Sobre o respeito aos “mais-velhos”
A sensação que experimento em estar ainda vivo é de assombro, quase de incredulidade. Na minha experiência, que não tenciono generalizar, o que distingue a velhice da juventude, e também da maturidade, é a lentidão dos movimentos do corpo e da mente. Há formas de lentidão impostas pelas circunstâncias: a hierárquica, do sacerdote na procissão; a majestática, do grande estadista numa cerimônia pública; a fúnebre, dos que carregam o féretro e dos o seguem. Já a lentidão do velho é penosa para mim e para os outros – Disse-nos o italiano Noberto Bobbio, o renomado filósofo, jurista e cientista político comentando a sua velhice, pouco antes de morrer. Nessa vida tão turbulenta e cheia de percalços faz até espantar o grande humorista Achille Campanile que ainda haja velhos. Ele se pergunta: como esses velhos sempre me espantam. Como conseguiram superar são e salvos tantos perigos e chegar à idade avançada? É uma desgraça – dizia-me um búlgaro, meu professor de lógica jurídica – quando ficamos velhos, são os nossos próprios filhos que nos desprezam e nos expulsam das nossas próprias casas. Primeiro, quando se casam, querem mais um quarto para o nenê, depois vem o segundo, dispensamos o nosso quarto que é maior e vamos para o menor que é do netinho. Em seguida, vem o terceiro e dizem-nos que necessitamos de certos cuidados que estes não nos podem dar e põe-nos num asilo de velhos. Lembro-me também de ter lido no Times sobre um político inglês, que dizia ser incompreensível - para ele, acrescento – um montão de velhos mantendo-se na vertical a custa do erário público... Coincidentemente foi na Inglaterra que se chegou à conclusão de que não se pode dispensar a experiência nem os conhecimentos daqueles. Recentemente um caso muitíssimo triste foi divulgado pela televisão brasileira. Uma senhora idosa com oito filhos está movendo uma ação judicial contra os filhos para obter uma pensão alimentícia. Isto é uma vergonha!!! - para fraseando com toda ênfase Boris Kasoy. Os filhos devem total respeito aos seus pais. Qualquer que seja a sua faixa etária. Na mesma época, estava uma velha presa pela justiça porque o seu filho não tinha pago a pensão alimentícia a sua ex-nora. Quer dizer, os velhos estão sempre lascados: “preso por ter cachorro e preso por não ter cachorro”. Já muitos têm refletido sobre a velhice, inclusive o grande Platão. Mas a pedido de um “velho amigo,” João José, vou fazer algumas reflexões sobre a forma como outras culturas tratam e cuidam dos velhos... A cultura dos povos é um tema que apaixona pela sua diversidade e riqueza. O Brasil é um laboratório antropológico, depois do Japão, onde há mais japoneses é aqui. Depois da Alemanha, Portugal, Itália... Onde existem mais pessoas destas nações, é aqui no Brasil... Em África, o país mais habitado é a Nigéria, com oitenta e tal milhões de habitantes... Depois deste país africano, é o Brasil o país onde há mais negros, razão pela qual os negros e seus descendentes constituem a maioria da sua população brasileira. Sendo o Brasil um cadinho de raças e culturas, obviamente tem um pouco da cultura de cada uma destas nações... Mas a cultura africana faz-se onipresente em todos os aspectos da vida cultural brasileira: seja na música, esporte, culinária, no linguajar, na beleza da mulher tão festejada internacionalmente, etc. Mas a cultura africana, não conseguiu, infelizmente, transmitir aqui, um dom, que faz parte da sua idiossincrasia – o respeito que os mais jovens devem dedicar aos mais-velhos! Gostaria de mostrar aqui como os africanos encaram esta fase da nossa vida, ou melhor, daqueles que chegam a ficar velhos; porque só se chega a ficar velho quem não morreu ainda jovem, óbvio! Os jovens devem total obediência e veneração aos mais velhos, isto por força da tradição que formula normas precisas para o efeito as quais não podem ser violadas sem graves conseqüências para a comunidade. Em África, mesmo a que foi colonizada pelos lusos, a idade e a ancianidade, além de ser uma qualidade biológica, é, sobretudo, uma qualidade social, pois, através dos anciãos – quase despegados dos vivos e assimilados aos mortos – manifesta-se o poder dos antepassados. Não fossem estes, na terra, os seus dignos representantes, intermediários que lhes prestam o culto supremo. Assim sendo, a rede de relações sociais caracteriza-se por uma relativa e clara hierarquização baseada na sucessão cronológica das pessoas. É por isso, que o velho em África é, não só respeitado, mas completamente venerado pelos mais novos e se ama a Pátria porque é Terra dos antepassados. Como fiquei aqui, em Tocantins, com cabelos brancos e barba branca, um dia que for a Angola, tenho a certeza que serei recebido com toda a veneração que se dedica aos “mais- velhos” sábios... E as angolanas gostarão certamente de ver o meu novo charme – os meus cabelos grisalhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário