Desde muito jovem pensei em arranjar uma nau cujos tripulantes fossem todos representantes dos povos colonizados por Portugal... Que estivessem todos eles muito bem caracterizados, com a indumentária e apetrechos de cada cultura representada; com tangas, flechas, zagaias, com rostos e corpos pintados, etc. Zarpassem rumo a Portugal com a imprensa internacional e local presentes! Debaixo de holofotes e de toda aquela azáfama, colocassem então, na margem do rio Tejo, um padrão enorme, em nome dos seus povos... Tudo isso, como se tivessem de facto, descoberto Portugal! Foi sempre esse o meu grande sonho! Sou daquele tipo de pessoa que sofre até terminar um simples projeto de vida. Por isso a questão de como concretizá-lo perseguiu-me por mais de 30 anos! Hoje de madrugada, quando coloquei a última versão do original deste livro sobre a mesa da sala de estar, percebi que ele me fez sentir como se eu tivesse realmente posto em prática aquele meu plano de infância, de “vingar-me dos colonizadores” e “descobri-los”, também! Na impossibilidade de fazê-lo, da forma como sempre preconizei, por falta de dinheiro, agradeço a Nzumba, personagem principal do meu romance, por ter conseguido “descobrir Portugal” do jeito que eu sempre quis! Obrigado Nganga Nzumba!
“Dom Nganga Nzumba por graça de Deos Rey dos Palmares e Príncipe do reynno do Ndongo. Faço saber aos que esta minha Carta Patente virem, que descobri Portugal e que por firmesa de tudo lhe mandey passar por duas vias, por my asinada e sellada com sello grande de minhas armas. Dada na Cidade de Lisboa a vinte e sinco de Setembro anno do nassimento de nosso Senhor Jesus Christo de Mil e seiz centos e oitenta quatro: El Rey - Nganga Nzumba”.
Muitos anos depois... Um dos descendentes mais ilustres de Nganga Muiza e da etnia queniana Luo, elege-se primeiro presidente negro da maior potência do mundo
In O dia em que um Ngola descobriu Portugal