MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O QUE EU NÂO DISSE NA ENTREVISTA...

Fui entrevistado pela TV cultura no Dia Internacional da Mulher. Queria dizer mais algumas coisinhas, mas não foi possível por questões de tempo. Assim, aproveitaremos este espaço para continuarmos falando sobre a mulher. A primeira teoria do novo feminismo é Betty Friedan, que em 1963 publica La femme mystifiée, triste quadro da vida das americanas. Neste livro ela fala da alienação da mulher numa sociedade que se recusa qualquer identidade própria, que a obriga a “abafar a própria personalidade” e que a constrange à “existência por procuração”. Deixando-a existir somente em relação ao marido, aos filhos, ao lar... É isso que Betty Friedan denuncia. A mulher confinada ao lar, acantonada num papel de esposa-mãe-dona de casa e considerada como simples objeto de desejo e de prazer. A mulher vítima do “chauvinismo masculino” e do “colonialismo sexual”. A mulher mantida em empregos ou em salários inferiores: segundo a revista Time, nos Estados Unidos as mulheres ocupam apenas 10% das profissões liberais, e o salário médio das trabalhadoras atinge somente 58,2% do dos trabalhadores. Aqui não deve ser diferente! A “mulher mistificada” por uma cultura feita por e para os homens, uma cultura que nega a sua própria identidade. Nesta cultura de supremacia masculina, as mulheres constituem uma classe “colonizada”, uma classe oprimida, que só se define em relação ao seu opressor: o homem. Há manifestos mais recentes da contestação feminina. Como “La femme eunuque” de Germaine Greer. Como a tese de Kate Millet, “Sexual Politics” (versão em português : A Política do Mal). Outro livro interessante da Kate Millet é: “A Política do Macho”. Este livro é antes de mais nada uma declaração de guerra ao machismo e aos corifeus literários, para os quais a mulher só existe em relação a uma única referência, o homem: prostituída na obra de Henry Miller, colonizada nos livros de D.-H. Lawrence, assassinada na obra de Norman Mailer. É também um requisitório contra Freud, que alicerça toda a personalidade profunda da mulher naquilo a que chama “o desejo do pénis”. Para Freud a mulher sente um complexo de castração e aspira a um estado biologicamente impossível: ser homem. Para Kate Millet, ao contrário, a condição feminina não é fato natural, mas de cultura. Tem razão... O meio cultural influi no desenvolvimento psíquico da criança. Enquanto continuarmos a tratar cada sexo diferentemente no plano da educação, no sentido mais geral do termo, isto é, de forma não igualitária, não será possível saber se o que distingue as moças dos rapazes no domínio do comportamento é de ordem biológica ou de origem cultural. Não pretendo acabar com todas as diferenças de comportamento entre os homens e mulheres: porque são evidentes. O que digo, nos exorta Kate, é que a sociedade faz tudo o que está em seu poder para desenvolver essas diferenças. Hoje, ninguém pode provar que as mocinhas, ao nascerem, têm uma natureza inata que predetermina todos os papéis que terão de desempenhar na sociedade. Na verdade, são a sociedade, a cultura de supremacia masculina que mantêm deliberadamente a mulher em condição subordinada. Impondo uma verdadeira “política do sexo”. Efetivamente, é político tudo o que implica uma relação de domínio, sejam entre classes, raças, países ou sexos. . Como Simone de Beauvoir diria de bom Grado: “Não se nasce mulher, vem-se a ser Mulher.”

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