MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O verdadeiro sentimento islâmico

As relações de força não se medem apenas em relação ao número de armas ou das bases sociais de apoio. Deve-se levar em consideração imagens, informações produzidas ou reproduzidas, ilusões ou realidades. O Cinema e agora a televisão parecem ter sido particularmente vocacionados para registrar os grandes conflitos armados e transformar a guerra num sistema de representação contra o Outro. Quando os ocidentais financiam documentários sobre a Guerra no Médio Oriente ou sobre a cultura desses povos tem-se a impressão de que estes são todos fanáticos, maus, violentos e terroristas... Isso não é verdade! A língua árabe é a única no mundo que a palavra “homem” deriva da raiz “simpatia”. É certo, então, acreditar que não haveria um fim para o conflito dos mulçumanos e seus vizinhos, já que a guerra sagrada (jihad) contra os infiéis é um dever islâmico? O ideal islâmico da vida ideal é a sociabilidade, não a guerra. Quase não se menciona a guerra no Corão (alcorão) ao contrário do que dizem. O Profeta, retornando de uma de suas campanhas militares, exprimiu o grande prazer de agora se poder voltar da “guerra menor” para a “guerra maior”, que se trava dentro da alma de cada pessoa; e, ao longo dos séculos, o lado espiritual do islamismo tornou-se cada vez mais presente nas vidas particulares dos seus crentes. Syyd Ahmad Khan (1817- 98), por exemplo, argüiu que a guerra sagrada só era um dever para os mulçumanos se estes estivessem impedidos de praticar a sua própria religião. Foi o sentimento de não merecer o devido respeito, e de ser humilhado pela guerra das cruzadas impetrada pelos ocidentais e pela colonização e agressão, que fez os versos “guerreiros” pontificarem uma vez mais a necessidade imperiosa de “enaltecer as virtudes do islamismo” contra a “cultura ocidental de agressão e humilhação”. Os mulçumanos, para quem não sabe, são tão herdeiros do legado da Grécia antiga quanto os cristãos. Inclusive, O Ocidente somente teve conhecimento dessa cultura helenista (que é sua) através dos árabes. O escritor Abu Bajkr Tufayl (falecido em 1185), demonstrou através dos seus escritos que muitos aspectos do islamismo, racionais, místicos, legais e políticos, coincidem e combinam com a civilização ocidental. O poeta indonésio, Hamzah Fansuri, autor de “A bebida dos Amantes” insistiu na opinião de que Deus pode ser visto em qualquer pessoa e em todas as coisas, e que as diferenças superficiais entre os seres humanos não nos devem enganar. No entanto, tudo faz crer que o fundamentalismo cerrou a cortina entre o islamismo e o Ocidente, e com isso todas as possibilidades de aceitação mútua. A palavra “fundamentalismo” foi empregada pela primeira vez na década de 20 por seitas protestantes dos EUA, onde, agora, cerca de um quarto dos habitantes compartilham das mesmas atitudes e filosofia religiosa... Como uma atitude, o fundamentalismo reaparece de quando em quando na história. Sabia que nos EUA também existem fundamentalistas? São cristãos que não querem, segundo disseram seus escritos, “horizontes abertos para seus filhos” e são contra “ a extensão da hospitalidade a idéias estranhas que pretendem controlar seus filhos” e que para isso “torna-se necessário a todo custo protegê-los da conduta imprevisível de outras crianças perniciosas”; e, assim sendo, preferem retirar-se para “o mundo mais seguro”. O terrorismo não tem nada haver com a religião e cultura mulçumanas. No entanto, essa idéia errônea seria impensável sema imprensa de grande tiragem e da programação televisiva, uma e outra alimentando-se regularmente de fatos e motivos sensacionalistas que colocam o público totalmente desinformado a ponto de pensarem que todo árabe é mulçumano e fundamentalista e que ser mulçumano é ser terrorista ! Questões mais complicadas deixo para o renomado jurista e escritor, Dìdimo Heleno Povoa Aires, meu amigo, que se tornou um dos maiores especialistas sobre o assunto em nosso país.

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