José Vieira Mateus da Graça, LUANDINO VIEIRA, nasceu em 4 de Maio de 1935. Veio para Angola aos três anos de idade. Foi preso em 1959. Voltou a ser preso em 1961 e condenado a 14 anos de reclusão. Solto em 1972, fixou residência em Lisboa, onde trabalhou numa editora. Regressou a Luanda em 1975. Cargos diretivos no MPLA. Presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. Obra de ficção muito premiada. As suas poesias estão dispersas por publicações periódicas e representadas em várias antologias, das quais uma - No Reino de Caliban - reúne toda a sua obra poética.
Obra poética:Têm seis poemas publicados em antologias diversas.
Estrada
Luanda Dondo vão, cento e tal quilômetros mangas e cajus marcos brancos meninos nus Branco algodão crescendo corpos negros na cacimba O Lucala corre confiante indiferente à ponte que ignora Verdes matas Sangram vermelhas acácias imbondeiros festejam o minuto da flor anual Na estrada o rebanho alinha pelo verde verde capim Adivinhados caqui lacraus de capacete giz trazem a morte Meninos se embalam em mães velhas de varizes: Rios azuis da longa estrada E é fevereiro sardões as sol Cassoalala Eia Mucoso tão cheio agora Adivinhados permanecem lacraus caqui capacetes giz Não param as colheitas Que razão seriam fevereiro acácias sangrando vermelho verdes sisais cantando o parto da única flor? Não param as colheitas! (No reino de Caliban II - antologia panorâmica de poesia africana de ex- pressão portuguesa)
Canção para Luanda
A pergunta no ar no mar na boca de todos nos: - Luanda onde está? Silêncio nas ruas Silêncio nas bocas Silêncio nos olhos - Xê mana Rosa peixeira responde? - Mano Não pode responder tem de vender correr a cidade se quer comer! "Ola almoço, ola almoçoéé matona calapau ji ferrera ji ferrerééé" - E você mana Maria quitandeira vendendo maboque os seios-maboque gritando saltando os pés percorrendo caminhos vermelhos de todos os dias? "maboque, m'boquinha boa dóce dócinha" - Mano não pode responder o tempo é pequeno para vender! Zefa mulata o corpo vendido batom nos lábios os brincos de lata sorri abrindo o seu corpo - seu corpo-cubata! Seu corpo vendido viajado de noite e de dia. - Luanda onde está? Mana Zefa mulata o corpo-cubata os brincos de lata vai-se deitar com quem lhe pagar - precisa comer! - Mano dos jornais Luanda onde está? As casa antigas o barro vermelho as nossas cantigas trator derrubou? Meninos das ruas caçambulas quigosas brincadeiras minhas e tuas asfalto matou? - Manos Rosa peixeira quitandeira Maria você também Zefa mulata dos brincos de lata - Luanda onde está? Sorrindo as quindas no chão laranjas e peixe maboque docinho a esperança nos olhos a certeza nas mãos mana Rosa peixeira quitandeira Maria Zefa mulata - os panos pintados garridos caídos mostraram o coração: - Luanda está aqui! (No reino de Caliban II - antologia panorâmica de poesia africana de ex- pressão portuguesa)
Sons
A guitarra é som antepassado Partiram-se as cordas esticadas pela vida. Chorei fado. Que importa hoje se o recuso: o ngoma é o som adivinhado (No reino de Caliban II - ANTOLOGIA
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