DAS BELEZAS IDÍLICAS À CATÁSTROFE
Quando se percorre as maravilhosas cidades de Santa Catarina, temos a impressão de que alguma fada amiga e benfazeja distribuiu, a granel, pelos montes e pelos vales desse encantador Estado, como acontece com a região do vale de Itajaí, o melhor e mais bucólico das Écoglas, o mais romântico e, também, poético dos idílicos de Teócrito... Santa Catarina foi sempre charmosa. Tem a Cidade das Flores, Joinville, que ganhou esse apelido por causa dos seus belos e imensos jardins. A Festa das Flores, em novembro, que leva centenas de visitantes à cidade. O Festival de Dança, outro grande evento cultural, considerado o maior da América Latina em abrangência de gêneros e número de participantes. Terras que pertenciam à nobreza e que faziam parte do dote de Dona Francisca, filha de Dom Pedro I, e foram vendidas por seu marido, o Príncipe de Joinville, à companhia de Colonização Hamburguesa. Os primeiros imigrantes, alemães, suíços e noruegueses, chegaram em 1851. Já lá habitavam açorianos e madeirenses. E, quando se percorre Florianópolis, que fica a 180 quilômetros de Joinville, Blumenau... Embalados por um céu esplêndido e pelo colorido da explosão da primavera? Aí, obviamente, lembraríamo-nos do mais poético labor das Geórgicas de Virgilio e, sem nenhum receio, diríamos: o Éden bíblico deve ter existido em toda Santa Catarina, como existiram as ilhas eleusinas dos felizes e bem aventurados semi-deuses da mitologia grega! Mas assim como a história de Antígona que é uma história de humildade, de dor e sacrifício, os catarinenses viram, pouco e pouco, suas casas, as árvores, os vales, os campos, os vales a desaparecerem na sombra esvanecente dos olhos... A noite que era um esplendor, agora quando chega apenas se vislumbra pequenos pontos luminosos das casas que sobraram e por mais frágil que eles sejam – são as únicas coisas que nada perdem do seu valor em face da imensa tragédia – Talvez, representam a única esperança em dias vindouros. Numa situação feliz, rejubilamo-nos sempre com toda nossa força, acalentamos uma confiança impensada e nada conhecemos para além do nosso presente. No entanto, quando atingidos pela dor, pela fraqueza, pela impotência como aconteceu em Santa Catarina, desesperamo-nos... E se conseguirmos vencer essas situações drásticas e continuarmos vivos, certamente aprendemos muito com experiências vividas e certamente passaremos a ver que não temos o domínio total da natureza como almejamos ou pensamos; porque o próprio domínio da natureza é aleatório. Que ela, a natureza, constantemente ameaçada, quase sempre ‘vinga-se’ e, que a comunidade humana é a única garantia da existência que encontramos. Em situações-limite, o homem congrega-se numa espécie de bloco para restringir a interminável luta contra infortúnios que o acometem, às vezes, até com intenção de aboli-las, mas, nesse caso particular, os esforços para dominar a natureza são infrutíferos e aí soçobram, para além das belas miragens de épocas tranqüilas em que os limites estavam velados, o solo firme que nos suporta – a terra natal, os pais, os filhos, a esposa, os esposos, irmãos e os amigos... E quando o solo que era firme desaba aos nossos pés, morrem os familiares e amigos, como aconteceu? Nessas situações mais cruciantes, as pessoas mesmo anteriormente isoladas, sempre convivem e contam umas com os outras, para obterem segurança por via da solidariedade recíproca, até na própria impotência... Vimos, também, com a mobilização nacional de ajuda aos catarinenses, que solidariedade é a primeira riqueza dos catarinenses, é a qualidade cardeal de todos brasileiros e, que daqui, brota e se mantém todo o seu profundo humanismo. Viva o povo brasileiro!
In Palmensis Mirabilis de joão Portelinha
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