MEU ROMANCE

MEU ROMANCE
O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Filosofia das Reuniões

A dor é um aspecto contemplado no código penal de vários países. É uma experiência subjetiva resultante da atividade cerebral em resposta ao traumatismo de qualquer parte do nosso corpo. Nada é mais humano que a dor. Mas há certas pessoas, como eu, que se queixam de uma dor que realmente não tem causa orgânica e que é conhecida como dor psicogênica. Juro, por tudo, que sinto tal dor quando me falam em reuniões. Não há forma alguma de escapar a esta praga. Apesar de tudo, tenho dito sempre que é melhor do que ter mesmo de trabalhar a sério. Uma boa reunião nunca deveria demorar menos de duas horas, também não convém estender para além das quatro. Como todos sabem, o objetivo principal de uma reunião é chatear os supervenientes, de forma que acabem por aceitar as nossas idéias, mesmo que não concordem, eliminando assim qualquer hipótese de futura contestação. Para isso, não há nada melhor que bons discursos introdutórios, seguidos por aquela parte importante em que obrigamos os desgraçados que não percebem nada do que se está a discutir a pronunciarem-se. É aqui que geralmente se gera a algazarra, que nunca devemos cair na tentação de moderar. Quando já ninguém se entende, aparecemos com a nossa sugestão e, zás, acabamos com a confusão e triunfamos! Nas reuniões, convém mandar servir muitos cafés (é a única coisa de graça que temos... Às vezes) e garrafinhas de água (fica mais barata a da torneira). Mas, discordo daqueles que enchem as mesas de completos repastos ou com walk-man nos ouvidos, como se de uma festa se tratasse. É preciso recordar que o objetivo de uma reunião não é fazer com que os participantes se sintam confortáveis a ponto de baterem uma soneca, mas que queiram ir-se embora o mais depressa possível! Para tal, sugiro cadeiras de madeira e com pregos, de preferência virados para cima. Lamentavelmente, nestas orgias intelectuais, não tive, ainda, o prazer de deparar-me com nenhum faquir devotado. Por isso, é melhor convocar para as reuniões sempre lá para o fim do dia, quando já estão arrumando os papéis para irem à praia da Graciosa tomar umas biritas. A verdadeira regra de ouro desta parte de conduzir uma reunião é fazer com que não se resolva tudo de uma só vez, assim inevitavelmente, terminamos com a marcação da próxima, inclusive, assegurando polpudos jetons, a exemplo dos nossos políticos. Isso cria-nos a ilusão do dever cumprido. Se for convocado para uma reunião, jamais compareça. E para que não venha a ter problema pelas suas constantes ausências, convoque você mesmo uma, com pauta e tudo, sobretudo de assuntos que se apercebeu que não foram totalmente discutidos em reuniões anteriores nas quais você sequer participou. Porém, se conseguir um assunto novo, melhor ainda: presentes e ausentes não lhe esquecerão. Quando se estiver discutindo qualquer assunto da pauta ou no momento da votação, não se precipite a ser o primeiro a fazer o uso da palavra ou mesmo o primeiro a levantar as mãos. É de bom tom sempre estar atento à opinião dos mais influentes e à forma como eles votam. Caso tenha optado por abster-se diga lá fora, a verdadeira razão como, por exemplo, que tudo era besteira e que não se está dando bem com cicrano ou beltrano e por isso agiu de tal maneira... Faça promessa que na próxima reunião fará estremecer a sala de reuniões. Outra dica: se você pedir a palavra, comece sempre com uma introduçãozinha... Fale de suas experiências bem sucedidas. Jamais seja objetivo. Diga por exemplo: não sou contra nem a favor, muito pelo contrário... Assim vai falar mais tempo e ser menos atacado e questionado. Se sua fala for ridícula, não se importe... Pelo amor de Deus, não se esqueça de uma coisa importante: se for à reunião é conveniente chegar um pouco atrasado. Para não correr o risco de indicarem-no para alguma comissão de trabalho ou mesmo para secretariar a reunião. Para não correr esse último risco, coloque um curativo no dedo para pensarem que está ferido; não sendo excluída a possibilidade de ser invocada uma súbita dor-de-garganta ou dor de dente. Assim, os presentes se penalizarão com o seu “estado de saúde”, compreendendo seu silêncio e omissão. Se ao longo da reunião ocorrer votação, é de bom tom que se levante e vá ao banheiro. No entanto, se a assembléia não concordar, que se danem os desgraçados, ou melhor, a pauta. Pois, você tem mais razão que a maioria. Qualquer semelhança é mera coincidência... Por este motivo, entre outros, é que tenho verdadeira fobia a estas reuniões. Gostaram? Então, estejam convocados.

Nenhum comentário: