MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

POETA ANGOLANO ALEXANDRE DASKALOS





Alexandre Daskalos nasceu no Huambo em 1924. Fez a instrução primária e secundária nesta cidade, na altura, conhecida como Nova Lisboa. Frequentou, a partir de  1942,  o liceu de Sá da Bandeira  (Lubango) onde concluiu o 7º ano. Mais tarde seguiu para Lisboa, matriculando-se na Escola Superior de Medicina Veterinária, tendo-se licenciado cinco anos depois. Regressou a Angola em 1950. Faleceu no sanatório de Caramulo em 1961. Nos anos 60, foi publicado um opúsculo de quatro poemas seus na "colecção Bailundo", dirigida pelo poeta Ernesto Lara Filho e Rebelo de Andrade. Publicou Poemas (1961), Poesia de Alexandre Dáskalos (edição póstuma 1975) .


Um poema de Alexandre Dáskalos
Que é São Tomé
I

Quatro anos de contrato
com vinte anos de roça.

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné

Eu foi São Tomé!

Calção e boné
boné e calção
cabelo rapado
dinheiro na mão...

Agora então volto
mas volto outra vez
à terra que é nossa.
Acabou-se o contrato
dos anos na roça

Eu vi São Tomé!

Cuidado com o branco
que anda por lá...
Não sejas roubado
cuidado! cuidado!
Dinheiro de roça
ganhaste-o. Té dá
galinhas... e bois...
e terras... Depois
já tiras de graça
o milho da fuba,
o leite, a jinguba
e bebes cachaça.

Eh! Vai descansado,
dinheiro guardado
no bolso da blusa.

Que é São Tomé?

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné.

II

Este mente, aquele mente
outro mente... tudo igual.
O sítio da minha embala
aonde fica afinal?

A terra que é nossa cheira
e pelo cheiro se sente.
A minha boca não fala
a língua da minha gente.

Com vinte anos de contrato
nas roças de São Tomé
só fiz quatro.

Voltei à terra que é minha.
É minha? É ou não é?

Vai a rusga, passa a rusga
em noites de fim do mundo.

Quem não ficou apanhado?
Vai o sono, vem o sono
vai o sono
quero ficar acordado.
No meio da outra gente
lá ia naquela corda
mas acordei de repente.

Quero ficar acordado.

Onde está o meu dinheiro,
onde está o meu calção
meu calção e meu boné?
O meu dinheiro arranjado
nas roças de São Tomé?

Vou comprar com o dinheiro
sagrado da minha mãe
tudo quanto a gente come:
trinta vacas de fome,
galinhas... de papelão.

Vou trabalhar nesta lavra
em terra que dizem nossa
quatro anos de contrato
em vinte anos de roça.

Eu foi São Tomé!

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné.

Aiuéé!

(No reino de Caliban II -  antologia
panorâmica de poesia africana de ex-
pressão portuguesa)

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