De onde vem essa mulher que bate à nossa porta 500 anos depois? Reconheço esse rosto estampado em pano e bandeiras e lhes digo: vem da madrugada que acendemos no coração da noite.
De onde vem essa mulher que bate às portas do país dos patriarcas em nome dos que estavam famintos e agora têm pão e trabalho? Reconheço esse rosto e lhes digo: vem dos rios subterrâneos da esperança, que fecundaram o trigo e fermentaram o pão.
De onde vem essa mulher que apedrejam, mas não se detém, protegida pelas mãos aflitas dos pobres que invadiram os espaços de mando? Reconheço esse rosto e lhes digo: vem do lado esquerdo do peito.
Por minha boca de clamores e silêncios ecoe a voz da geração insubmissa para contar sob sol da praça aos que nasceram e aos que nascerão, de onde vem essa mulher.
Que rosto tem, que sonhos traz? Não me falte agora a palavra que retive ou que iludiu a fúria dos carrascos durante o tempo sombrio que nos coube combater.
Filha do espanto e da indignação, filha da liberdade e da coragem, recortado o rosto e o riso como centelha: metal e flor, madeira e memória.
No continente de esporas de prata e rebenque, o sonho dissolve a treva espessa, recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho, afasta a força que sufoca e silencia séculos de alcova, estupro e tirania e lança luz sobre o rosto dessa mulher que bate às portas do nosso coração.
As mãos do metalúrgico, as mãos da multidão inumerável moldaram na doçura do barro e no metal oculto dos sonhos a vontade e a têmpera para disputar o país. Dilma se afarta da luz que esculpiu seu rosto ante os olhos da multidão para disputar o país, para governar o país. Nasce uma nova aurora:
BOM DILMA!!!
Pedro Tierra |