MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


quinta-feira, 12 de novembro de 2009


Agora, o motivo é Kenzo

Lembram-se do caso da Ana Carolina? Tinha tudo para ser uma adolescente de bem com a vida: bela, inteligente magra e elegante... No entanto, era muito gorda para trabalhar na China e muito magra para os mexicanos! Que desgraça... Sua amiga e colega de apartamento era bulímica, que é o sintoma inverso ao de Ana. As vítimas preferenciais da anorexia e bulimia são exatamente adolescentes de 15 a 17 anos, e, se tratadas, poucas conseguem retomar a vida normal porque, na maioria dos casos, a doença torna-se crônica e fatal. A anorexia é mais rara. A pessoa recusa-se a comer. Já nas bulímicas o sintoma é inverso: elas têm crises em que comem sem controle nenhum e, depois, provocam o vômito ou usam de laxantes e diuréticos para não ganharem peso. Na novela da Globo “Viver a Vida”, traz uma personagem chamada Renata, vivida por Bárbara Paz, jovem que sofre de drunkorexia, um transtorno cada vez mais comum, que é um misto de alcoolismo e anorexia. Nestes casos frequentemente se troca a comida pelo álcool. Não só a obsessão pela magreza faz com que algumas meninas se tornem drunkorexicas: muitas vezes o problema pode ser por questões emocionais mais complexas. Na trama de Manoel Carlos, Renata vive frustrada por sua carreira de atriz e modelo não dar certo e sempre se lamenta a base de vários goles. O autor já adiantou que quando a personagem for largada pelo namorado, Miguel (Mateus Solano), que não aprova suas atitudes, seu vício aumentará e ela vai se definhar. Na vida real, jovens sofrem do distúrbio e muitas vezes não sabem. Estrelas como Amy Winehouse, Lindsay Lohan e Britney Spears sofrem do transtorno e já apareceram publicamente em situações péssimas. Elas combinam álcool e drogas com pouca ou nenhuma comida e acabam internadas em clínicas de reabilitação. Algumas destas são doenças antiqüíssimas. Podem ser identificadas inclusive nos santos que jejuavam como forma de beatitude. Só que antes o motivo era Deus, agora é o Kenzo, Dior e outras griffes da moda.

Na nossa cultura ocidental, ser magro é o sinônimo de sucesso e de beleza e nos esquecemos que supervalorizar a magreza pode nos levar à morte e as adolescentes, em idade de crise, são a população de alto risco como nos temos apercebido.

Relacionado com essas doenças, estão as pílulas perigosas, que são inibidoras de apetite. E que há até bem pouco tempo era ou ainda é, a dieta dos sonhos de qualquer gordo. A fen-phen, como era conhecida, não sei se ainda existe em circulação; porque a clínica Mayo, nos EUA, divulgou já há alguns anos que esse tratamento envolve risco de vida. A combinação era para ser usada como tratamento em casos sérios de obesidade, em que a necessidade justificasse os riscos – mas acabou sendo usada até por quem desejava perder alguns quilos. O problema, observado em vários consumidores de fen-phen, é a formação de uma substância branca e gordurosa que impede o fechamento completo das válvulas que controlam o fluxo do sangue no coração. Mais de vinte milhões de americanos e outros milhares em outras partes do mundo consomem a combinação fen-phen, que tem no Brasil um coquetel similar denominado Femproporex. O estudo representa novo baque na indústria dos inibidores de apetite. Outra questão se relaciona com aquelas modelos que, contratadas e enviadas para o estrangeiro, passam fome por não terem condições para se manter. Os agentes dessas modelos deveriam ser responsabilizados, até judicialmente. A meu ver, o caso já é de polícia...

Muitas delas até são menores de idade. Deveria, penso, haver uns tantos censores da propaganda televisiva contra aqueles que fizessem apologia à magreza e aos inibidores de apetite. É do nosso inteiro conhecimento que o discurso publicitário vise sempre apelar à sensibilidade, mobilizar o desejo, induzir o potencial consumidor a optar por um determinado produto, mesmo que seja fatal e os seus argumentos são muitas vezes de natureza emocional, apela-se ao sentimento e a motivações de natureza inconsciente. Ser diferente, num mundo de semelhanças, é para muitos desses senhores publicitários – apologistas da magreza – uma definição e uma realização de uma estratégia, que torne únicos seus produtos mortíferos e serviços.

O cerne da questão é: pode o sujeito distanciar-se do mundo que observa desde criança e o seu conceito de beleza? Não sei...

João Portelinha in Jornal o Estado

Agora, o motivo é Kenzo

Lembram-se do caso da Ana Carolina? Tinha tudo para ser uma adolescente de bem com a vida: bela, inteligente magra e elegante... No entanto, era muito gorda para trabalhar na China e muito magra para os mexicanos! Que desgraça... Sua amiga e colega de apartamento era bulímica, que é o sintoma inverso ao de Ana. As vítimas preferenciais da anorexia e bulimia são exatamente adolescentes de 15 a 17 anos, e, se tratadas, poucas conseguem retomar a vida normal porque, na maioria dos casos, a doença torna-se crônica e fatal. A anorexia é mais rara. A pessoa recusa-se a comer. Já nas bulímicas o sintoma é inverso: elas têm crises em que comem sem controle nenhum e, depois, provocam o vômito ou usam de laxantes e diuréticos para não ganharem peso. Na novela da Globo “Viver a Vida”, traz uma personagem chamada Renata, vivida por Bárbara Paz, jovem que sofre de drunkorexia, um transtorno cada vez mais comum, que é um misto de alcoolismo e anorexia. Nestes casos frequentemente se troca a comida pelo álcool. Não só a obsessão pela magreza faz com que algumas meninas se tornem drunkorexicas: muitas vezes o problema pode ser por questões emocionais mais complexas. Na trama de Manoel Carlos, Renata vive frustrada por sua carreira de atriz e modelo não dar certo e sempre se lamenta a base de vários goles. O autor já adiantou que quando a personagem for largada pelo namorado, Miguel (Mateus Solano), que não aprova suas atitudes, seu vício aumentará e ela vai se definhar. Na vida real, jovens sofrem do distúrbio e muitas vezes não sabem. Estrelas como Amy Winehouse, Lindsay Lohan e Britney Spears sofrem do transtorno e já apareceram publicamente em situações péssimas. Elas combinam álcool e drogas com pouca ou nenhuma comida e acabam internadas em clínicas de reabilitação. Algumas destas são doenças antiqüíssimas. Podem ser identificadas inclusive nos santos que jejuavam como forma de beatitude. Só que antes o motivo era Deus, agora é o Kenzo, Dior e outras griffes da moda.

Na nossa cultura ocidental, ser magro é o sinônimo de sucesso e de beleza e nos esquecemos que supervalorizar a magreza pode nos levar à morte e as adolescentes, em idade de crise, são a população de alto risco como nos temos apercebido.

Relacionado com essas doenças, estão as pílulas perigosas, que são inibidoras de apetite. E que há até bem pouco tempo era ou ainda é, a dieta dos sonhos de qualquer gordo. A fen-phen, como era conhecida, não sei se ainda existe em circulação; porque a clínica Mayo, nos EUA, divulgou já há alguns anos que esse tratamento envolve risco de vida. A combinação era para ser usada como tratamento em casos sérios de obesidade, em que a necessidade justificasse os riscos – mas acabou sendo usada até por quem desejava perder alguns quilos. O problema, observado em vários consumidores de fen-phen, é a formação de uma substância branca e gordurosa que impede o fechamento completo das válvulas que controlam o fluxo do sangue no coração. Mais de vinte milhões de americanos e outros milhares em outras partes do mundo consomem a combinação fen-phen, que tem no Brasil um coquetel similar denominado Femproporex. O estudo representa novo baque na indústria dos inibidores de apetite. Outra questão se relaciona com aquelas modelos que, contratadas e enviadas para o estrangeiro, passam fome por não terem condições para se manter. Os agentes dessas modelos deveriam ser responsabilizados, até judicialmente. A meu ver, o caso já é de polícia...

Muitas delas até são menores de idade. Deveria, penso, haver uns tantos censores da propaganda televisiva contra aqueles que fizessem apologia à magreza e aos inibidores de apetite. É do nosso inteiro conhecimento que o discurso publicitário vise sempre apelar à sensibilidade, mobilizar o desejo, induzir o potencial consumidor a optar por um determinado produto, mesmo que seja fatal e os seus argumentos são muitas vezes de natureza emocional, apela-se ao sentimento e a motivações de natureza inconsciente. Ser diferente, num mundo de semelhanças, é para muitos desses senhores publicitários – apologistas da magreza – uma definição e uma realização de uma estratégia, que torne únicos seus produtos mortíferos e serviços.

O cerne da questão é: pode o sujeito distanciar-se do mundo que observa desde criança e o seu conceito de beleza? Não sei...