MEU ROMANCE

MEU ROMANCE
O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


sábado, 3 de outubro de 2009

A imagem é de um livro alemão de educação infantil

A EDUCAÇÂO SEXUAL DOS NOSSOS ADOLESCENTES

É sabido que as deficiências educativas dos nossos adolescentes são inúmeras e talvez o desfazamento entre a informação e a educação tenha hoje tendência para se acentuar. Ora, entre uma e outra existem grandes diferenças. A primeira exerce-se no plano intelectual, elucida sobre a estrutura anatomo-fisiológica da espécie humana e dirige-se, como que anonimamente, à inteligência. A segunda, ao invés, exercer-se no plano afetivo e moral e dirige-se à personalidade e consciência na sua intimidade.

É certo que a primeira é frequentemente negligenciada - muitos adolescentes, de ambos os sexos, acolhem com apreensão a sua própria puberdade. No entanto, nos nossos dias, muitos fatores concorrem para a informação: a liberação dos costumes, o espetáculo da rua, a preocupação de alguns pais e a Escola, contribuem muitas para isso, direta ou indiretamente. E esta difusão crescente da informação representa um progresso indiscutível. Mas isso não basta. Há também necessidade de uma educação que integre a informação na personalidade do individuo e lhe permita assimilá-la. Quanto maior e mais precoce for a informação, mais exige uma educação. Ora, é permitido pensar que muitos desconhecem a distinção dos dois domínios. Todavia, para que a educação sexual seja possível, impõe-se duas condições: em primeiro lugar, é necessário que exista entre o educador e o educando um entendimento suficientemente simples e confiante para que se possa estabelecer um diálogo que incida em questões reais; há igualmente necessidade da existência de um acordo, pelo menos virtual, entre eles sobre valores morais. A família, que seria o local ideal para essa educação, não a pode assumir se as citadas condições não forem satisfeitas. É por essa razão que a instituição escolar pública está mais bem situada para a informação do que para educação, devido a um estatuto que deveria proibir o corpo docente de impor uma moral qualquer ou rejeitar outra. Mas, hoje em dia, a precariedade de todo o acordo, o esboroamento das idéias em todos os domínios e, sobretudo, a incerteza de cada um perante convicções dantes bem arraigadas e solidamente reafirmadas são de tal ordem, que se tornou cada vez mais difícil satisfazer essas condições de assegurar semelhante tarefa, o adolescente se encontra só e sem possibilidade de diálogo, a não ser com companheiros aos quais se deparam com os mesmos problemas. A puberdade precoce também se reveste de incidências gerais sobre a personalidade no seu conjunto, na medida em que provoca uma maturação psicológica mais rápida. É só ficarmos atentos à propaganda televisiva que se esta fazendo sobre um lançamento de um livro sobre sexo, numa hora imprópria, que diz: faça sexo gostoso... É bom para todas as idades... O meu filho de cinco anos já me perguntou se também podia fazer sexo! Pai, é para todas as idades... Não ouviu na televisão? Essa maturação psicológica mais rápida que me referia, faz haver atritos com os adultos, porquanto o adolescente é levado a reivindicar rapidamente formas de autonomia que outrora, só mais tarde eram desejadas ou reclamadas.

Compreende-se, pois, o espanto das gerações anteriores que têm a recordação de só haver sentido ou manifestado muito mais tarde os comportamentos, atitudes e sentimentos que hoje detectam nos indivíduos cuja idade civil levaria a considerar ainda crianças. Esta surpresa, que se transforma em confusão, surge com nitidez na vida familiar, onde o assombro por notar tão cedo as características da adolescência e os sintomas da sua crise. Também se manifesta no meio escolar. Quando a puberdade surgia mais tarde e a escolarização era mais breve, os alunos eram essencial e quase exclusivamente crianças. Hoje elas cresceram mais depressa e contribuem para aumentar a massa de adolescentes e o volume de reivindicações, nomeadamente em matéria de orientação e de formação profissionais, de tempos livres e, de um modo geral, de integração na sociedade. Houve quem afirmasse que se situava aí uma das causas da delinquência. De qualquer modo, concebe-se bem o sentimento de revolta que provoca a impressão de ser tratado, mais segundo a sua idade civil do que em conformidade com a idade biológica, por educadores que não discerniram as modificações. Importam, pois, que estes últimos saibam adaptar-se à situação, cujos aspetos novos não descortinam suficientemente.

Há, entre a criança e o adulto, diferenças sólidas, “A criança” dizia Rousseau, “tem maneiras de ver, pensar e sentir que lhe são próprias, e não há nada tão insensato como pretender substituí-las pelas nossas”.

In “Palmensis Mirabilis” de João Portelinha