MEU ROMANCE

MEU ROMANCE
O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MARIA GABRIELA ANTUNES - ESCRITORA ANGOLANA

Maria Gabriela Antunes Cardoso da Silva Antunes


“... Virei o cubo e vi o Sol. Sol GRANDE, bonito, amigo quente. Que eu conhecia tão bem por o ver todos os dias. Que eu conhecia tão bem porque era ele que aquecia o meu corpo, quando me estirava preguiçosa na areia dura, grossa e meiga da praia... Que eu conhecia tão bem. Mas afinal, eu não sabia que o Sol já tinha vivido com a terra na mesma casa. É verdade: há muitos, muitos anos, tantos que ninguém mais se lembra, o Sol e a Terra viviam juntos na mesma casa. Casa que era uma nuvem de gases. Devia ser bem lindo uma casa-nuvem-gás... Mas devido à tal força de gravidade que um cientista descobriu na nossa época mas que já existia no passado, a casa, ou seja, a nuvem contraiu-se... Contraiu-se tanto, que provocou uma série de fenómenos, fenómenos tais, que o hidrogénio, aquele corpo simples e gasoso que arde e existe na água, por exemplo, o hidrogénio que existia na casa do Sol e da Terra transformou-se em Hélio. Vocês sabem, aquele corpo muito simples, também gasoso que eu sei que se põe nos balões para eles subirem bem alto”.
Excerto da pág. 16, in «O Cubo Amarelo», UEA, 1991.
Maria Gabriela Antunes Cardoso da Silva Antunes, nasceu no planalto central, Huambo, a 8 de Julho de 1937. Em Lisboa fez o curso superior de Filologia Germânica, na Faculdade de Letras, em Dezembro de 1961, ano da grande efervescência nacionalista. Integrou o grupo da Casa dos Estudantes do Império. Em Angola, na sua terra natal, deu aulas de língua inglesa na Escola Sarmento Rodrigues. Em Luanda, fez a pós graduação (1973/74) em pedagogia e didáctica da língua Inglesa.
Foi Directora da Escola Vicente Ferreira/ 1º de Maio, onde leccionou português e Inglês e, paralelamente, também exerceu actividades docentes no Instituto Comercial de Luanda e num outro Colégio Vasco da Gama, sendo que para além das línguas já referenciadas leccionou também o alemão. Graças aos seus dotes intelectuais, em 7 de Março de 1983, é nomeada Directora da Biblioteca Nacional de Angola, e, simultaneamente, coordena o curso médio de jornalismo, cargo que acumula com a docência da cadeira de “Arte e Literatura Angolana” e Português.
Gabriela Antunes escolheu como opção a literatura infantil “porque não havia nenhum livro para elas que lhes falasse das suas coisas, das suas terras, belezas e gentes”. Sobre o que se deve escrever para crianças, na sua comunicação lida no Seminário Sobre Literatura Angolana, evento que decorreu de 21 a 25 de Junho de 1999, G.A. apresenta os seus conceitos sobre o que se deve escrever para crianças, começando por referir que qualquer "tema pode ser dado a uma criança: homens e bichos falando em conjunto, flores que dançam e se comportam como crianças, viagens fantásticas, sonhos, e o mar, a lua, a vida, a morte, o nosso mundo, o mundo dos outros... tudo pode ser dado a uma criança, desde que escrito numa linguagem simples, ilustrada e bem adaptada à idade da criança que lê e à sua realidade. O desenvolvimento do tema deve ter em conta a faixa etária e os conhecimentos do pequeno leitor, se quisermos que ele sinta prazer com o que lê (ou lhe contam) e possa interessar-se pelo livro"
“E numa tarde, o cágado que regressava de férias em casa do primo, viu que havia uma total mudança na sua mata. E foi ter com um grupo de mais velhos que falavam debaixo de uma árvore. Perguntou-lhes o que se passava. E ficou a saber tudo...tudo o que acontecera. E o cágado pensou. Pensou e depois disse-lhes: “Meus amigos, vocês já mostraram que não querem mais este rei. Já o castigaram. Já mostraram, também, que podem e sabem governar a mata. Todos em conjunto! Mas se deixarmos o leão morrer nestas condições, seremos tão cruéis como ele. Vamos dar-lhe água, comida e tratar dele. Depois mandámo-lo para um local onde ele ainda possa ser útil... Mas não devemos deixá-lo morrer assim. Isso não!... E todos concordaram com as palavras sábias do velho cágado que já conhecera três reis-Kibala, o rei-leão, o pai deste rei... e o avô deste rei...”.
Excerto in “Kibala o Rei Leão”, INALD, 1982.
Já na figura de ensaísta, Gabriela Antunes é peremptória ao afirmar que Manuel Rui foi o "primeiro a escrever e publicar para as crianças numa Angola independente.", e como prova apresenta o livro «A Caixa», um conto que traz à luz os conflitos internos: "...Kito, menino fugido à guerra da Kibala, onde o pai morrera e que se refugia num bairro suburbano de Luanda com a mãe, onde recebe de outras crianças as primeiras lições de solidariedade, amizade, amor e de política, até., mas já numa visão mais crítica a professora interroga-se se "uma linguagem popular com desvios a tudo o que é boa gramática portuguesa e que leva muitos a perguntar se devem escrever frases como «Mas o Kito, no tempo dele de quatro anos de idade uma hora é já tempo de fazer saudade...» em obras para crianças", e não deixa de perguntar se a "criança angolana fala assim?".
E sobre o seu próprio labor literário, com grande acento egocêntrico, a professora não deixou de falar sobre o seu espaço temático: "O desejo de um mundo melhor para todos, a vida em comunidade, o amor e respeito pelos outros, pela natureza e pelo livro", são os destaques na obra da professora.
Com angústia, a Gaby, como é chamada no circulo mais restrito dos amigos, conclui que "os pais não compram livros, as crianças não lêem e poucos, se nenhuns, são os professores que levam um livro para a escola, para com ele ajudarem a criança a criar hábitos de leitura".
Gabriela Antunes é docente universitária, professora do Instituto Superior P. De Angola (ISPRA), assessora do Ministério da Educação e Cultura e nos actuais órgãos de direcção da UEA (Nov/2001-Nov/2003) desempenha a função de Secretária das Relações Exteriores.
A Prof. Gabriela Antunes é poliglota, domina sete línguas diferentes, faz traduções simultâneas em conferências internacionais e de brochuras diversas.
GA, publicou em livro os contos “A Águia, a Rola, as Galinhas e os 50 Lweis” (1982), “Luhuna o Menino que Não Conhecia Flor-viva” (1983), “Kibala o rei Leão” (1983), “A Abelha e o Passáro” (1982), “O Castigo do Dragão Glutão” (1983), “O Jardim do Quim” conto incluído na colectânea intitulada Lutchila e Outras estórias (1985), “O João e o Cão” e por último o livro “Estórias Velhas Roupa Nova” (1988) e diversos contos infantis publicados nos jornais.
A ensaísta Maria de Fátima Medeiros, especializada em literaturas africanas de expressão portuguesa, sobre a sua obra «Luhuna o menino que não conhecia flor-viva» (folheto de apenas 15 pp.) tece as seguintes considerações críticas: “Mancha gráfica convidativa; texto leve, entre a voz do narrador e as falas de Luhuna, conta a estória de um menino que abandona a casa e a família para procurar algo - uma flor - que não conhecia, mas de que já tinha ouvido falar, nos livros. Parte assim em busca de um ideal, desse sonho que está sempre “longe, muito longe””, e mais longe vai na caracterização da escrita de Gabriela Antunes quando garante que o texto foi vestido “com roupagem simples de uma narrativa leve vamos descobrir uma preocupação da autora constantemente revelada: a mensagem social sempre presente, para lá de qualquer efabulação. Entre o saborear das palavras encontramos permanentemente a pedagoga, nesse querer abrir os corações dos mais novos para os ideais de uma sociedade em construção”,
Maria Medeiros sobre a peculiaridade da sua narrativa garante que é “feita de frases curtas, repetidas, dando ao conjunto um ritmo cadenciado, quase marcha, como o caminhar de Luhuna através do deserto. Um dos recursos estilísticos frequentemente explorados por Gabriela Antunes é o paralelismo”.
No texto curto «A Águia, a Rola, as galinhas e os 50 Lwei», primeiro texto narrativo da escritora membro da UEA, a ensaísta destaca a “relação do narrador/autor com o leitor. Gabriela interpela-o, fala com ele, ouve-lhe as perguntas, introdu-lo quase como outra personagem, atitude que vai repetir e alargar em O castigo do Dragão Glutão”, e sobre a linguagem a “autora mete-nos no texto, torna-nos actuantes, inquiridores da narrativa, partindo o leitor-personagem para desenvolver a sua-nossa estória… De novo e com maior apuramento estilístico damos conta do paralelismo permanente, na repetição cadenciada e em ritmo constante da chegada do dragão à aldeia, noite após noite… Recorrendo a uma linguagem bastante sensorial, a narradora dá-nos conta das noites calmas de luar, do calor e do frio que todos sentiram e do medo”
Maria Medeiros, em guisa de conclusão, remata que “Gabriela Antunes domina o português com mestria. Ao contrário de alguns escritores do seu país - como Luandino ou Manuel Rui - não o angolanizou. A norma europeia prevalece, apesar de, aqui e além, recorrer a algumas expressões regionais (mujimbos, fugi, bué), destacando-se o vocabulário onomástico”.

ANA PAULA RIBEIRO TAVARES - POETISA ANGOLANA






Ana Paula Ribeiro Tavares nasceu no Lubango, província da Huíla, a 30 de Outubro de 1952. Passou parte da sua infância naquela província, onde fez os seus estudos primários e secundários. Iniciou o seu curso de História da Faculdade de Letras do Lubango (hoje ISCED-Lubango), terminando-o em Lisboa. Em 1996 concluiu o Mestrado em Literaturas Africanas. Actualmente vive em Lisboa, onde lecciona na Universidade Católica de Lisboa, encontrando-se a fazer o seu doutoramento.
Sempre trabalhou ligada à área cultural, tendo actuado como profissional em diferentes áreas da cultura como a Museologia, Arqueologia e Etnologia, Património, Animação Cultural e Ensino. Participou em simpósios, congressos, comissões de estudo e elaboração de inúmeros projectos da área cultural. Foi Delegada da Cultura no Kwanza Norte, técnica do Centro Nacional de Documentação e Investigação Histórica (hoje Arquivo Histórico Nacional), do Instituto do Património Cultural.
“A Huíla desempenhou um papel particular em «termos» de cheiros, sons, cores, canções que me marcaram muito do ponto de vista estético. Essa era procura. Por outro lado, eu vivi esse tempo no limite entre duas sociedades completamente distintas – e talvez não tenha conseguido compreender nenhuma das duas. Por isso tentei reflectir e escrever sobre partes de uma e partes de outra que me marcaram fundamentalmente. A Huíla, tal qual era na minha juventude, era o limite entre duas sociedades bem distintas: a sociedade europeia – é uma cidade com muitas características europeias: uma cidade de planalto, onde faz frio, e verde... E, por outro lado, uma sociedade africana que era ignorada pela cidade europeia.” In: Michel Laban. Angola. Encontro com Escritores. Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 1991, II vol. p. 849.
É membro de diversas organizações culturais como o Comité Angolano do Conselho Internacional de Museus (ICOM), Comité Angolano do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), da Comissão Angolana para a UNESCO. É também membro da UEA.
Tem poemas escritos em diversos jornais e revistas angolanos e internacionais como em Portugal, Brasil, Cabo Verde. As suas obras publicadas são: Ritos de Passagem (1985), O Sangue da Buganvília (1998), O Lago da Lua (1999).
Ao falar sobre a “Literatura angolana no feminino”, Inocência Mata refere-se à “maturidade que a escrita etnograficamente ritualística de Paula Tavares expressa... desde o título, passando pela significação do texto pictórico da capa o macro-poema de cada obra anuncia um intenso lirismos – poesia lírica no sentido de conter uma experiência individual e uma subjectiva postura mental perante a realidade do mundo.” Mais adiante a crítica literária diz: “há um apelo à imaginação, pelo recurso a imagens sinestéticas (Mistura de imagens sensoriais, como na poesia de Paula Tavares, principalmente na citação de frutos para simbolizar as características femininas)...” In: Inocência Mata. Literatura Angolana: Silêncios a Falas de Uma Voz Inquieta. Lisboa, Mar Além, 2001, p. 113, 116.
Desossaste-me
cuidadosamente
inscrevendo-me
no teu universo
como uma ferida
uma prótese perfeita
conduziste todas as minhas veias
para que desaguassem
nas tuas
sem remédio
meio pulmão respira em ti
e outro, que me lembre
mal existe
Hoje levantei-me cedo
pintei de tacula e água fria
o corpo acesso
não bato a manteiga
não ponho o cinto
VOU
para o sul saltar o cercado
Poema “Cerimónias de Passagem”. In: Paula Tavares. Ritos de Passagem. Luanda, União dos Escritores Angolanos, 1985, Cadernos Lavra & Oficina, 55, p. 30.
“A lírica de Paula Tavares reunida (incompletamente) em «Ritos de Passagem» coloca, logo desde esse título, o problema da feminilidade e, com ele, o problema de uma literatura feminina. Metaforicamente falando nos serve, também, para estudarmos a ‘passagem’ da literatura ainda formada no regime colonial à de poetas amadurecidos após a independência do país. Mas, ao apelar para tradições locais (e do Sul, neste caso), o verso da Paula Tavares reinsere-se clara e assumidamente na linha de cruzamento dos discursos «ocidentais» (da Europa e Estados Unidos, em primeiro lugar) com os africanos.” In: Francisco Soares. Notícia da Literatura Angolana. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001, p. 250.

ANA PAULA  prepara um doutoramento em

História.

Em Angola publicou Ritos de Passagem

(poemas),UEA, 1985.

Em Cabo Verde, Praia, O Sangue da

Buganvília, Crónicas 1998.

Na Editorial Caminho, Lisboa, publica O Lago da Lua, (poemas, 1999), Dizes-me coisas amargas como os frutos (poemas) 2001; Ex-Votos (poemas), 2003.

Em 2005 o romance Os Olhos do Homem que Chorava no Rio.

Tem participação com poesia e prosa em várias Antologias

em Portugal, França, Alemanha, Espanha, Brasil.

Publicou alguns ensaios sobre História de Angola.

Em 2004 foi-lhe atribuído o Prémio Mário António (para Poesia)

da Fundação Calouste Gulbenkian.








AMARGOS COMO OS FRUTOS




“Dizes-me coisas tão amargas como os frutos...”

Kwanyama



Amado, porque voltas



com a morte nos olhos

e sem sandálias

como se um outro te habitasse

num tempo

para além

do tempo todo



Amado, onde perdeste tua língua de metal

a dos sinais e do provérbio

com o meu nome inscrito



onde deixaste a tua voz

macia de capim e veludo

semeada de estrelas



Amado, meu amado

o que regressou de ti

é a tua sombra

dividida ao meio

é um antes de ti

as falas amargas

como os frutos




In Dizes-me Coisas Amargas como os Frutos, 2002







O LAGO DA LUA




No lago branco da lua
lavei meu primeiro sangue
Ao lago branco da lua
voltaria cada mês
para lavar
meu sangue eterno
a cada lua

No lago branco da lua
misturei meu sangue
e barro branco
e fiz a caneca
onde bebo
a água amarga da minha sede sem fim
o mel dos dias claros
Neste lago deposito
minha reserva de sonhos para tomar


In O Lago da Lua, 1999



A ABÓBORA MENINA



Tão gentil de distante, tão macia aos olhos
vacuda, gordinha,
de segredos bem escondidos
estende-se à distância
procurando ser terra
quem sabe possa
acontecer o milagre:
folhinhas verdes
flor amarela
ventre redondo
depois é só esperar
nela desaguam todos os rapazes.

In Ritos de Passagem, 1985


Ana Paula Tavares (Angola)



Galardoada com o Premio Nacional de Cultura e Artes, Edicao de 2007 com o livro "Manual para Amantes Desesperados"


ANTERO ALBERTO ERVEDOSA-ESCRITOR ANGOLANO







A quem direi quem és e o que queres
Senão ao sol à chuva, ai, senão
À queimadura ao verme aos malmequeres
A quem direi, enfim, vê se não
é verdade que tudo o que disseres
volta à ponta do fio do balão
quer buscava em vão amanheceres
entre as névoas, o frio do tufão
que soprava violento mas seguro
assim tu o pensavas, gentile-zas
que nós nos damos e vê
como o passado trai o que é futuro
e o que pensavas só felicidade
ainda busca direitos de cidade
A Quem Direi. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p.29


Antero Alberto Ervedosa de Abreu é o nome completo de Antero de Abreu, nascido em Luanda a 22 de Fevereiro de 1927. Fez os seus estudos primários e secundários em Luanda, tendo concluído o liceu nessa cidade. Partiu em seguida para Portugal para estudar direito, primeiro em Coimbra e posteriormente em Lisboa, onde terminou o curso. Enquanto estudante em Lisboa foi dirigente da Casa dos estudantes do Império – CEI, sendo membro da geração da Mensagem.
“Tem-se dito e redito que de cada geração fica meia dúzia de poetas e de cada poeta meia dúzia de poemas, exumados em antologias. Se assim tiver de acontecer com algumas poesias deste e do outro livro, a unidade deles pouco interessará, afinal.” Palavras do escritor sobre a sua escrita. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p.7
Após a sua formação exerceu advocacia em Luanda, tendo sido após a independência Procurador-geral da República, cargo que exerceu durante vários anos e posteriormente Embaixador da República de Angola na Itália. Actualmente reside em Portugal por questões de saúde.
Enquanto estudante foi membro do Cineclube de Luanda, escrevendo crítica de cinema na revista Prisma. Como advogado durante o tempo colonial foi membro activo no incremento associativo e cultural de Luanda, integrado no Departamento cultural da Associação dos Naturais de Angola – ANANGOLA. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos.
Era o tempo da rua despovoada
Escorria das paredes o musgo do abandono
E o esquecimento gotejava as horas
Sob o charco empedrado do silêncio
Era o tempo dos crepúsculos baixos
Das janelas neutras e cerradas
Era o tempo do cágado
(Morena veio à porta e
Viu o cágado
Atravessar a deserta rua
Silencioso, incógnito e determinado
Entre os perigos inexistentes)
Era o tempo em que a presença dum cágado
Preenchia a humana e inquieta solidão
Extractos do poema “Era o tempo”. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p.15
Os seus primeiros poemas foram publicados no Meridiano Boletim da Casa dos Estudantes do Império em Coimbra. Os seus poemas e contos encontram-se publicadas em diversas revistas e páginas literárias tais como: Mensagem (CEI), Via Latina, Mensagem (ANANGOLA), Cultura (II), ABC, A Província de Angola, Itinerário, Vértice, e outras mais.
Também possui textos publicados em algumas antologias: Antologia Poética Angolana (1950), Poetas Angolanos (1959), Antologia Poética Angola (1963), Mákua, III (1963), No Reino de Caliban. Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa.
As suas obras publicadas são: A tua Voz Angola (1978), Poesia Intermitente (1978), Permanência (1979), Textos sem Pretexto (1992).
Antero de Abreu é considerado por Francisco Soares um dos escritores mais ligados à mentalidade formadora dos autores da revista Mensagem. A sua lírica “revela um sentido do ritmo (rima) diferente do dos seus companheiros, bem como uma intensificação e uma variedade maiores no uso dos recursos retóricos e nas relações intertextuais que constroí.” Sobre os poemas escritos na época do liceu, este crítico diz que: “eram os únicos a revelar uma amadurecida absorção do verso e da estrofe modernistas.” In: Francisco Soares. Notícia da Literatura Angolana. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001. Colecção Escritores dos Países de Língua Portuguesa, n.º 22, p.195.
Da flor o vulto
Da pedra o sumo
Do sonho o húmus
Do sono o fumo
Extracto de “Prisão”. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p. 14.