaram em 1851. Já lá habitavam açorianos e madeirenses. E, quando se percorre Florianópolis, que fica a 180 quilômetros de Joinville, Blumenau... Embalados por um céu esplêndido e pelo colorido da explosão da primavera? Aí, obviamente, lembraríamo-nos do mais poético labor das Geórgicas de Virgilio e, sem nenhum receio, diríamos: o Éden bíblico deve ter existido em toda Santa Catarina, como existiram as ilhas eleusinas dos felizes e bem aventurados semi-deuses da mitologia grega! Mas assim como a história de Antígona que é uma história de humildade, de dor e sacrifício, os catarinenses viram, pouco e pouco, suas casas, as árvores, os vales, os campos, os vales a desaparecerem na sombra esvanecente dos olhos... A noite que era um esplendor, agora quando chega apenas se vislumbra pequenos pontos luminosos das casas que sobraram e por mais frágil que eles sejam – são as únicas coisas que nada perdem do seu valor em face da imensa tragédia – Talvez, representam a única esperança em dias vindouros. Numa situação feliz, rejubilamo-nos sempre com toda nossa força, acalentamos uma confiança impensada e nada conhecemos para além do nosso presente. No entanto, quando atingidos pela dor, pela fraqueza, pela impotência como aconteceu em Santa Catarina, desesperamo-nos... E se conseguirmos vencer essas situações drásticas e continuarmos vivos, certamente aprendemos muito com experiências vividas e certamente passaremos a ver que não temos o domínio total da natureza como almejamos ou pensamos; porque o próprio domínio da natureza é aleatório. Que ela, a natureza, constantemente ameaçada, quase sempre ‘vinga-se’ e, que a comunidade humana é a única garantia da existência que encontramos. Em situações-limite, o homem congrega-se numa espécie de bloco para restringir a interminável luta contra infortúnios que o acometem, às vezes, até com intenção de aboli-las, mas, nesse caso particular, os esforços para dominar a natureza são infrutíferos e aí soçobram, para além das belas miragens de épocas tranqüilas em que os limites estavam velados, o solo firme que nos suporta – a terra natal, os pais, os filhos, a esposa, os esposos, irmãos e os amigos... E quando o solo que era firme desaba aos nossos pés, morrem os familiares e amigos, como aconteceu? Nessas situações mais cruciantes, as pessoas mesmo anteriormente isoladas, sempre convivem e contam umas com os outras, para obterem segurança por via da solidariedade recíproca, até na própria impotência... Vimos, também, com a mobilização nacional de ajuda aos catarinenses, que solidariedade é a primeira riqueza dos catarinenses, é a qualidade cardeal de todos brasileiros e, que daqui, brota e se mantém todo o seu profundo humanismo. Viva o povo brasileiro!

In Palmensis Mirabilis de joão Portelinha

Poema declamado por Osmar Casagrande no dia da Homenagem

KALUNGA

Namongo talipepele
Kalunga etuama momunhulo!
Kalung tukula okaulapepo!
Pamba onaile likwete.
Vafi Vange, tuyeni!
Vali vange, tuyeni!

(Tradução)

Mamongo, suscita o vento,
Kalunga nos protege pelos lados!
Kalunga faz levantar a ventania!
Pemba tem um bordão.
Kalunga fala e diz:
Mortais meus vamos para frente!

poema guerreiro Ambo (Kwanhamã), recolhido por Carlos Estermann

O QUE EU CANTEI PARA HOMENAGEAR BOAVENTURA....

MEU HUMBIUMBI


Humbiumbi yage,
Yalela tuende.
Kakele Ka tchibamba
Ossala p`osi

vakuene vayelela,
Uelela tuende.
kakele Kachimbamba
Ossala p`osi.

(Tradução)

Meu humbiumbi,
Levanta vôo.
Coitado do tchimbamba
Que se arrasta no chão.
Teus companheiros voam
Levanta vôo e vamos
coitado do Tchimbamba
Que se arrasta no chão.

Obs: Este poema umbundo, recolhido por Gonzaga Lambo
é cantado por martinho da vila e por Djavan

A MULHER ATRAVÉS DOS TEMPOS

O Dia Internacional da Mulher foi comemorado há pouco tempo... Assim, pensei em pesquisar alguns escritos milenares que se relacionam a discriminação e a sujeição das mulheres através dos tempos:

“A mulher deve adorar o homem como um Deus. Todas as manhãs, durante nove vezes, consecutivos, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: senhor, que desejais que eu faça?.”

(Zaratustra - Filósofo persa, séc. VII a.c)

“Todas as mulheres que seduzirem e levarem ao casamento os súbditos de Sua Majestade mediante o uso de perfumes, pinturas, dentes postiços, perucas e recheio nos quadris, incorrem em delito de bruxaria e o casamento fica automaticamente anulado.”

(Constituição Nacional Inglesa – lei do séc. XVIII)

“Mesmo que a conduta do marido seja censurável, mesmo que este se dê a outros amores, a mulher virtuosa deve reverenciá-lo como a um deus. Durante a infância, uma mulher deve depender de seu pai, ao se casar se seu marido, de seus filhos e se não tiver, de seu soberano. Uma Mulher nunca deve governar-se a si mesma”. (Leis Manu – livro Sagrado da Índia)

“Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz. Para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada da sua face. E é bem merecido, por se dirigir ao homem com maldade e linguagem ousada.”

Le Ménangier (de Paris- Tratado de Conduta Moral e Costumes da França – séc.XIV)

“As crianças, os idiotas, os lunáticos e as mulheres não podem e não têm capacidade para efetuar negócios.”

(Henrique VII, rei da Inglaterra, chefe da Igreja Anglicana no séc. XVI)

“Quando uma mulher tiver uma conduta desordenada e deixar de cumprir com suas obrigações do lar, o marido pode submetê-la à escravidão. Esta servidão pode, inclusive, ser exercida na casa de um credor do seu marido.”

Código de Hamurábi - Const. Nac. Ca Babilônia, outorgadas pelo rei Hamurábi, séc. XVII a.c)

“Os homens são superiores às mulheres porque Alá outorgou-lhes a primazia sobre elas. Os maridos que sofrerem desobediência das suas mulheres podem castigá-las. Deixá-las sós nos leitos, e até bater-lhes. Não se legou ao homem maior calamidade que a mulher.”

(Alcorão-Livro dos Mulçumanos, recitado por Alá a Maomé no séc. VI)

Que as mulheres estejam caladas nas Igrejas, porque não lhes é permitido falar. Se quiser ser instruída sobre algum ponto, interroguem em casa dos seus maridos.”.

(São Paulo- Apóstolo Cristão, ano 67 D.C)

“A natureza só fez a mulher quando não pode fazer o homem. A mulher é, portanto, um homem inferior”.

(Aristóteles – Filósofo e Preceptor grego de Alexandre o Grande, séc.IV a.c)

“O pior adorno que uma mulher pode querer de usar é ser sábia”.

(Lutero - Teólogo alemão reformador protestante, séc. XVI)

Por estes escritos se vê quão árduo foi o caminho que as mulheres tiveram que percorrer para conseguirem chegar aos dias de hoje em pé de igualdade de direitos e condições com os homens. Infelizmente, em muitos países do mundo, as mulheres continuam na mesma situação destes escritos milenares...

In "palmensis Mirabilis" de João Portelinha

SOLIDARIEDADE MASCULINA AO EXTREMO

Eurípedes disse, certa vez, que era melhor estar três vezes em combate com escudo e tudo do que parir uma só vez!

Se a gravidez é felicidade para mulher, já não se pode dizer a mesma coisa do parto, que é complicado, sobretudo pelas dores que aumentam de intensidade, sendo, em princípio, espaçadas, reduzindo-se pouco a pouco os intervalos quanto mais se aproximam do seu término. Às vezes, para desgraça destas, o parto é acompanhado com eclampsia, que se manifesta por perturbações visuais e cerebrais, dores de estômago e, finalmente, tremores nos músculos da face, pálpebras e lábios, etc. Quer dizer, “dar à luz” não é fácil, Não é por acaso que as mães dizem que suas filhas que, quando forem mães, saberão certamente o que é ser mãe. Mas o meu propósito aqui não é alarmar ninguém sobre a “condenação” da mulher apregoada em Madéias: - Engendrarás na dor, disse Deus à mulher. Nem tão pouco fazer um tratado de medicina.

Em toda história da humanidade, sempre se pensou acabar ou pelo menos amenizar as dores de parto. E sempre também questionou-se o papel masculino, a participação do homem na geração da prole e a possibilidade de alguma solidariedade masculina para as parturientes.

Entre alguns índios, de acordo com o meu amigo professor Eustáquio Grilo, na altura em que a índia está de resguardo, o esposo fica em casa de resguardo também, podendo ser até mais radical, ou seja, mais próximo do repouso absoluto. Isto é, segundo o ilustre professor, talvez seja conseqüência da crença de que a boa gestão exige, digamos, o contínuo fornecimento de matéria-prima. O que, no caso, significa esperma e, por isso, implica manter relações sexuais diárias com a esposa grávida. Não é uma forma de solidariedade masculina?

Nas aldeias africanas, a gravidez é também um período carregado de tabus e mistérios. A grávida é influente e tem toda solidariedade e carinho, não só do marido, mas também de toda comunidade. Aqui o curandeiro dispõe de um aparato de variadíssimos recursos assistenciais e mágicos para libertá-la de um parto com dor. O engenho dos especialistas da magia parece tão inesgotável e variado que inclui no seu bojo uns tantos milongos (feitiço) para transferência das dores para o marido.

A minha irmã Etelvina resolveu a passagem da dor para o marido na hora. Quando estava a ter o nenê, mordeu decididamente o marido... e tudo ficou resolvido. Não foi preciso curandeiro nenhum...

Ao contrário dos índios, os maridos da sociedade tradicional africana, também por solidariedade, abstêm-se de toda relação sexual desde o começo da gravidez. E quando a esposa está a dar à luz, geralmente de cócoras, o marido deve sair de casa para que não ocorram influências mágicas perigosas. Caso sejam detectadas, devem ser contrafeitas com rapidez pelo curandeiro. Ao contrário do índio, que por solidariedade à mulher.

No Huambo, as aldeias são o lugar onde a cultura tradicional está mais arraigada. Quando o parto é difícil ou trata-se de um caso extraordinário, deve intervir imediatamente a parteira tradicional ou os ginecólogos tradicionais. Nestes casos quase sempre se imputa a culpa ao marido. Crê-se que geralmente estes males são ocasionados pela infidelidade masculina. A infidelidade paterna é sempre considerada muito nefasta. Nestes casos, a parteira implora-lhe que se redima obrigando-o, na presença da mulher, a dizer todas as amantes que já teve, pelo menos na fase de gestação, para que desta feita se facilite o trabalho de parto e, por força da retratação do seu pai, o bebê nasça bem. Outra forma de solidariedade masculina.

Um amigo meu esteve também numa situação bem pouco confortável. A mulher estava com dificuldades no parto e a parteira mandou-o chamar para dizer o nome das suas amantes. Como a lista era enormíssima, uma das suas tias sugeriu que então se fosse ao hospital, porque o infeliz nunca mais terminava com os nomes. A criança nasceu no hospital todo vermelhinho por ter estado tanto tempo preso à bacia da mãe – hoje chama-se Indo, fazendo jus à coloração avermelhada como nasceu.

Um caso, porém, pode ser considerado como exemplo extremo de solidariedade masculina. É um caso inédito que se passou no interior do Brasil, contado também pelo nosso amigo Grilo:

Na casa de uma família cabocla, havia três compartimentos: dois quartos, intermediados por uma sala. Uma parturiente estava num quarto a ter o bebê. Num dos pulsos tinha amarrado um cordel, o qual, subindo e passando por sobre os caibros, ia ter no quarto vizinho. Aí descia e tinha a outra ponta amarrada... adivinhem?... Lá mesmo, nos penduricalhos do marido. Conforme doía, a mulher puxava espasmodicamente o cordel e assim o marido sofria junto. Nos dois lados era um berreiro sem fim.

Haverá melhor exemplo de solidariedade masculina?

Oxalá que a moda não pegue, senão estamos todos fritos...

In "Sentir a Terra nas Vozes Populares" de João Portelinha

CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS...


Ainda para completar o percurso aqui traçado por mim, que é de mostrar nuanças culturais dos países onde estudei e que, como é óbvio, pontilham as pequenas diferenças culturais entre estes, vou contar-vos um caso interessante que se passou comigo na Bulgária.

Estava no centro de Sófia, capital daquele país eslavo, e fiz parar um táxi para me levar à Devernitsa, cidade universitária. Perguntei ao taxista se me podia levar. Ele acenou-me com a cabeça dando a entender que sim, abri a porta do carro e me acomodei. Qual foi o meu espanto:

- Eu já disse ao senhor que não! Disse-me o taxista todo irritado.

- Pelo que me deu a entender, o senhor disse-me que sim quanto fez assim... com a cabeça – respondi-lhe fazendo o gesto com a cabeça;

- Senhor, cá na Bulgária, sim, é assim... (faz o gesto com a cabeça que corresponde ao nosso não) e não, completou ele é assim... (fazendo o gesto com a cabeça similar ao nosso sim).

- Desculpe-me senhor, só que em Angola...

Antes mesmo que eu completasse o meu raciocínio, disse-me:

- Drugário, samo tché, ni ci veuf Angola!!! (camarada, só que você não está em Angola).

Contra factos não há argumentos. Não acham?

*

Na Bulgária, ainda como estudante, viajei de férias a Angola com um búlgaro. De resto, búlgaros são até um povo muito jovial e simpático. Ao longo do percurso Sófia/Roma/Luanda, foi me dizendo que a beleza de uma cidade não estava consubstanciada apenas na beleza dos postais monumentalizados... Pois, este tinha em mãos um postal muito lindo do Banco Nacional de Angola, que é de facto uma grande obra arquitetônica colonial. E eu... sempre acenando com a cabeça do jeito deles, para dizer que estava de acordo.

E ele continuou...

... As cidades, hás-de convir comigo, João, reclamam por lugares limpos e arborizados como Sófia, que de facto estimulam no citadino a fome de viver e de espairecer dos seus cansaços diários...

E eu sempre concordando... Afinal de contas ele tinha total razão...

... Pois, como estava a dizer e ainda sobre a higiene, o vosso aeroporto de Luanda, que deveria ser o espelho da cidade, é um horror em termos de higiene: papéis por todo lado... até dá dó de se ver... – concluiu.

Disse-lhe que sim, era um facto, e que teríamos que pensar mais um pouco no nosso saneamento básico, dentre outras coisas...

≈ * ≈

Em Roma, no aeroporto, o nosso amigo comprou uma bicicleta para o filhinho que estava com a mãe em Luanda, pois o mesmo era cooperante em Angola. Depois continuamos a nossa viagem já rumo a Angola. Adivinhe o que aconteceu no aeroporto em Luanda?

Foi buscar a bicicleta no tapete rolante e ai mesmo começou a tirar os papéis de embrulho que o envolviam, espalhando por todo o chão..

Lembrei-me do meu aprendizado na Alemanha, com o caso dos fósforos. Apenhei os papéis e pu-lo nas mãos, fazendo-lhe lembrar o que precisamente ele me tinha ensinado ao longo da nossa estafante viagem. – Que o aeroporto era o espelho de uma cidade e que, como tal, devia-se preservar a sua higiene.

Entendi tudo, drugário (camarada). Faz o que eu digo e não faças o que eu faço. Não é?

In “Crônicas de Risos e Lágrimas” de João Portelinha

EM MOSCOU, NA CASA DE LENINE (ANTES CASA DO CZAR PETER...

DISCURSO DE JOÃO PORTELINHA NA OUTORGA DO DIPLOMA DE “MEMBRO HONORÍFICO DA APL” A BOAVENTURA CARDOSO

Excelências,

Minhas senhoras

Meus senhores,

Meus queridos confrades

Eu também sou angolano e ter oportunidade de relembrar meus velhos tempos e ainda homenagear uma figura tão importante e amiga como Boaventura é para mim muito emocionante. O nosso ilustre convidado nasceu em Luanda em 1944, colaborou em jornais de Luanda e na revista Angola, da Liga Nacional Angolana. Desempenhou funções de diretor do Instituto Nacional do Livro e do Disco, secretário de Estado da Cultura e ministro da Informação. De 1992 a 1999, foi embaixador de Angola na República Francesa. Foi embaixador de Angola na República italiana e na República de Malta e representante permanente de Angola junto dos organismos das Nações Unidas, cuja sede é em Roma. Licenciado em ciências sociais, é membro fundador da União de Escritores Angolanos (congênere brasileira em Angola). Escritor representativo da Geração 70, começou sua carreira literária escrevendo crônicas em Diários de Luanda. Publicou os livros de contos: Dizanga dia Muenho (A lagoa da vida, 1977), O fogo da fala (exercícios de estilo, 1980) e A morte do velho Kipacaça (1987). São seus romances: O signo do fogo (1992). Maio, mês de Maria (1997) e Mãe, materno mar (2001) É um dos escritores mais lidos na atualidade, sendo a sua obra traduzida em vários idiomas juntamente com a de Pepetela e Luandino Vieira, a sua produção vem sendo muito estudada pelos pesquisadores angolanos, portugueses, italianos, americanos, franceses e brasileiros. No entanto, a importância de seu lugar no universo literário de Língua portuguesa contrasta com a carência de material bibliográfico sobre sua produção no Brasil, fato que tem proporcionado, às vezes, enorme dificuldade aos que elegem para objeto de estudo e aos professores universitários que selecionam seus textos nos cursos de graduação e pós-graduação. Em suma, a descoberta de sua narrativa maravilhosa por parte de tantos leitores contrasta com a falta de uma bibliografia reunida e publicada em livros deste extraordinário escritor e bem como de outros autores angolanos aqui no Brasil...

Considerando esses fatores e tendo em conta as perspectivas que no Brasil se abrem com a assinatura da portaria presidencial que determina a inclusão, no ensino de primeiro e segundo graus, de tópicos relacionados com a presença africana na formação da cultura brasileira, com destaque para elementos ligados à historia e à literatura da África, Creio assim que a situação vai mudar drasticamente, para melhor.

Estamos, com efeito, diante de sinais de que, hoje no Brasil, os estudos africanos ganham novos contornos, e, a cada dia, reafirma-se a ligação que setores hegemônicos da sociedade brasileira tentam apagar. Com entusiasmo, percebemos que o país vem se empenhando no resgate de uma memória que permaneceu esmaecida, e isso significa abrir caminhos em direção a África e desvelar as Áfricas que existem nas matizes que recortam a identidade Brasileira. Como de resto tenho dito em outras oportunidades... Dizem que Portugal é pai do Brasil... Disso não tenho nenhuma certeza... Mas que Angola é a mãe preta que o colocou ao colo e o amamentou culturalmente, disso tenho toda a certeza!

Excelências

Senhoras

Senhores

Meus queridos confrades,

Abrir caminhos que permitam aprofundar o conhecimento sobre a cultura de Angola e o Brasil parece-nos uma tarefa importante, fundamental, inclusive, para afastar os riscos de se perpetuar o processo de exotização de que o Continente africano também é vítima. Creio excelências, que esta tarefa poderá ser muito bem exercida por acadêmicos angolanos e brasileiros. Creio que às vezes fazemos melhor que os próprios governos... Angola e Brasil Têm muitas afinidades... Para, além disso, o Brasil foi o primeiro pais a reconhecer a independência de angola em 1975! Viva o Brasil! Viva Angola!

E foi com este espírito, senhor Boaventura Cardoso e pelos seus êxitos extraordinários na poesia e Literatura e quiçá pela amizade angolano-brasileira. Que a Academia Palmense de Letras, da qual sou presidente, o outorga, neste momento, o título de MEMBRO HONORÍFICO DA ACADEMIA PALMENSE DE LETRAS. Gostaria, também, confrade Boaventura, que eu e o senhor intercedêssemos junto aos nossos confrades de lá e de cá no sentido de gemearmos a Academia Palmense de Letras, da qual o senhor agora é membro, e a União dos escritores Angolanos.

Convido a todos os confrades presentes para um abraço ao nosso novo e ilustre confrade Boaventura da Silva Cardoso

Muito obrigado.

O nosso confrade ilustre!

Deixemos que o próprio escritor se apresente enquanto faço a crônica: “nasci em Julho de 1944, em São Paulo de Luanda, conforme consta de meu assento de baptismo no cartório da Missão de São Paulo, livro número 1, cento e setenta, de mil novecentos e quarenta e cinco, folhas oitenta e cinco, verso, sou filho da dona Rita e do enfemeiro-dentista Sô Cardoso... Em Malange, onde, já se vê, passei parte da minha infância e grande parte da minha juventude, despertou-se-me o vício da leitura. Lembro-me de, quando devia ter os meus treze anitos, andar sempre a pedir dinheiro a minha mãe para comprar os livros aos quadradinhos da colecção Condor Popular. Foi nessa altura que li também muitas fotonovelas brasileiras, nomeadamente da Capricho e do Sétimo Céu. Que circulavam entre os jovens e raparigas... Mas tarde passei a ler livros mais volumosos. Nas minhas férias, consumia muitas horas a ler na biblioteca que os padres bascos tinham aberto na Maxinde, enquanto outros rapazes se movimentavam descamisados, em animados trumunos no campo da bola. (In Um cesto de Recordações de B. Cardoso)

É assim que Boaventura Cardoso começa com a sua autobiografia, de uma forma despretensiosa, simples e modesta! Na realidade, ele é um dos maiores escritores angolanos da atualidade, um diplomata importante, um grande nacionalista angolano. Quero falar dele somente como escritor... Em 2002, em Luanda, lancei um dos meus livros, na União dos Escritores Angolanos. Na ocasião, perguntaram-me qual seria a tarefa principal do escritor angolano, eu, sem, muitas delongas, respondi que era falarmos de “nós mesmos”. Isso soou meio estranho... Falarmos de nós mesmos? Indagou um presente que também era escritor! Lembro-me como se fosse hoje, que pouco depois da independência de Angola, quando se fundou a União dos Escritores Angolanos, o presidente Antônio Agostinho Neto, também poeta, mandou chamar o poeta e Ministro da Cultura, Antônio Jacinto, antecessor de Boaventura, no ministério, para que fizesse um discurso de inauguração da UEA, nessa ocasião, Jacinto, disse que era ele, o Presidente Neto quem deveria fazê-lo, na medida em que era o maior poeta angolano! Depois de muita relutância... Agostinho Neto disse: camarada Antonio Jacinto vá! Estou mandá-lo na condição de Presidente da República! Jacinto disse que ia apenas porque estava a ser mandado pelo presidente e não pelo poeta! Estou contando esta história apenas para retratar-vos que a revolução angolana foi feita por poetas e escritores... O presidente era poeta, muitos ministros também... Feliz é aquela Pátria que tem como fundador um poeta! Aqueles que não eram ainda poetas e escritores quando foram para guerrilha, como eu, tornaram-se poetas forjados pela luta. É que aprendemos com Neto que não se fazia revolução apenas com armas... Com canetas e livros, também! Outro dado interessante sobre a fundação da UEA, é que nessa ocasião, A. Neto mandou um recado, que os escritores angolanos deixassem de chorar... Que a época era de alegria, de regozijo por sermos independentes... Chegava de falar do colonialismo! Tivemos a época em que os escritores falavam da construção do socialismo... Depois quando se desmoronou o sistema socialista mundial, com as mudanças na ex-União Soviética, ficamos órfãos... Criou-se um vazio... Dava impressão que não se tinha mais nada para escrever... Foi por isso que propus que falássemos de nós mesmos! Se observarmos os livros mais recentes do nosso confrade, Boaventura, vamos perceber uma visão mais crítica sobre questões típicas da época atual: a expansão do fanatismo religioso e político e a proliferação de novos credos que ressignificando formas de vida e visões do mundo, desestruturam ainda mais as sociedades fragilizadas por guerras e calamidades. Neste sentido, a produção literária mais recente do escritor, ao encenar os intensos conflitos que se acentuam na cultura urbana e perturbam as regiões mais afastadas do país, traz para o espaço literário as contaminações provocadas pelas redes de idéias e credos que estendem de forma acelerada no mundo contemporâneo. É por isso, que dentre outras coisas, eu adoro o novo membro da APL, porque para além falar “de nós mesmos”, fala de assuntos contemporâneos!

EU E O FAMOSO ESCRITOR E ANGOLANISTA SIR TORTON

EU, SARAMAGO E SUA BELA ESPOSA ESPANHOLA....

EU E O NÓBEL DE LITERATURA, JOSÉ SARAMAGO!