MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ANTERO ALBERTO ERVEDOSA-ESCRITOR ANGOLANO







A quem direi quem és e o que queres
Senão ao sol à chuva, ai, senão
À queimadura ao verme aos malmequeres
A quem direi, enfim, vê se não
é verdade que tudo o que disseres
volta à ponta do fio do balão
quer buscava em vão amanheceres
entre as névoas, o frio do tufão
que soprava violento mas seguro
assim tu o pensavas, gentile-zas
que nós nos damos e vê
como o passado trai o que é futuro
e o que pensavas só felicidade
ainda busca direitos de cidade
A Quem Direi. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p.29


Antero Alberto Ervedosa de Abreu é o nome completo de Antero de Abreu, nascido em Luanda a 22 de Fevereiro de 1927. Fez os seus estudos primários e secundários em Luanda, tendo concluído o liceu nessa cidade. Partiu em seguida para Portugal para estudar direito, primeiro em Coimbra e posteriormente em Lisboa, onde terminou o curso. Enquanto estudante em Lisboa foi dirigente da Casa dos estudantes do Império – CEI, sendo membro da geração da Mensagem.
“Tem-se dito e redito que de cada geração fica meia dúzia de poetas e de cada poeta meia dúzia de poemas, exumados em antologias. Se assim tiver de acontecer com algumas poesias deste e do outro livro, a unidade deles pouco interessará, afinal.” Palavras do escritor sobre a sua escrita. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p.7
Após a sua formação exerceu advocacia em Luanda, tendo sido após a independência Procurador-geral da República, cargo que exerceu durante vários anos e posteriormente Embaixador da República de Angola na Itália. Actualmente reside em Portugal por questões de saúde.
Enquanto estudante foi membro do Cineclube de Luanda, escrevendo crítica de cinema na revista Prisma. Como advogado durante o tempo colonial foi membro activo no incremento associativo e cultural de Luanda, integrado no Departamento cultural da Associação dos Naturais de Angola – ANANGOLA. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos.
Era o tempo da rua despovoada
Escorria das paredes o musgo do abandono
E o esquecimento gotejava as horas
Sob o charco empedrado do silêncio
Era o tempo dos crepúsculos baixos
Das janelas neutras e cerradas
Era o tempo do cágado
(Morena veio à porta e
Viu o cágado
Atravessar a deserta rua
Silencioso, incógnito e determinado
Entre os perigos inexistentes)
Era o tempo em que a presença dum cágado
Preenchia a humana e inquieta solidão
Extractos do poema “Era o tempo”. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p.15
Os seus primeiros poemas foram publicados no Meridiano Boletim da Casa dos Estudantes do Império em Coimbra. Os seus poemas e contos encontram-se publicadas em diversas revistas e páginas literárias tais como: Mensagem (CEI), Via Latina, Mensagem (ANANGOLA), Cultura (II), ABC, A Província de Angola, Itinerário, Vértice, e outras mais.
Também possui textos publicados em algumas antologias: Antologia Poética Angolana (1950), Poetas Angolanos (1959), Antologia Poética Angola (1963), Mákua, III (1963), No Reino de Caliban. Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa.
As suas obras publicadas são: A tua Voz Angola (1978), Poesia Intermitente (1978), Permanência (1979), Textos sem Pretexto (1992).
Antero de Abreu é considerado por Francisco Soares um dos escritores mais ligados à mentalidade formadora dos autores da revista Mensagem. A sua lírica “revela um sentido do ritmo (rima) diferente do dos seus companheiros, bem como uma intensificação e uma variedade maiores no uso dos recursos retóricos e nas relações intertextuais que constroí.” Sobre os poemas escritos na época do liceu, este crítico diz que: “eram os únicos a revelar uma amadurecida absorção do verso e da estrofe modernistas.” In: Francisco Soares. Notícia da Literatura Angolana. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001. Colecção Escritores dos Países de Língua Portuguesa, n.º 22, p.195.
Da flor o vulto
Da pedra o sumo
Do sonho o húmus
Do sono o fumo
Extracto de “Prisão”. In: Antero de Abreu. Poesia Intermitente, Luanda, UEA, 1989, p. 14.

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