MEU ROMANCE

MEU ROMANCE
O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O SENTIDO DA AMIZADE E O VIRA- LATA DE OBAMA

Uma jornalista perguntou ao Presidente Obama se levaria um cachorro para a Casa Branca! Pareceu-nos uma simples brincadeira da jornalista. Na verdade, é uma tradição dos presidentes americanos fazê-lo. Um dos primeiros mandatários da Casa Branca levou um, alegando que um presidente precisava de um verdadeiro amigo! Os cachorros sempre roubam a cena após a decisão eleitoral presidencial dos EUA. As filhas de Obama, já haviam expressado que queriam um ”goldendoodie” mistura de raças golden retrivier com poodle. No discurso da vitória, Obama diz que vai levar um filhote de um vira-lata, como ele, brincou... Já o ex-presidente José Sarney escreveu um livro sobre sua experiência presidencial onde nos confidência que os presidentes são as pessoas mais solitárias que existem...Provavelmente, sejam estes, apologistas, da famosa frase de Jorge Eliot: os animais, sim, são amigos agradáveis, não fazem perguntas, não criticam e não contam as “criticas” que ouvem... Na verdade, o ser humano precisa de amizade, de camaradagem, de compreensão, mesmo que sejam dos nossos prestáveis caninos. Se a compreensão é insuficiente e a amizade demasiado difícil, há em nós uma espécie desencanto... O que é amizade, o que é camaradagem? Apesar das flutuações da terminologia, há profundas diferenças entre camaradagem e amizade. Uma pessoa não escolhe os seus camaradas – são proporcionados pelas circunstâncias -, mas escolhe seus amigos. Aprendi isso depois de velho! As leis da camaradagem emanam de uma certa moral e são garantidas pela pressão social, mas a relação amigável é efetiva e sentimental, implica um tipo de comunicação que comporta a confiança recíproca, o desejo de compreensão afetiva, pelo menos parcial da personalidade de outrem. A camaradagem estabelece-se, em situação igual, com todos aqueles que se encontram com regularidade no mesmo espaço ou lugar, mas desaparece a partir do momento em que o motivo do encontro deixa de se apresentar. Ao invés, a amizade, mesmo quanto nasce no emprego, na política, sobrevive a esta, cria oportunidades de encontros, continua através do tempo. Eventualmente, o correio, telefone ou a Internet faculta a aproximidade espacial. Nós podemos revelar a um amigo o que não nos atreveríamos nem desejaríamos dizer a qualquer outra pessoa. É a noção de intimidade que a define: as personagens interpretadas em público são ultrapassadas e tende-se para a veracidade das atitudes e sinceridade das palavras. Espera-se dela um reconforto nos dissabores, um encorajamento por ocasião das dificuldades. Compreende-se, pois, o motivo pelo qual um individuo aspira e deseja a amizade, e sofre se não a encontra. Mas quando se espera demasiado dela, tal exigência pode constituir-se por vezes na sua própria ruína. Idealista que somos, exageramos as possibilidades de compreensão recíproca que ela permite. Se há amizades que persistem e se consolidam, também existem as que se deterioram ou se esgotam. Nesses casos, o individuo ou deixa de “acreditar na amizade” ou procura por outras. Postula a “verdadeira amizade” para além da que atualmente experimenta e da qual exige demasiado para que ela possa dar tudo o que lhe parecia prometer. Todavia, mesmo quando redunda numa decepção, a experiência é positiva, porquanto, permitindo permutas, suscita uma certa reflexão de si próprio, dos defeitos, virtudes se as houver e, finalmente, ajuda a compreensão dos outros. Amigos não são aqueles que nos adulam apenas quando somos seus chefes e ao deixar de sê-lo, quase sempre nos olvidam e até, por vezes, nem nos cumprimentam. Sensato é não confundirmos conhecidos por amigos. A verdadeira amizade é tão preciosa, que só a um reduzido número de pessoas confiro hoje esse privilégio e, a um cachorro vira-lata que possuo, mesmo antes de Obama. A propósito, o terrier de Buch, Barney, ao deixar a Casa Branca (daí a raiva?...), mordeu o repórter, da Agência de Notícias “Reuters”, durante a caminhada presidencial no dia 7 de novembro! Não dizem, por aí, que os cachorros se parecem sempre aos seus donos... Então? Não foi sem razão, que o filósofo da antiga Grécia, em pleno dia, com um lampião nas mãos, procurava um verdadeiro amigo. Não seria mais fácil “arrumar” um amigo vira-lata? Antes que me esqueça...O cão de Obama é português!

A CULTURA POLÍTICA

Tem-se discutido muito o que seria cultura política. Geralmente pensa-se que quem o tem é um papa em política. Cultura política é sobretudo um conjunto de atitudes políticas. Uma atitude é uma disposição ou preparação para atuar de uma maneira de preferência a outra. É, digamos, a probabilidade do aparecimento de um comportamento determinado em certo tipo de situação. Sendo assim, as atitudes políticas seriam, portanto, predisposições, propensões subjacentes, para reagir de certa forma em face de certas situações políticas. Por exemplo, o racismo é uma atitude: em face de certas situações, provocará certos compartimentos. As atitudes políticas possuem três tipos de componentes: cognitivos: são os conhecimentos, o que se sabe – ou o que se crê saber – sobre instituições, os partidos, os dirigentes políticos, etc., e que predispõe uma pessoa a reagir desta ou daquela maneira. Componentes afetivos relacionam-se com os sentimentos: para lá do julgamento racional, manejam os sentimentos de atração ou repulsão, de simpatia ou de menosprezo, etc. é sobre tais forças que se alicerçam a personalização do poder, os laços que ligam a notabilidade local à sua clientela. Componentes avaliativos ou normativos se relacionam com os valores, as crenças, os ideais e as ideologias, subtendem, também os comportamentos políticos. Isto quer dizer, a cultura política é, portanto, ao mesmo tempo o que se sabe, o que se sente, e o que se crê. Conforme domine este ou aquele componente, a cultura política será mais ou menos secularizada. A secularização política é um processo pelo qual os indivíduos se tornam cada vez mais racionais, analíticos e empíricos na ação política. A razão toma ascendente sobre a paixão e sobre a ideologia. Podemos dizer sem receio de erramos que o julgamento racional dos tocantinenses tem aumentado. O voto do povo tem sido mais consciente. No entanto, para complicar mais o assunto, diríamos que existem três tipos de cultura política: a cultura paroquial, a cultura de sujeição e a cultura de participação. Na cultura paroquial (parochial) os indivíduos são pouco sensíveis ao sistema político global, ao conjunto nacional. Para estes, é mais importante votar no amigo, independentemente da sua cor partidária ou ideológica. Votar num líder político local do que votar em presidente. Ignoram o país e olham, sobretudo para um subsistema político mais limitado: o seu município ou estado. Esta característica marca acentuadamente muitas regiões do país. Onde, neste caso, a cultura política nacional, de inicio, é frequentemente apenas uma justaposição de culturas locais, de subculturas. Subculturas são, no âmbito da sociedade global, conjuntos específicos, distintos, de atitudes. Esta fragmentação da cultura política em subculturas políticas distintas constitui um dado frequente nos sistema em desenvolvimento. No entanto, o horizonte excede geralmente este ou aquele subsistema local e alarga-se ao sistema político inteiro, ao quadro nacional. Mas, a este nível, é necessário distinguir ainda dois tipos de cultura. A cultura de sujeição: conhece-se a existência do sistema político, tem-se consciência dele, mas fica-se passivo ao seu respeito, considerando como exterior e superior. Esperam-se benefícios (serviços, prestações, prendas, compensações, lotes, gasolina, emprego, caixão, medicamentos, etc.). Em contrapartida, na cultura de participação os sujeitos tornam-se verdadeiros participantes, verdadeiros cidadãos. Acham que devem atuar sobre o sistema político, orientar ou inflectir a sua ação por diversos meios: eleições, manifestações, petições, etc. Gostaria de lançar um repto aos meus eleitores... Que mandassem para o meu e-mail o tipo da cultura política do nosso estado e depois eu faria uma crônica sobre o resultado... Aceitam o desafio?

Todos nós somos munícipes

A busca da eficiência na administração municipal, e, sobretudo a busca de soluções criativas, que maximizem e tornem duradouro o impacto dos recursos disponíveis e o máximo envolvimento possível da comunidade na formação e na execução dos projetos, que dessa forma passam a contar com o apoio e a efetiva colaboração de seus futuros beneficiários. A consciência, hoje generalizada no país, de que teremos de correr contra o tempo para melhorar o mais breve possível as nossas condições sociais e o que toda reforma municipal deve propiciar aos seus munícipes.

O regime democrático, e com ele a crescente confiança na descentralização, e o estímulo à participação são ingredientes fundamentais na revolução municipal que se configura no Brasil. Foi preciso voltar ao regime democrático – após anos e anos de abertura, de debates e mais debates, e de formação e afirmação de inúmeras organizações independentes – para que as peças começassem a se encaixar. Ultrapassada a fase da construção do Estado (nos anos 20 e 30) e da obsessão industrializante (dos quarenta aos setenta), parece que chegamos a uma nova fase, cujo leitmotiv é a democracia, que por sua vez traz à tona e fortalece uma concepção distinta a respeito do município e do Governo Municipal.

Mesmo nesta formulação, porém, faltam algumas peças da engrenagem que me inclino a ver como revolucionária. Sendo essencialmente o cumprimento da Lei da Responsabilidade Fiscal que muitos prefeitos não cumprem. De qualquer modo, somos todos munícipes e cada vez mais, felizmente, estamos tendo mais confiança no Município. Com descentralização – e com a Constituição de 1988 que daria expressão a esse anseio -, essa tendência ganhou mais força na medida em que se associou a outras transformações importantes.

Primeiro, a transformação demográfica, isto é, ao gigantesco deslocamento da população, do meio rural para as cidades. Há cinqüenta anos éramos 75% rurais e 25% urbanos, hoje, somos o oposto. Com essa mudança, nos vimos diante de uma realidade completamente distinta. Uma demanda por serviços que não mais podia ser ignorada ou subestimada. Surgiu, digamos assim, um mercado político-eleitoral de grandes dimensões, capaz de produzir efeitos muito coordenados, embora impessoais, recompensando com o seu apoio os prefeitos que fizeram algo útil e punindo os que se mostrarem insensíveis ou inertes frente a essas novas necessidades. Surgiu, também, uma nova consciência da tragédia social brasileira.

Divergências sobre a questão social continuam a existir, e claro, mas hoje elas dizem respeito a prioridades e métodos, e não ao problema em si.

conservadores como os de antigamente, daqueles que achavam que a pobreza era um destino ordenado por Deus, ou que a sociedade era a deveria continuar formada por castas hierarquizadas segundo algum princípio fixo da natureza – conservadores desse tipo já não existem mais entre nós.

No decorrer das duas últimas décadas, com a urbanização, o aumento da criminalidade, a insegurança, o temor de nossa inviabilidade como economia moderna e competitiva, e a vergonha a que continuamente somos expostos no cenário internacional por causa de nossa renda mal distribuída, está mudando e a maneira como concebíamos a pobreza e as distâncias sociais, também. As transformações acima lembradas convergem cada vez mais no sentido de uma nova concepção do município e de um novo entendimento de seu potencial como instrumento de política social.

Falta, entretanto, ou faltava, até recentemente, um importante canalizador para que se possa dar essa tendência como firmada e irreversível. Faltava o teste da realidade. Era preciso que um bom número de prefeitos e vereadores, em municípios grandes e pequenos, em diferentes regiões, independentemente de sua cor partidária, demonstrassem que estão com os olhos bem abertos, dispostos a procurar soluções novas e renovar métodos, e, sobretudo capacidade de granjear a confiança de suas respectivas comunidades como de resto tem feito e muito bem a Prefeitura de Palmas na gestão atual. ( a foto é de Fernando Alves)

AS DUAS MÃES DE RITINHA

Ritinha, como vai a tua mãe? Qual delas? Responde. Depois explica que tem duas mães: a mãe-mãe (progenitora) e a mãe-avó (avó que a esta criando). Ter uma já é muito bom... Imaginem duas! A família atual assumiu novos contornos: não existe mais tempo para o convívio entre filhos e pais, que assumiram o trabalho fora de casa em tempo integral, o número de filhos foi reduzido; o chefe de família cedeu lugar à igualdade do casal na administração do lar, em conjunto com os próprios filhos, cujos papéis também se transformaram por meio da efetiva participação nas decisões familiares; com o Estado laico o casamento religioso passou há ter menos importância que o casamento civil. Atualmente nem este último tem tanta importância assim... Se hoje os papéis familiares já não são os mesmos do passado, não se pode falar, também, em modelo familiar único. Já que muitas são as hipóteses familiares e tantos são os exemplos que a realidade vem manifestando. Dentro dessa perspectiva os papéis familiares foram se alterando. Nem sempre há correspondência, hoje, entre o papel típico e o personagem que o protagonizou. O papel da mãe pode eventualmente ser desempenhado pela avó ou por uma tia. È por essas e outras que surgem coisas curiosas como, por exemplo, de avó ser chamada de mãe e a tia de mãe e às vezes a própria mãe ser chamada de tia ou pelo próprio nome. Tudo isso, deve-se, certamente, a inversão de papéis das pessoas envolvidas nestes casos. O fato é que os avôs estão assumindo pessoalmente a criação dos seus netos e isso decorre de várias situações: pais que exercem o trabalho fora de casa e não possuem condições de cuidar pessoalmente dos filhos; pessoas solteiras que acabam por serem pais e não se unem pelo casamento, casais com filhos que se separam e retornam para a casa dos seus pais, menores sem condições de sustento que viram progenitores. Já lá vai o tempo em que se brincava com bonecas... Hoje, as crianças “fazem as suas próprias bonecas” de carne e osso... Portanto, o estereótipo dos avôs velhinhos de antigamente cedeu lugar aos avôs inseridos na luta social, produzindo, trabalhando e assumindo a dupla paternidade de educação e criação dos seus netinhos. Existem municípios brasileiros, segundo dados do IBGE, que subsistem à custa de suas aposentadorias. A situação das crianças que são criadas pelos avôs ou que possuem alguma forma de convivência diária, de forma alguma, pode ser desprezada pelo nosso Direito. Hoje já não se verifica aquela convivência da grande família de outrora, dos grandes almoços de domingo, das férias com primos, tios e avôs. Mas não é difícil perceber, também, que muitas situações de proximidade de relacionamento no binômio avôs e netos aumentou extraordinariamente especialmente nos casos em que estes assumem sozinhos ou em conjunto com os filhos a criação dos netos. A separação dos pais cria oportunidades, bem como problemas para os avôs. Durante o processo de divórcio, os avôs podem oferecer presença, estabilidade, assistência financeira, conselhos e ajuda emocional aos seus netinhos. Mas os problemas se complicam ainda mais quando a presença deles é tema para contestação. Como sabemos, os avôs são do lado materno e paterno e pode haver rivalidades e conflitos entre eles. A experiência mostra, geralmente, que os avôs do lado materno são mais acessíveis aos netos do que os paternos. Porém, o mais importante é tê-los. Eu, infelizmente, já não os tenho e também já tenho quase idade para ser avô... Agora, só queria viver o tempo que os meus viveram – mais de cem anos! As crianças precisam mais do que nós dos seus avôs. È pena que não exista o Dia dos avôs! Como existe o dia da mãe, do pai, da sogra, dos namorados, etc. Bem, como viram, em questões de família, nada é tão certo que se possa estabelecer padrões que sirvam igualmente a todas as pessoas. Ela é uma estrutura de afetividade, seja qual for a realidade de sua construção, se articula por pais separados, formada por pessoas homossexuais ou não, família com filhos adotivos, família sem pai, sem mãe, sem filhos, avôs que fazem de mães ou pais, tias que também fazem o papel de mães... A família é um lugar subjetivo, onde recorremos sempre que precisamos de referências (ou de grana...) apoio e conforto para tratar de questões que a vida nos apresenta. Parabéns, minha amiguinha Ritinha, por teres duas mães! Que vivam para

ÉTICA JORNALÍSTICA

Os meus amigos jornalistas disseram-me que eu deveria ter escrito algo no Dia da Imprensa. Já se passaram alguns dias, mas atendo os inúmeros pedidos, eis-me aqui “portelinhando” alguma coisa sobre esta nobre profissão. Resolvi, então, falar sobre a ética jornalística que é um assunto que me parece que anda muito em voga ultimamente.

Se o jornal é o livro das multidões, então a vida pública do cidadão não é concebida nas grandes cidades sem esta folha informadora que é um órgão próprio para discutir e apreciar o interesse coletivo. Se assim é, torna-se necessário que exista uma ética especifica do jornalista.

A profissão de jornalista deve ter por base a moral mais desinteressada, um amor inquebrantável à verdade, uma paixão heróica pela justiça e uma devoção ilimitada ao bem comum. Estes ideais, que elevam o jornalismo ao conceito de cátedra e de sacerdócio, se encontram minorados na prática pelos perigos constantes que cercam a imprensa e, por conseguinte, os jornalistas. A Imprensa foi qualificada de quarto poder, e de certo modo é verdade. E pelo mesmo fato de ser grande o seu poder, é também muito solicitada para campanhas não verdadeiras, não tão justas, não tão verdadeiras, não tão dedicadas ao bem comum. Daí serem certas aquelas palavras de Balmes no O Critério, resumidas nestas duas verdades: “Os jornais não dizem tudo sobre as pessoas. Os jornais não dizem tudo sobre as coisas”.

Para poder cumprir os sacrossantos deveres que impõe a profissão de jornalista, para que um jornal seja um verdadeiro eco da opinião pública e não dos interesses de uns tantos, o jornalista e o jornal devem gozar de independência.

Os jornais, além de sua missão informativa e de serem eco da opinião pública, têm também outras finalidades e outras tendências. Hoje as grandes empresas, os consórcios, e mesmo os Estados se valem do quarto poder para informar a seu modo, para fazer ressoar o eco do que lhes convém e silenciar o que lhes desagrada, e para criar conseqüências em vez de refletir fatos e tendências. Convém ter presentes as palavras de um grande jornalista norte-americano, Joseph Pulitzer, que foi proprietário do “New York World”, que tinha um elevado conceito da profissão, sintetizado na definição do jornal, que pôs na primeira página do seu jornal.

“O jornal deve ser uma instituição que lute sempre pelo progresso e a reforma, que nunca tolere a injustiça ou a corrupção, que combata sempre os demagogos de todos partidos, que não pertença a ninguém, oposto sempre aos privilégios de classe e aos exploradores públicos, com simpatias sempre para pobres, sempre dedicado ao bem público, não satisfeito nunca com a simples impressão de noticias, sempre raivosamente independente, nunca temeroso de atacar a falta de razão da pobreza rapace e da aristocracia depredadora”.No entanto, o elemento humano é o jornalista. A importância do referido elemento é capital. Se há jornalistas haverá jornais, se não houver verdadeiros jornalistas, embora possa haver escritores e donos de jornais, não haverá jornais!

O jornalista necessita temperamento especial e uma aptidão singular de observação. Deve possuir principalmente o sentido da noticia. O jornalista vê a vida como um espetáculo curioso, não como algo trágico, e se coloca nas melhores condições possíveis para contemplá-la e compreendê-la com espírito generoso, mais propenso a ver o lado bom que o mau, mais inclinando à benevolência que à censura.

O Jornalista tem muito desenvolvido o dom de observação e o conhecimento dos homens tais como são. Deve interessar-se por tudo, sem deixar arrastar-se por nada. Deve procurar a verdade e o interesse humano da vida e das coisas. Deve ser honrado em sua profissão, probo, ágil na expressão e preciso no conceito. O jornalista nasce como Osmar Casagrande, ético, poeta, como o pintor, como um verdadeiro músico...

APELIDAÇÃO E A “BURROCRACIA”

Apelidação é uma área especial da antroponímia e apresenta muitas afinidades com a hipocorística. A única diferença entre ambas é que, no caso desta, o nome é tirado do próprio nome da pessoa, como de João, Kim de Joaquim, Tonecas de Antônio, de José. O apelido, por seu turno, não tem nada a ver com o nome próprio da pessoa. Ele é aleatório, dependendo de características físicas, psicológicas ou de alguma circunstância geradora que pode ser de qualquer natureza. Uma pequena deformidade congênita numa das mãos gerou um mão de gengibre, uma estatura anormalmente alta pode virar espanador da lua, de cima, bambu vestido e por aí afora. Com nariz muito grande ou adunco, pode virar um Tchicuamanga, pássaro parecido com tucano ou mesmo tucano; um cidadão de voz muito gutural virou faca nas costas; um garoto de aspecto muito limpinho e bem-arrumado virou protocolo; um chato virou umbigo de cobra; um que ao ter de se trocar junto aos colegas de escola percebeu ter se esquecido de vestir a cueca virou vento a favor; um que alegou a beleza da lua para estalar um beijo na garota errada, virou lua cheia, um que vivia a queixar-se da sogra acabou ganhando o apelido de... sogra. Vê-se que a aleatoriedade não deve ser entendida como se no seu surgimento não houvesse nenhuma razão ou surgisse totalmente ao acaso. Não perguntei a nacionalidade deles, podem ser brasileiros, angolanos ou portugueses porque nisso também são muito parecidos. Inclusive culpa-se este último de ser o causador da burocracia, esta doença que dizem ser lusopática, desculpem-me lusoburocrática: O primeiro chamava-se Todo Mundo, o segundo Alguém, o terceiro Qualquer Um, o quarto e último Ninguém. Havia um importante trabalho a ser feito e Todo Mundo tinha certeza que Alguém o faria. Qualquer Um poderia tê-lo feito, mas Ninguém o fez. Alguém zangou-se porque era um trabalho de Todo Mundo. Todo Mundo pensou que Ninguém imaginou que todo mundo deixasse de fazê-lo. No final, todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito. O grande escritor e humorista Millôr Fernandes assim define um burocrata: pessoa que vê um sujeito assassinado com um canivete suíço e só se interessa em saber como o assassino conseguiu a guia de importação. Não é sem razão.

Sobre o romance “Infância e Travessuras de um Sertanejo”

JUAREZ MOREIRA FILHO é romancista, contista, cronista, ensaísta, historiador e biógrafo. Nascido a 03 de julho de 1953 em Ribeiro Gonçalves, antigo Remansinho, Piauí, com menos de dois meses de idade vai para os garimpos de cristal-de-rocha no antigo Norte goiano, hoje Estado do Tocantins, precisamente para a fazenda Rancho Alegre, a 3 km da cidade de Duerê, onde passa sua INFÂNCIA E SUAS TRAVESSURAS... Mais do que para a maioria dos outros escritores tocantinenses, a biografia de Juarez não precisa ser vasculhada para familiarizarmo-nos com a sua infância... Essa obra é consagrada ao emocionante relato autobiográfico da sua meninice no sertão, razão pelo qual se intitula INFÂNCIA E TRAVESSURAS DE UM SERTANEJO, como se o próprio título do livro nos remetesse a um gênero (a infância e as travessuras de si próprio) e um único atributo (a qualidade de ser sertanejo). Dá-nos a impressão que tal qualidade o persegue em todas as suas magníficas obras. No entanto, o grande mérito do autor, em minha opinião, é descrever-nos sutilmente esse fato, sem dizê-lo que na realidade trata-se da sua própria vida e, ao fazê-lo, concomitantemente nos remete de uma forma extraordinária, bela e fiel à vida do sertão: seu ambiente, sua gente humilde e sua linguagem rural peculiar (daí o seu êxito). Desde o começo de sua obra, teve a ambição de reproduzir com realismo, de maneira mais verídica, completa e nos mínimos detalhes, sem evitar o que pudesse haver de banal ou mesmo desagradável em tudo quanto lhe impressionara sobre a vida do campo: a cor das suas raízes, a temperatura e o cheiro de sua terra, os temperos de uma cozinha maravilhosa e, acima de tudo, a idiossincrasia de sua alma sertaneja que transporta sempre para suas obras literárias. De fato, a obra em tela é feita de observação puramente naturalista, com uma ampla parte psicológica das ações, bem como de sentimentos dos personagens que retratou. Só pelas qualidades de estilista, satisfaz às leis da estética. Seu estilo é artisticamente formado, transparente e simples, fácil e claro, contudo pessoal, realista e plasticamente expressivo. Mesmo nos seus livros posteriores a INFÂNCIA E TRAVESSURAS DE UM SERTANEJO, os de memórias particularmente deixam entrever a sua mestria que, aliás, de resto, todos os seus leitores lhe reconhecem. Mas é justamente nas descrições da natureza, da dor, dos sentimentos, que tais qualidades se mostram mais sedutoras. Nos destinos humanos que pode descrever, sobra ainda lugar para a alegria. Os quadros são frequentemente de cores muito sombrias, mas a força evocadora de seus heróis jamais se enfraquece. Esse belíssimo romance de estreia do escritor JUAREZ MOREIRA FILHO, agora em sua 2ª edição, constitui sem dúvida um tour de force como uma pintura audaciosa e amarga da vida do sertão em que, não obstante ser dura, sofrida, ainda há espaço para o amor, o folclore alegre, descontraído e leve, sobretudo vivido e ensinado pela Dona Isabel, no segundo capítulo do livro, um primor, que me fez retornar nitidamente ao meu passado em Angola e às leituras que fiz das maravilhosas obras do expoente máximo da literatura angolana, quiçá do espaço lusófono, Antonio Agostinho Neto, autor da SAGRADA ESPERANÇA, e também de Mikail Chokolov. Um só trecho de O DON SILENCIOSO, recordado, por exemplo, da obra desse grande pensador russo e Nobel de Literatura: “Na quarta semana da Quaresma, a água pôs-se a brotar nas margens do Don. Derretendo-se na superfície, o gelo tornava-se cinzento e poderoso. À noite, um murmúrio surdo vinha dos morros, indicando que iria gear, de manhã, havia ainda uma leve geada, mas lá para o meio-dia a terra apresentava-se descoberta em alguns pontos. Podia-se sentir o cheiro de março, das cerejeiras e a palha apodrecida. (...) Quanto se andava, tinha-se a impressão de se estar andar numa ravina cheia de folhas mortas, folhas amarelas que se afastam com facilidade para dar lugar à turfa que vinha de baixo, mesmo assim os pássaros cantavam...” Poderíamos dizer que na INFÂNCIA E TRAVESSURAS DE UM SERTANEJO a ambiência de uma forma geral é, aqui também, retratada minuciosamente, nos mínimos detalhes; o cheiro da terra, depois das chuvas, as amplas perspectivas sobre o verde doce e fresco circundado de rios e córregos que brilham em todo esplendor, a magia e a beleza descritas dos campos com toda sua pujança circunstanciada com toda sua fauna e flora em movimento; o barulho dos gravetos secos caindo das árvores, os carros-de-boi, as boiadas, o som do berrante nos chapadões, o grilo cantando, o sapo pulando, o guará gritando, o canto dos pássaros que pulam de haste em haste fazendo algum barulho é de extrema beleza. Encontra-se aí um sentido da vida que não nasce de um gosto puramente literário, mas é a descrição de uma vivência rica do autor, plena e inteira da beleza de um sertão retratado que provavelmente já não existe mais... No entanto, tudo aí vibra no infinito e na calma do espaço limitado da fazenda Capa-Cachorro, de propriedade do pai de Dida, nos seus arredores, em Duerê e nos garimpos de cristal-de-rocha, onde o autor retrata com bastante fidelidade a dureza vivida pelo Quirino e o bambúrrio que nunca chegou. A análise dos personagens alcança uma profundidade notável em sua rapidez e leveza, essas figuras humanas se harmonizam com a fuga das nuvens, com o cair das chuvas, com o cheiro da terra molhada e de estrume, com o aparecimento do crepúsculo à aurora de um dia novo. Graças à arte tão sutil do escritor, as palavras ganham certa ressonância e sua música assemelha-se à de um violino de raios de luz e cores. As datas, os acontecimentos, os autores, os personagens, são reais, em sua maioria. O autor se compraz em descobrir a beleza humana; liberto de toda doutrina psicanalítica, permaneceu simplesmente poeta, e soube retratar e até criar a poesia pura com um traço de grandeza, de sentimento. No entanto, se quisermos considerar essa obra tão-somente no plano artístico ou literário, mesmo assim não deixaria de ser uma obra original e importante para a pesquisa mais do que quaisquer daquelas que o precederam na publicação sobre a temática do regionalismo do Norte de Goiás, hoje Tocantins.


ECOLOGIA E A CONCEPÇÃO DO MUNDO

Alguns pensadores que atualmente se interessam pela questão ambiental numa perspectiva filosófica ressaltam que talvez o traço mais marcante da civilização moderna tenha sido a ideia de que o ser humano é tão mais humano quanto mais consegue estender o seu controlo sobre todos os níveis e planos de existência. Em face desta civilização que perdeu a noção de limite, a noção de medida, a crise ecológica passa a ser vista como o sintoma de um desequilíbrio cujas causas vão muito além de fenômenos como a poluição industrial ou efeito de estufa. Para aqueles que pensam a questão ecológica nos seus aspectos filosóficos e espirituais, é de singular importância a construção de uma ética que se baseie num sentido de respeito e cordialidade para com a natureza que nos envolve e a natureza que somos. Penso que tal ética poderá surgir a partir da superação da visão do mundo que tentou reduzir todos os seres à condição de objetos submetidos à racionalidade do cálculo e da produção. Essa ética, por sua vez, implica uma mudança radical na nossa maneira de compreender o lugar do ser humano no universo, o nosso lugar entre os outros seres. Uma das características do processo civilizacional vigente é a ideia de que o homem é livre para fazer qualquer coisa, desde que tenha capacidade para levá-la à prática. Em contrapartida, os valores avançados por algumas correntes do pensamento ecológico destacam a importância de desabrochar dentro dos limites que nos são próprios, respeitando os limites de todos os seres. Estes pensadores ambientalistas definem a ética ecológica como sabedoria necessária para redescobrir a prática dos nossos deveres e obrigações em relação ao cosmos. A opção civilizacional mediante a qual o homem se erigiu em valor absoluto, fundamento de toda a verdade e realidade, não é uma questão sem conseqüências para a vida política. Ao contrário: ela constitui o fundamento dos modelos políticos hegemônicos neste século. O questionamento deste paradigma tem-se vindo a dar em múltiplos campos do conhecimento e a prática social. Daí a necessidade das universidades do nosso estado fazerem um estudo multidisciplinar sobre o tema. Temos três renomados filósofos na UFT - Silvalino Miranda e Fábio -, um teólogo, um curso de Engenharia Ambiental e uma docente em Direito Ambiental... Quem sabe se não seria interessante fazermos um estudo sistêmico e multidisciplinar sobre o tema? Lanço o repto... A partir do inicio da década de 70, surge um conjunto de movimentos que constituem simultaneamente como expressão e resposta à crise de civilização que atravessa todos os níveis da realidade social na qual vivemos. Chamados ‘movimentos contra-cultura’ e depois ‘alternativos’, a sua melhor designação talvez seja ‘movimentos emergentes’ – pois não só emergem da crise de civilização, como fazem também emergir algumas questões de fundo. Estes movimentos são portadores de valores que anunciam, ainda que de maneira parcial e tateante, uma nova visão do mundo. Dos movimentos da consciência negra, dos índios, das minorias étnicas, dos movimentos pacifistas, do feminismo e outros, surge um conjunto de experiências em todo mundo que comungam da convicção de que a luta por uma transformação da sociedade exige uma mudança não apenas dos objetivos do sistema, mas na dinâmica deste sistema. A consciência de que a questão política se funda na questão civilizacional faz com que estas idéias estejam diretamente vinculadas às novas concepções da ciência, à busca do sagrado, ao conjunto de valores culturais chamados ‘pós-materialistas’. É também através de um pensar que questiona os seus próprios fundamentos, de uma razão que inquieta sobre si mesma e busca transcender as amarras reducionistas, que começa a brotar uma nova postura civilizacional. Ciência e poesia, razão e mistério, polis e cosmos: são múltiplas experiências que se tornam presentes no ser humano.

Sobre o respeito aos “mais-velhos”

A sensação que experimento em estar ainda vivo é de assombro, quase de incredulidade. Na minha experiência, que não tenciono generalizar, o que distingue a velhice da juventude, e também da maturidade, é a lentidão dos movimentos do corpo e da mente. Há formas de lentidão impostas pelas circunstâncias: a hierárquica, do sacerdote na procissão; a majestática, do grande estadista numa cerimônia pública; a fúnebre, dos que carregam o féretro e dos o seguem. Já a lentidão do velho é penosa para mim e para os outros – Disse-nos o italiano Noberto Bobbio, o renomado filósofo, jurista e cientista político comentando a sua velhice, pouco antes de morrer. Nessa vida tão turbulenta e cheia de percalços faz até espantar o grande humorista Achille Campanile que ainda haja velhos. Ele se pergunta: como esses velhos sempre me espantam. Como conseguiram superar são e salvos tantos perigos e chegar à idade avançada? É uma desgraça – dizia-me um búlgaro, meu professor de lógica jurídica – quando ficamos velhos, são os nossos próprios filhos que nos desprezam e nos expulsam das nossas próprias casas. Primeiro, quando se casam, querem mais um quarto para o nenê, depois vem o segundo, dispensamos o nosso quarto que é maior e vamos para o menor que é do netinho. Em seguida, vem o terceiro e dizem-nos que necessitamos de certos cuidados que estes não nos podem dar e põe-nos num asilo de velhos. Lembro-me também de ter lido no Times sobre um político inglês, que dizia ser incompreensível - para ele, acrescento – um montão de velhos mantendo-se na vertical a custa do erário público... Coincidentemente foi na Inglaterra que se chegou à conclusão de que não se pode dispensar a experiência nem os conhecimentos daqueles. Recentemente um caso muitíssimo triste foi divulgado pela televisão brasileira. Uma senhora idosa com oito filhos está movendo uma ação judicial contra os filhos para obter uma pensão alimentícia. Isto é uma vergonha!!! - para fraseando com toda ênfase Boris Kasoy. Os filhos devem total respeito aos seus pais. Qualquer que seja a sua faixa etária. Na mesma época, estava uma velha presa pela justiça porque o seu filho não tinha pago a pensão alimentícia a sua ex-nora. Quer dizer, os velhos estão sempre lascados: “preso por ter cachorro e preso por não ter cachorro”. Já muitos têm refletido sobre a velhice, inclusive o grande Platão. Mas a pedido de um “velho amigo,” João José, vou fazer algumas reflexões sobre a forma como outras culturas tratam e cuidam dos velhos... A cultura dos povos é um tema que apaixona pela sua diversidade e riqueza. O Brasil é um laboratório antropológico, depois do Japão, onde há mais japoneses é aqui. Depois da Alemanha, Portugal, Itália... Onde existem mais pessoas destas nações, é aqui no Brasil... Em África, o país mais habitado é a Nigéria, com oitenta e tal milhões de habitantes... Depois deste país africano, é o Brasil o país onde há mais negros, razão pela qual os negros e seus descendentes constituem a maioria da sua população brasileira. Sendo o Brasil um cadinho de raças e culturas, obviamente tem um pouco da cultura de cada uma destas nações... Mas a cultura africana faz-se onipresente em todos os aspectos da vida cultural brasileira: seja na música, esporte, culinária, no linguajar, na beleza da mulher tão festejada internacionalmente, etc. Mas a cultura africana, não conseguiu, infelizmente, transmitir aqui, um dom, que faz parte da sua idiossincrasia – o respeito que os mais jovens devem dedicar aos mais-velhos! Gostaria de mostrar aqui como os africanos encaram esta fase da nossa vida, ou melhor, daqueles que chegam a ficar velhos; porque só se chega a ficar velho quem não morreu ainda jovem, óbvio! Os jovens devem total obediência e veneração aos mais velhos, isto por força da tradição que formula normas precisas para o efeito as quais não podem ser violadas sem graves conseqüências para a comunidade. Em África, mesmo a que foi colonizada pelos lusos, a idade e a ancianidade, além de ser uma qualidade biológica, é, sobretudo, uma qualidade social, pois, através dos anciãos – quase despegados dos vivos e assimilados aos mortos – manifesta-se o poder dos antepassados. Não fossem estes, na terra, os seus dignos representantes, intermediários que lhes prestam o culto supremo. Assim sendo, a rede de relações sociais caracteriza-se por uma relativa e clara hierarquização baseada na sucessão cronológica das pessoas. É por isso, que o velho em África é, não só respeitado, mas completamente venerado pelos mais novos e se ama a Pátria porque é Terra dos antepassados. Como fiquei aqui, em Tocantins, com cabelos brancos e barba branca, um dia que for a Angola, tenho a certeza que serei recebido com toda a veneração que se dedica aos “mais- velhos” sábios... E as angolanas gostarão certamente de ver o meu novo charme – os meus cabelos grisalhos.

O QUE EU NÂO DISSE NA ENTREVISTA...

Fui entrevistado pela TV cultura no Dia Internacional da Mulher. Queria dizer mais algumas coisinhas, mas não foi possível por questões de tempo. Assim, aproveitaremos este espaço para continuarmos falando sobre a mulher. A primeira teoria do novo feminismo é Betty Friedan, que em 1963 publica La femme mystifiée, triste quadro da vida das americanas. Neste livro ela fala da alienação da mulher numa sociedade que se recusa qualquer identidade própria, que a obriga a “abafar a própria personalidade” e que a constrange à “existência por procuração”. Deixando-a existir somente em relação ao marido, aos filhos, ao lar... É isso que Betty Friedan denuncia. A mulher confinada ao lar, acantonada num papel de esposa-mãe-dona de casa e considerada como simples objeto de desejo e de prazer. A mulher vítima do “chauvinismo masculino” e do “colonialismo sexual”. A mulher mantida em empregos ou em salários inferiores: segundo a revista Time, nos Estados Unidos as mulheres ocupam apenas 10% das profissões liberais, e o salário médio das trabalhadoras atinge somente 58,2% do dos trabalhadores. Aqui não deve ser diferente! A “mulher mistificada” por uma cultura feita por e para os homens, uma cultura que nega a sua própria identidade. Nesta cultura de supremacia masculina, as mulheres constituem uma classe “colonizada”, uma classe oprimida, que só se define em relação ao seu opressor: o homem. Há manifestos mais recentes da contestação feminina. Como “La femme eunuque” de Germaine Greer. Como a tese de Kate Millet, “Sexual Politics” (versão em português : A Política do Mal). Outro livro interessante da Kate Millet é: “A Política do Macho”. Este livro é antes de mais nada uma declaração de guerra ao machismo e aos corifeus literários, para os quais a mulher só existe em relação a uma única referência, o homem: prostituída na obra de Henry Miller, colonizada nos livros de D.-H. Lawrence, assassinada na obra de Norman Mailer. É também um requisitório contra Freud, que alicerça toda a personalidade profunda da mulher naquilo a que chama “o desejo do pénis”. Para Freud a mulher sente um complexo de castração e aspira a um estado biologicamente impossível: ser homem. Para Kate Millet, ao contrário, a condição feminina não é fato natural, mas de cultura. Tem razão... O meio cultural influi no desenvolvimento psíquico da criança. Enquanto continuarmos a tratar cada sexo diferentemente no plano da educação, no sentido mais geral do termo, isto é, de forma não igualitária, não será possível saber se o que distingue as moças dos rapazes no domínio do comportamento é de ordem biológica ou de origem cultural. Não pretendo acabar com todas as diferenças de comportamento entre os homens e mulheres: porque são evidentes. O que digo, nos exorta Kate, é que a sociedade faz tudo o que está em seu poder para desenvolver essas diferenças. Hoje, ninguém pode provar que as mocinhas, ao nascerem, têm uma natureza inata que predetermina todos os papéis que terão de desempenhar na sociedade. Na verdade, são a sociedade, a cultura de supremacia masculina que mantêm deliberadamente a mulher em condição subordinada. Impondo uma verdadeira “política do sexo”. Efetivamente, é político tudo o que implica uma relação de domínio, sejam entre classes, raças, países ou sexos. . Como Simone de Beauvoir diria de bom Grado: “Não se nasce mulher, vem-se a ser Mulher.”

Filosofia das Reuniões

A dor é um aspecto contemplado no código penal de vários países. É uma experiência subjetiva resultante da atividade cerebral em resposta ao traumatismo de qualquer parte do nosso corpo. Nada é mais humano que a dor. Mas há certas pessoas, como eu, que se queixam de uma dor que realmente não tem causa orgânica e que é conhecida como dor psicogênica. Juro, por tudo, que sinto tal dor quando me falam em reuniões. Não há forma alguma de escapar a esta praga. Apesar de tudo, tenho dito sempre que é melhor do que ter mesmo de trabalhar a sério. Uma boa reunião nunca deveria demorar menos de duas horas, também não convém estender para além das quatro. Como todos sabem, o objetivo principal de uma reunião é chatear os supervenientes, de forma que acabem por aceitar as nossas idéias, mesmo que não concordem, eliminando assim qualquer hipótese de futura contestação. Para isso, não há nada melhor que bons discursos introdutórios, seguidos por aquela parte importante em que obrigamos os desgraçados que não percebem nada do que se está a discutir a pronunciarem-se. É aqui que geralmente se gera a algazarra, que nunca devemos cair na tentação de moderar. Quando já ninguém se entende, aparecemos com a nossa sugestão e, zás, acabamos com a confusão e triunfamos! Nas reuniões, convém mandar servir muitos cafés (é a única coisa de graça que temos... Às vezes) e garrafinhas de água (fica mais barata a da torneira). Mas, discordo daqueles que enchem as mesas de completos repastos ou com walk-man nos ouvidos, como se de uma festa se tratasse. É preciso recordar que o objetivo de uma reunião não é fazer com que os participantes se sintam confortáveis a ponto de baterem uma soneca, mas que queiram ir-se embora o mais depressa possível! Para tal, sugiro cadeiras de madeira e com pregos, de preferência virados para cima. Lamentavelmente, nestas orgias intelectuais, não tive, ainda, o prazer de deparar-me com nenhum faquir devotado. Por isso, é melhor convocar para as reuniões sempre lá para o fim do dia, quando já estão arrumando os papéis para irem à praia da Graciosa tomar umas biritas. A verdadeira regra de ouro desta parte de conduzir uma reunião é fazer com que não se resolva tudo de uma só vez, assim inevitavelmente, terminamos com a marcação da próxima, inclusive, assegurando polpudos jetons, a exemplo dos nossos políticos. Isso cria-nos a ilusão do dever cumprido. Se for convocado para uma reunião, jamais compareça. E para que não venha a ter problema pelas suas constantes ausências, convoque você mesmo uma, com pauta e tudo, sobretudo de assuntos que se apercebeu que não foram totalmente discutidos em reuniões anteriores nas quais você sequer participou. Porém, se conseguir um assunto novo, melhor ainda: presentes e ausentes não lhe esquecerão. Quando se estiver discutindo qualquer assunto da pauta ou no momento da votação, não se precipite a ser o primeiro a fazer o uso da palavra ou mesmo o primeiro a levantar as mãos. É de bom tom sempre estar atento à opinião dos mais influentes e à forma como eles votam. Caso tenha optado por abster-se diga lá fora, a verdadeira razão como, por exemplo, que tudo era besteira e que não se está dando bem com cicrano ou beltrano e por isso agiu de tal maneira... Faça promessa que na próxima reunião fará estremecer a sala de reuniões. Outra dica: se você pedir a palavra, comece sempre com uma introduçãozinha... Fale de suas experiências bem sucedidas. Jamais seja objetivo. Diga por exemplo: não sou contra nem a favor, muito pelo contrário... Assim vai falar mais tempo e ser menos atacado e questionado. Se sua fala for ridícula, não se importe... Pelo amor de Deus, não se esqueça de uma coisa importante: se for à reunião é conveniente chegar um pouco atrasado. Para não correr o risco de indicarem-no para alguma comissão de trabalho ou mesmo para secretariar a reunião. Para não correr esse último risco, coloque um curativo no dedo para pensarem que está ferido; não sendo excluída a possibilidade de ser invocada uma súbita dor-de-garganta ou dor de dente. Assim, os presentes se penalizarão com o seu “estado de saúde”, compreendendo seu silêncio e omissão. Se ao longo da reunião ocorrer votação, é de bom tom que se levante e vá ao banheiro. No entanto, se a assembléia não concordar, que se danem os desgraçados, ou melhor, a pauta. Pois, você tem mais razão que a maioria. Qualquer semelhança é mera coincidência... Por este motivo, entre outros, é que tenho verdadeira fobia a estas reuniões. Gostaram? Então, estejam convocados.

Ninguém vive impunemente as delícias dos

extremos

Todas as metas intensivas e excessivas de desenvolvimento, onde o Homo Economicus não leva em conta a preservação do meio ambiente, provocam um efeito comparável ao da bola de neve que despenca e rola desatinadamente do topo das montanhas cobertas de neve: ninguém pode prever qual a trajetória, a velocidade e o destino dessa bola que mais se avoluma e maior velocidade atinge na sua irreversível, insolente e trágica evolução. Assim é a natureza, que não se defende, mas reage, e cuja reação pode ter os desdobramentos os mais imprevisíveis – e os mais trágicos. No entanto, a idéia do progresso passou, como é óbvio, a ser adorada, idolatrada e reverenciada por bilhões de devotos que, apesar do seu entusiasmo e por não terem sabido conviver com a natureza-mãe, tornaram-se, na realidade, mais vítimas do que beneficiários do implacável e desumano progresso, que altera todo o equilíbrio biológico ou ecológico de todas as espécies dos reinos animal e vegetal, provocando centenas de males incuráveis que afetam a saúde humana e a toda espécie animal, em nome de um suposto bem à humanidade. Sou apologista de que se deva procurar insumos e metodologias alternativas que sejam viáveis dos pontos de vista econômico, ambiental e social. Isto é, onde toda exploração agrícola ou agropecuária convergisse numa harmonia econômico-ambiental, em que o social fosse também importante – ou mesmo o mais importante nesse quadro. É sabido atualmente que os impactos da agricultura sobre o meio ambiente chegam a situações extremas e quase de irreversibilidade da degradação e da poluição ambiental, causadas pelo uso inapropriado de insumos e mecanização, nocivos a toda vida. Deléage insistia frequentemente, e com justa razão, em que a questão ambiental era eminentemente social. Forçoso é estar de acordo, até porque os princípios do ecodesenvolvimento afastam toda abordagem reducionista, seja ela ecologista, seja ela economista. Dever-se-á pautar toda formulação de políticas de desenvolvimento agrícola ou de quaisquer outras atividades exploradas da natureza por princípios que conclamem a primazia das necessidades de todos os seres vivos, solidários, inclusive as gerações vindouras e que também assumam a necessidade premente de um desenvolvimento social baseado nesse casamento frutuoso do homem com a natureza, já mesmo em benefício da qualidade de vida dos próprios viventes atuais. Por outro lado, este dilema entre a dominação da natureza pelo homem ou a preservação do meio ambiente permanecerá enquanto continuar a ser concebido o uso do meio ambiente pelo prisma de um modelo de desenvolvimento unilateral e unívoco. Após a leitura de várias teorias e modelos de desenvolvimento agrícola, ocorreu-me que talvez valesse a pena pensar em algum que fosse mais diversificado, o que supõe, desde logo, optar por uma orientação teórica capaz de perceber a complexidade dialética dos objetos e situações envolvidas nessa relação do meio natural com o meio social, reaprendendo mesmo tal relação. Um tal reaprendizado será necessariamente perpassado por conflitos e envolverá adaptação de tecnologias já existentes, desenvolvimento de novos hábitos e novas tecnologias, pesquisas de produtos e geração de novos conhecimentos direcionados para a previsão e a prevenção dos impactos negativos da atividade agrícola (e não só ela), quer incidam eles sobre o meio ambiente, quer sobre o meio social. Obviamente que sem prejuízo para a produção nem para a competitividade, que são pressupostos para a sobrevivência da espécie e perpetuação da humanidade. Sendo assim, a política econômica deve levar ao desenvolvimento e à adoção de tecnologias que promovam o desenvolvimento sustentável, competitivo, procurando preservar sempre e dentro do possível os recursos naturais para o uso das gerações futuras.

AGRADECIMENTOS

A Academia Tocantinense e Palmense de Letras vêm através de seus presidentes e em nome de seus nobres confrades agradecerem calorosamente aos ilustres governantes e amantes da cultura, suas Excelências Marcelo Miranda, Governador do estado de Tocantins e Raul Filho, Prefeito de Palmas, que serão doravante credores eternos das respectivas academias, pelo mais carinhoso apoio que poderiam desejar e objeto de uma reivindicação constante - que é a construção das suas sedes próprias. São gestos desta natureza que nos honram, engrandecem e farão caminhar as duas casas de Machado de Assis, no suceder das gerações e na voragem dos tempos, o cumprimento do lema que acalenta suas existências; servir o Tocantins, servir o Brasil!

Doutor Eduardo Almeida Prof. Doutor João Portelinha

Presidente da ATL Presidente da APL.

Palmas, 07.08.09

LIÇÃO DE AMOR

Quando passamos de certa idade, como é o meu caso, a alma da criança que fomos se manifesta em nós e começamos nos aperceber de alguns ricos ensinamentos que as crianças, ingenuamente, nos jogam às mãos, sem às vezes nos darmos conta que de certa forma, cooperam ou não com sentimentos que experimentamos no quotidiano. Embora São Jerônimo nos ensine que amar é próprio dos filhos, temer é próprio dos escravos, a verdade é que o amor sem reciprocidade é como o fogo de artifício em noite de chuva. Apaga-se. Temos que dar amor aos nossos filhos para que eles nos amem também... Certa vez, como de resto é meu hábito, perguntei a Loara, minha filhinha, que naquela época tinha apenas cinco aninhos, se me amava. Ao dizer que sim, perguntei em seguida por que motivo. Ela, sem mais delongas, disse-me: amo-te porque me amas, ora bolas...

De fato esse sentimento, já enaltecido por vários poetas, tem um efeito bumerangue. Isso corroborando com o pensamento, ingênuo, mas muito certo, da Loarinha – Dar para receber. Na verdade, dentre todas as sociedades, nenhuma há mais nobre, mais estável, mais forte que aquela onde os homens estão unidos pela conformidade, amizade e amor. Precisamos cultivar nas crianças e nos adultos este maravilhoso sentimento, que não obstante se escrever com apenas quatro letras, tem a dimensão do universo. Das primeiras certamente depende o futuro de todas as nações. E não queiramos que nos amem sem que as amemos, porque amor com amor se paga. Às vezes me ponho a pensar, principalmente quanto vejo o telejornal, que futuro teremos quando os homens do amanhã serão estas crianças que vemos hoje abandonadas, violentadas, maltratadas (às vezes pelos próprios progenitores) e que não têm o nosso amor e compreensão. Que futuro? Vê-se de fato o porvir de um país pela forma como são tratadas as crianças. Infelizes são aquelas que passam pelo mundo sem terem conhecido o amor... Como é o caso de milhares de nossas crianças que não têm culpa de terem nascido. Daí, a defesa que eu faço dos programas sociais de Lula.

Certa vez encontrei uma criança a pedir esmola que, pelo tamanho, deveria ter a mesma idade da minha filha quando me ensinou que devia se amar para se ser amado. Após termos conversado, o menino nos confidenciou que sustentava os seus pais, avós e irmãos menores com os proventos da esmola. Se eu já me admirava pela precocidade das crianças, como o caso da minha, mais motivos tinha para admirar o procedimento desta criança que já era o provedor de toda família. Minha irmã Bela, que na altura me acompanhava, ficou tão estarrecida e indignada com o sucedido que me disse:- não estamos diante de uma criança, João. È um adulto que jamais teve a felicidade deter sido criança... Por sugestão dela, levamo-lo para um abrigo de crianças. Ele, embora relutante, aceitou a proposta. Tempos depois, encontramo-lo no mesmo lugar, pedindo esmola. Quando perguntamos o motivo pelo qual ele não estava no lugar onde o tínhamos deixado, ele sabiamente nos respondeu: - Como sabem, eu é que sustento a minha família. Como poderei ficar lá sem eles? Se for do vosso agrado, ficarei onde vocês queiram, na condição de levarem comigo os meus país, que são velhos, meus irmãos, minha avó, etc. Tínhamos sim, agora, a resposta da relutância do menino e os motivos de não mostrar-se muito feliz com a ideia de ficar num abrigo; mesmo nas condições de miséria em que ele vivia. Que lição de amor de uma criança tão sofrida. Não acham? Quantas crianças no Brasil e no mundo inteiro vivem nessas condições de não somente terem que se sustentarem, como por forças das circunstâncias terem, ainda, que sustentarem os seus familiares? Esta criança, cujo nome não sei, como tantas outras, reportando-nos aos ensinamentos delas próprias: - Só nos amarão certamente se forem amadas por nós adultos... E depois também porque o sol não brilha sobre os mal-amados – como nos ensina Millôr – Não é Loara? Amor com amor se paga! Hoje fazes 11 anos... Feliz aniversário, minha filha!

O verdadeiro sentimento islâmico

As relações de força não se medem apenas em relação ao número de armas ou das bases sociais de apoio. Deve-se levar em consideração imagens, informações produzidas ou reproduzidas, ilusões ou realidades. O Cinema e agora a televisão parecem ter sido particularmente vocacionados para registrar os grandes conflitos armados e transformar a guerra num sistema de representação contra o Outro. Quando os ocidentais financiam documentários sobre a Guerra no Médio Oriente ou sobre a cultura desses povos tem-se a impressão de que estes são todos fanáticos, maus, violentos e terroristas... Isso não é verdade! A língua árabe é a única no mundo que a palavra “homem” deriva da raiz “simpatia”. É certo, então, acreditar que não haveria um fim para o conflito dos mulçumanos e seus vizinhos, já que a guerra sagrada (jihad) contra os infiéis é um dever islâmico? O ideal islâmico da vida ideal é a sociabilidade, não a guerra. Quase não se menciona a guerra no Corão (alcorão) ao contrário do que dizem. O Profeta, retornando de uma de suas campanhas militares, exprimiu o grande prazer de agora se poder voltar da “guerra menor” para a “guerra maior”, que se trava dentro da alma de cada pessoa; e, ao longo dos séculos, o lado espiritual do islamismo tornou-se cada vez mais presente nas vidas particulares dos seus crentes. Syyd Ahmad Khan (1817- 98), por exemplo, argüiu que a guerra sagrada só era um dever para os mulçumanos se estes estivessem impedidos de praticar a sua própria religião. Foi o sentimento de não merecer o devido respeito, e de ser humilhado pela guerra das cruzadas impetrada pelos ocidentais e pela colonização e agressão, que fez os versos “guerreiros” pontificarem uma vez mais a necessidade imperiosa de “enaltecer as virtudes do islamismo” contra a “cultura ocidental de agressão e humilhação”. Os mulçumanos, para quem não sabe, são tão herdeiros do legado da Grécia antiga quanto os cristãos. Inclusive, O Ocidente somente teve conhecimento dessa cultura helenista (que é sua) através dos árabes. O escritor Abu Bajkr Tufayl (falecido em 1185), demonstrou através dos seus escritos que muitos aspectos do islamismo, racionais, místicos, legais e políticos, coincidem e combinam com a civilização ocidental. O poeta indonésio, Hamzah Fansuri, autor de “A bebida dos Amantes” insistiu na opinião de que Deus pode ser visto em qualquer pessoa e em todas as coisas, e que as diferenças superficiais entre os seres humanos não nos devem enganar. No entanto, tudo faz crer que o fundamentalismo cerrou a cortina entre o islamismo e o Ocidente, e com isso todas as possibilidades de aceitação mútua. A palavra “fundamentalismo” foi empregada pela primeira vez na década de 20 por seitas protestantes dos EUA, onde, agora, cerca de um quarto dos habitantes compartilham das mesmas atitudes e filosofia religiosa... Como uma atitude, o fundamentalismo reaparece de quando em quando na história. Sabia que nos EUA também existem fundamentalistas? São cristãos que não querem, segundo disseram seus escritos, “horizontes abertos para seus filhos” e são contra “ a extensão da hospitalidade a idéias estranhas que pretendem controlar seus filhos” e que para isso “torna-se necessário a todo custo protegê-los da conduta imprevisível de outras crianças perniciosas”; e, assim sendo, preferem retirar-se para “o mundo mais seguro”. O terrorismo não tem nada haver com a religião e cultura mulçumanas. No entanto, essa idéia errônea seria impensável sema imprensa de grande tiragem e da programação televisiva, uma e outra alimentando-se regularmente de fatos e motivos sensacionalistas que colocam o público totalmente desinformado a ponto de pensarem que todo árabe é mulçumano e fundamentalista e que ser mulçumano é ser terrorista ! Questões mais complicadas deixo para o renomado jurista e escritor, Dìdimo Heleno Povoa Aires, meu amigo, que se tornou um dos maiores especialistas sobre o assunto em nosso país.

VOZ DE ANJO E PÉS DE BAILARINO

Michael... Não vou dizer-te que fostes um grande cantor, compositor, ator, publicitário, produtor, diretor, escritor, instrumentista, estilista e empresário estadunidense... Tudo isso já se falou... Não vou dizer que começastes a cantar e a dançar aos cinco anos de idade e que em 1977 já eras considerado como “King of Pop” pela imprensa mundial e que os teus álbuns se tornaram os mais vendidos de todos os tempos: Off The Wal (1979), Thriller (1982), Bad (1987), Dangerous (1991), History: Past, Present and Future - Book I (1995)... Que no início dos anos 80, fostes uma figura dominante na música Rock e Popular e o primeiro cantor afro-americano a receber a exibição constante da MTV... A popularidade dos teus vídeos musicais transmitidos pela MTV, como “Beat It”, “Billie Jean” e “Thriller” foram creditados como a causa da transformação do vídeo musical e também tornado a música pop amada e conhecida em todo o mundo... Não vou dizer aqui, que fostes o criador de um novo estilo totalmente novo de dança, utilizando especialmente os pés... Com as tuas performances no palco e clips, popularizastes uma série de complexas técnicas de dança, como Robot e Moorwalk. Teu estilo diferente de cantar, bem como a sonoridade das tuas músicas que influenciaram uma série de artistas do Hip Hop, Dance e R&B... Também, Michael, acho que não é necessário fazer lembrar o pessoal que mudastes muitas vezes de aparência, principalmente a cor da pele devido ao vitiligo que geraram muita controvérsia significante a ponto de prejudicar a tua imagem pública... É sabido por toda gente que fostes acusado de abuso de crianças, mas a investigação foi arquivada devido a falta de provas. Alguns dizem mesmo que escapastes da prisão porque pagastes vinte milhões de dólares aos pais da vítima! Isso é verdade? Sabes que quando amamos alguém, até nos esquecemos dos seus erros... Mas assim mesmo ainda restaria o direito ao contraditório e o benefício da duvida... É verdade que também a imprensa comenta que fostes um dos poucos artistas que entraram duas vezes ao Rock And Roll of Fame, teus outros prêmios incluem uma série de recordes certificados pelo Guinness World Records – um deles para Thriller como o álbum mundialmente mais vendido de todos os tempos – dezenove Grammys em carreira solo, seis Grammy com The Jacksons 5 e 41 canções que chegaram ao topo e vendidos que superaram 750 milhões de dólares, sendo que alguns empresários da Sony até já registraram a incrível marca de mais de 1 bilhão... Foi assim que se falou de ti em vários países do mundo... Há quem te julgasse até maníaco. Até meio desacertado das idéias... Não penso assim... No entanto, acho que apenas não conseguistes ser criança e nem suficientemente adulto para administrares tamanha fama e tanto dinheiro... Olha... Muita gente diz que gastavas a tua grana à toa, acham que foi um grande desperdício o dinheiro que gastavas com brinquedos para ti... Nós, adultos, nos esquecemos sempre de que tu “nascestes adulto” e “morrestes criança”, mesmo com a minha idade! O teu pai, Michael, foi um carrasco... Ainda ontem na coletiva com a imprensa, em vez de falar da tua morte, fazia propaganda de um novo empreendimento, creio que um estúdio, certamente vai usar as tuas músicas para ganhar uma boa grana... Foi bom não o teres incluído no teu testamento! Mas acho que sendo a tua mãe herdeira da tua fortuna, por tabela, o teu velho vai se beneficiar... De repente a tua mãe até vai levar umas chibatadas como levavas, sempre que o teu pai precisar de uma graninha... Outra injustiça que fazem contigo é não dizerem que doastes milhões de dólares durante toda tua carreira à causas beneficentes através da Dangerous World Tour, compactos voltados à caridade e manutenção de 39 centros de caridade... Michael, qualquer um de nós se fossemos uma criança apagada como tu, com uma infância que tivestes e com pai como o teu... Já teríamos desistido de viver e sorrir faz tempo... Quando olho para as tuas fotos, teus vídeos, teus espetáculos... Vejo como o teu semblante mudava automaticamente... Teu sorriso era aberto, nele conseguíamos ainda ver uma criança em um corpo adulto e por momentos notávamos que nesse instante eras imensamente feliz. É pena que tenham sido só flashes em tua vida... Sabemos que faltava-te o essencial: um afago desinteressado, um carinho sincero, a essência pura e simples da vida de uma criança que não tivestes. . . Michael, certamente onde estas agora haja um palco celestial onde poderás cantar canções de menino com a voz de anjo, acompanhado de harpas dos anjos, onde poderás sorrir livremente, saltar, correr e brincar como uma criança que sempre fostes... O nosso mundo aqui é cruel e de adultos!

Um abraço do teu admirador e até um dia!

PALMAS, 01 DE JULHO DE 2009

OBAMA OU McCAIN?

Certo amigo meu, sugestionado pela insistente propaganda que se fazia na imprensa nacional a favor de Barack Obama, antes mesmo da sua vitória, como prenúncio de mudanças para melhor nas relações políticas e econômicas entre o Brasil e EUA. Confidenciou-me, que era totalmente a favor a vitória do candidato democrata, inclusive pelos laços que possuía com África. Não o questionei a propósito, na medida em que eu próprio, e toda gente que nos rodeava, ‘torcíamos’ pelo mesmo candidato e, certamente, pelas mesmas razões. Qual foi meu grande espanto? Noutro dia, o meu amigo, mudou totalmente de opinião, alegando, que John McCain, sim, esse é que era o verdadeiro defensor dos interesses econômicos brasileiros. Isso, por que, de um lado, defendia a produção do metanol brasileiro, e de outro, por ter tido, quando era ainda um jovem marinheiro, uma namorada brasileira! Afinal, de contas, segundo ele - isso na brincadeira, é claro – ele seria “quase parente”. Em função dessa polêmica toda... Veio-me a tona, uma estória muito interessante, que me foi contada há algum tempo, que faz parte do rico folclore caipira e contei-o, também, a jeito de brincadeira: Pedro ficava muito aborrecido com a mania de Jesus fazer jejum. E ficar sempre em casa de pobre, onde a gente recebe pouco alimento. Ele vivia resmungando dizendo: “Quem não pode não se estabelece. Que mania é essa de andar pelas ruas... A gente fica com fome andando o tempo todo. Se ao menos fossemos nas casas dos ricos... “Jesus ouviu a queixa de Pedro e disse:” Esta bem, Pedro, vai hoje à casa de um rico. Quem sabe se a gente consegue passar melhor. Então batem à porta de um rico. Eram os três: Jesus, Pedro e seu irmão, André. O rico abriu a porta e pensou: “Vou pregar um peça nesses vagabundos que estão aí, que ficam pedindo esmola em vez de trabalharem”. E disse baixinho para o seu criado.” Ponha esses três numa cama grande. “Durante a noite cada um deles vai levar uma sova, e serão capazes até de se acusarem uns aos outros”. E como Pedro nessa hora andava pela casa procurando comida, nada percebeu. Mas no final da noite, quando eles foram dormir, o dono da casa disse novamente para o criado: “Olha, para aquele que se deitar a beira da cama, dê um doce, mas somente para aquele que está na beira da cama. Ouviu?”. Pedro também ouviu. E naturalmente na hora de escolher o seu lugar na cama, disse para Jesus e para André: “Eu quero ficar na beira da cama, não me acostumo em outro lugar”. E assim ficou aconteceu. Durante a noite veio o criado e deu uma valente tunda naquele que estava na beira, conforme o patrão tinha mandado. E Pedro ficou aflito, sem poder dizer nada. Levantou-se e ficou andando pela casa, quando ouviu o patrão dizer: “Agora está na hora de você dar uma recompensa para aquele que ficar no meio”. Pedro correu lá e disse a Jesus: “Olha, eu não me acostumei a ficar a beira da cama, não é o meu lugar. Essa cama é muito esquisita, eu quero ficar no meio”. Jesus aceitou e Pedro ficou no meio. Passou algum tempo, veio o empregado e deu outra surra memorável naquele que estava no meio. Aí Pedro disse: “Eu não tenho sorte mesmo, vai ver que esse não é o meu lugar”. Levantou-se e ouviu a terceira recomendação: “O presente é para aquele que estiver no cantinho, entendeu?”. Então ele foi incomodar André que estava no cantinho e disse: “André, vai para o meio que eu quero ficar no cantinho”. E recebeu a terceira sova! De manhã cedo. Jesus agradeceu a boa pousada que eles tinham recebido, e foram-se embora. E perguntou: “Então Pedro, você acha que é bom ficar em casa de rico?” E Pedro respondeu: “Não é bom, não. A gente pode estar no canto, no meio ou na beira da cama que apanha sempre”. Entenderam a mensagem? Na prática da cultura popular, rente ao cotidiano, existe uma sabedoria que se traduz, muitas vezes, em historietas ou em provérbios e que são não raro belíssimas como esta de Pedro, que o povo nos ensina que a relação com os ‘poderosos’ é muito “perigosa”, uma relação muito cheia de ‘decepções’. Não se pode confiar muito nos seus “bons propósitos”... É preferível, afinal, não confiarmos que a simples vitória de um ou de outro candidato vá mudar o mundo para melhor ou pior, mesmo sendo... “Quase parentes”!

MICHAEL, O MENINO PRODÍGIO...

Michael Jackson foi um menino prodígio. Com apenas cinco anos cantava e dançava como gente grande! Consta-se que, mesmo na condição de adulto, andava com um cartão de visita no qual se lia “ex-menino prodígio”, dizem os biógrafos e os historiadores que aos três anos falava como um adulto, aos quatro lia corretamente, aos anos cinco anos escrevia peças de teatro, representava sozinho vários personagens de “king Lear”, cantava e dançava como ninguém... Ele era possivelmente o mais típico menino prodígio do mundo do espetáculo. Onde, no entanto, os exemplos não faltam... O que é característico na carreira de Michael é ainda o facto de, apesar de ser vulgarmente considerado “um pouco desmiolado” pela imprensa internacional, ninguém nega que ele continuou sempre, apesar disso, um grande gênio. O problema é que a noção do gênio, em arte, possui uma axiologia complexa, pois o gênio é simultaneamente encarado como o criador excepcional, quase no sentido metafísico do termo, mas também como o mais completo irresponsável, segundo os preconceitos do senso-comum. Os gênios quase sempre são considerados loucos! Ora, a criança gênio, como muito bem notou R. Barthes nas “Mitologias”, corresponde às mil maravilhas ao mito central da arte burguesa, pois a irresponsabilidade do artista é agora reforçada e sublimada na imagem de inocência própria da criança. Num meio como do espetáculo, em que o espírito de concorrência e sensacionalismo impera, em que o lema “tempo é dinheiro”, fundamento das sociedades industriais desenvolvidas, se tornou a obsessão primordial, o menino prodígio realiza a ambição secreta de qualquer homem de negócios Porque o menino prodígio começa fazendo aos quatro anos ou aos seis aquilo que normalmente as pessoas só começam fazendo aos vinte. Refiro-me, obviamente, não só às habilidades do espetáculo (cantar, dançar, representar) como à capacidade de ganhar dinheiro. A criança começa a render tanto como um adulto, nalguns casos mesmo mais, inculcando-se por isso uma rotina profissional (horários inadequados à sua idade, ensaios, espetáculos, publicidade, entrevistas, etc.) que, quase sempre, vai privar a criança do seu próprio tempo é, consequentemente, do seu mais precioso direito que é justamente, apenas o de ser uma criança como as outras... A carreira profissional dos meninos prodígio encontram-se, assim, constantemente ameaçada. Primeiro, porque, ao crescerem, deixam de ser meninos e, por conseguinte, deixam de ser prodígios... Segundo, porque, perdido o estatuto que lhes deu fama, dificilmente se adaptarão a outra imagem de marca diferente daquela que os empresários impuseram ao público. Penso que foi uma das razões que fizeram Michael comportar-se sempre como uma eterna criança! Salvo raras exceções, como Juddy Garland, Elizabeth Taylor e Orson Welles, que dizia ser Hollywood o maior brinquedo que jamais o proporcionaram, crianças que se iniciaram cedo no meio artístico e cuja vida adulta foi um autêntico repositório de escândalos e de carências afetivas, não tiveram uma carreira assinalável depois da maturidade. Shirley Temple, estreada aos três anos, continuou eternamente a forçar o papel da menina ingênua e virginal até cair em desuso. De Margareret O´Brien já ninguém se lembra hoje... Mickey Rooney, estreado aos quatro anos, nunca se libertou verdadeiramente do personagem de Andy Hardy, apesar de os anos o terem perdoado... Jackie Coogan, que Chaplin celebrizou em “O garoto de Charlot” acabou na miséria e no alcoolismo. Embora Michael, ao contrario dos outros meninos prodígios, tivesse conseguido uma carreira memorável depois da “maturidade”, sua vida foi também um autêntico repositório de escândalos e de carências efetivas! Desgraçadamente, somente depois de morto, o nosso eterno herói, vai conseguir dinheiro suficiente para pagar suas enormes dividas! Ainda bem que eu não fui um menino prodígio...