MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ECOLOGIA E A CONCEPÇÃO DO MUNDO

Alguns pensadores que atualmente se interessam pela questão ambiental numa perspectiva filosófica ressaltam que talvez o traço mais marcante da civilização moderna tenha sido a ideia de que o ser humano é tão mais humano quanto mais consegue estender o seu controlo sobre todos os níveis e planos de existência. Em face desta civilização que perdeu a noção de limite, a noção de medida, a crise ecológica passa a ser vista como o sintoma de um desequilíbrio cujas causas vão muito além de fenômenos como a poluição industrial ou efeito de estufa. Para aqueles que pensam a questão ecológica nos seus aspectos filosóficos e espirituais, é de singular importância a construção de uma ética que se baseie num sentido de respeito e cordialidade para com a natureza que nos envolve e a natureza que somos. Penso que tal ética poderá surgir a partir da superação da visão do mundo que tentou reduzir todos os seres à condição de objetos submetidos à racionalidade do cálculo e da produção. Essa ética, por sua vez, implica uma mudança radical na nossa maneira de compreender o lugar do ser humano no universo, o nosso lugar entre os outros seres. Uma das características do processo civilizacional vigente é a ideia de que o homem é livre para fazer qualquer coisa, desde que tenha capacidade para levá-la à prática. Em contrapartida, os valores avançados por algumas correntes do pensamento ecológico destacam a importância de desabrochar dentro dos limites que nos são próprios, respeitando os limites de todos os seres. Estes pensadores ambientalistas definem a ética ecológica como sabedoria necessária para redescobrir a prática dos nossos deveres e obrigações em relação ao cosmos. A opção civilizacional mediante a qual o homem se erigiu em valor absoluto, fundamento de toda a verdade e realidade, não é uma questão sem conseqüências para a vida política. Ao contrário: ela constitui o fundamento dos modelos políticos hegemônicos neste século. O questionamento deste paradigma tem-se vindo a dar em múltiplos campos do conhecimento e a prática social. Daí a necessidade das universidades do nosso estado fazerem um estudo multidisciplinar sobre o tema. Temos três renomados filósofos na UFT - Silvalino Miranda e Fábio -, um teólogo, um curso de Engenharia Ambiental e uma docente em Direito Ambiental... Quem sabe se não seria interessante fazermos um estudo sistêmico e multidisciplinar sobre o tema? Lanço o repto... A partir do inicio da década de 70, surge um conjunto de movimentos que constituem simultaneamente como expressão e resposta à crise de civilização que atravessa todos os níveis da realidade social na qual vivemos. Chamados ‘movimentos contra-cultura’ e depois ‘alternativos’, a sua melhor designação talvez seja ‘movimentos emergentes’ – pois não só emergem da crise de civilização, como fazem também emergir algumas questões de fundo. Estes movimentos são portadores de valores que anunciam, ainda que de maneira parcial e tateante, uma nova visão do mundo. Dos movimentos da consciência negra, dos índios, das minorias étnicas, dos movimentos pacifistas, do feminismo e outros, surge um conjunto de experiências em todo mundo que comungam da convicção de que a luta por uma transformação da sociedade exige uma mudança não apenas dos objetivos do sistema, mas na dinâmica deste sistema. A consciência de que a questão política se funda na questão civilizacional faz com que estas idéias estejam diretamente vinculadas às novas concepções da ciência, à busca do sagrado, ao conjunto de valores culturais chamados ‘pós-materialistas’. É também através de um pensar que questiona os seus próprios fundamentos, de uma razão que inquieta sobre si mesma e busca transcender as amarras reducionistas, que começa a brotar uma nova postura civilizacional. Ciência e poesia, razão e mistério, polis e cosmos: são múltiplas experiências que se tornam presentes no ser humano.

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