MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


sexta-feira, 21 de maio de 2010

ANIVERSÁRIO DE PALMAS

       Aniversário de Palmas

Há exatos vinte e um anos, foi lançada a pedra fundamental de Palmas, que reuniu na Praça dos Gerassóis centenas de pessoas. Porém, somente no dia 1 de janeiro de 1990 é que Palmas assumiu sua função de capital do estado do Tocantins. As cidades têm sua própria personalidade, espírito autônomo, um caráter quase exteriorizado que corresponde à alegria, ao amor novo, à renúncia, à viuvez. Para mim tem significado de amor novo! Toda cidade é um estado de alma e basta demorar-se nela um pouco para que o estado de alma se comunique, nos propague num fluído que inocula e se incorpora com nuança do ar. Talvez por isso, quando um amigo nosso, mesmo sem termos muito contato anterior, sentimos imediatamente sua ausência. O maior poeta de Tocantins, Osmar Casagrande, também corrobora com essa tese. Aliás, eu é que corroboro com ele, porque a tese é dele!
         Jean Cocteau, diz-nos que para conhecer uma cidade, é imperioso vivermos nela três dias ou trinta anos. Ao final dos trinta anos, verifica-ser que o julgamento que fizemos sobre a mesma após os três dias é que era certo· Como estou mais de três dias e menos de trinta anos, poderei dar aqui o meu testemunho sobre a nossa linda capital. Geralmente, nestas ocasiões, pedem-me sempre uma entrevista ou qualquer coisa do gênero. No entanto, não sei por que cargas de água, desta vez a imprensa não me entrevistou! Eu não vou perder esta oportunidade histórica e por “vingança” vou me entrevistar:

JP – Por que mora em Palmas?

- Simplesmente porque amo Palmas... Sua gente, tranquilidade, paisagens belas, monumentos, arborização, o ambiente vegetativo da cidade, mulheres lindas, as chuvas... Que me desculpem os grandes poetas da nossa urbe porque é fácil ser poeta numa cidade assim!


JP – Chuvas?

Sim. A chuva é vida em Palmas, ao contrário das que desabam noutras paragens – onde arrastam, destroem, humilham e onde são recebidas com desconfiança pela população por tumultuar a vida, onde o habitante só de pensar que daí em meia hora pode quem sabe a bordo de uma canoa, com as suas tralhas, embusca de porto seguro, talvez na próxima esquina... Em Palmas é diferente, ela é alegria, é a esperança, fartura, é exuberância, é calma... É uma promessa de primavera – que toda gente adora. Ela começa de madrugada e nos inunda o coração, a existência se exalta, as tensões diminuem e o futuro dá uma piscadela marota prometendo amanhãs melhores para a cidade. Sabe o que é bom mesmo?

JP – Diga, por favor?

 É de manhã quando abrimos as janelas dos quartos e respiramos a gostosa lufada de ar puro e úmido enriquecidas pelo cheirinho da terra molhada que antes era seca, esturrecida pela estiagem. De repente como um milagre... As árvores da nossa capital ficam todas floridas. Os pássaros pulam de haste em haste nos pomares repletos de frutas, algumas do cerrado; mangabas, cajueiros, etc. Os jardins ficam perfumados, cujo florir sempre festejamos e é sempre um pretexto para a poesia, uma ocasião propícia  para os gênios da poesia como José Gomes e Osmar Casagrande! Em fim, morar em Palmas é um privilégio... 

JP – Mas José Gomes já morreu?

- Os poetas nunca morrem!

JP – Você diz que é um privilégio morar em Palmas, por quê?

 Ao mesmo tempo e por razões já bastante conhecidas, morar aqui é um privilégio: não há um nível elevado de violência, não há poluição, o transito é, de certa forma, civilizado, Muito verde, grandes avenidas, parques, quadras bem estruturadas, quadras de esportes os mais diversos, policiamento eficaz. Esta tranquilidade chega até a incomodar o nosso forasteiro acostumado à tensão urbana cotidiana. É um bom lugar para trabalhar e estudar... Palmas tornou-se uma cidade universitária! Com tudo isso, o resultado é uma paisagem urbana que termina por atender perfeitamente aos anseios de uma ecologia....

JP – Atender a uma ecologia empedernida que chega a dar urticária em um urbanoíde radical!

- Por que você diz isso?

 JP - Digo isso pela quantidade de espaços vazios por razões diversas, e servidas por um sistema de infra-estrutura urbana de primeiríssima qualidade choca algumas pessoas... E a questão da identidade de Palmas?
Para mim, é uma qualidade da cidade e não é defeito! Quando você fala em espaços vazios certamente se refere ao fato de haver espaços que não têm casas e têm árvores, plantas... Isso é uma qualidade da nossa cidade. No entanto, com isso temos um problema: a cidade é grande, com grandes espaços com uma infra-estrutura urbana de primeiríssima qualidade e pouca gente para pagar o IPTU. É por esta razão que o Prefeito tinha proposto o seu aumento... Viver numa cidade assim fica caro para o poder público. Alguns só não entenderam isso por questões eleitoreiras...
         Sobre a segunda questão da pergunta... Quase ninguém é de Palmas... Uma cidade de vinte e um anos de vida é suficientemente jovem para ter uma de identidade cultural própria. Ao mesmo tempo, essa “falta de identidade!” é por enquanto sua marca registrada. As pessoas que aqui chegam encontram moradores de todas as partes do país e até do estrangeiro... No entanto, já estamos tendo alguns lugares de diversão, ações culturais, lugares comuns e tudo isso acaba por formular um discurso homogêneo sobre a cidade, transformando numa marca própria. Entretanto, vinte e um anos já representam alguma coisa na vida das pessoas. Algumas gerações já nasceram e se criaram aqui. É daí, que certamente, nascerá à verdadeira identidade palmense. Palmas já nasce importante também por isso!
 
JP - Existe alguma relação com Brasília?

- Brasília nasceu mística. Há muito tempo profecias e visões envolvem a cidade, segundo sua história. Partindo de uma cidade que foi antevista e apontada... Cheia de energia, carregada de uma série de coisas... Uma providência divina a “terra prometida”, a ”a cidade profetizada”, “a civilização do terceiro Milênio”, “o Chakra do planeta”. Palmas não foi feita com base em nenhuma profecia ou alguma previsão mística!  Agora, existem algumas similitudes para além do fato de serem cidades planejadas! O Rio de Janeiro, então Capital e possuidora de uma cultura popular bastante diversificada e valorizada pela mídia, era síntese da identidade nacional. São Paulo, com seu poderio econômico, simbolizava a modernidade que o país procurava e procura, nas referências ditadas por padrões internacionais. Recife e Salvador, como espaços sínteses da regionalização e da diversificação cultural do país, apareciam como guardiães de uma certa autenticidade da nação. O Sul como “santuário” da raça branca desejada pelas elites... A Amazônia, vista como uma reserva, era um espaço desconhecido, defendida mais como uma questão de orgulho nacional. Brasília e Palmas rompem com esse status quo. As criações destas duas cidades e suas consolidações recolocam a questão do território nacional num outro patamar. As duas cidades criaram um espaço social original, onde à mistura de culturas regionais, determinam as características das vidas das duas cidades. A pesar de restritas no tempo, a história que nelas se constrói indica um processo de intensidade de riqueza e originalidade. À ausência de uma importante classe operaria industrial - responsável tradicional pelo crescimento original das grandes cidades – contrapõe-se uma cidade com classe operária inexpressiva, incapaz de definir uma cultura local própria. Em seu lugar, instaura-se um sector terciário, predominantemente moderno, com pouca margem para o tradicional... Com boas escolas, boas universidades, hospitais, bibliotecas, muitas ações culturais... Em vez de uma burguesia - tradicional ou oligárquica – ciosa de seus espaços de poder, tem-se uma burocracia, moderna em suas funções e na prática de gestão pública, com gestão participativa, escolas em tempo integral, etc. Nós já nascemos modernos e sem vícios da outras capitais!


                   João Portelinha

Presidente da Academia Palmense de Letras