Motivações que agem nos recônditos do poder
A questão da motivação dos políticos é crucial neste debate. Tem-se argumentado comumente, (por ex: na escolha da vida pública) que o interesse deles é pessoal porque “buscam o poder” nas eleições ou de outra maneira. Buscar o poder político é realmente a definição de um político. Mas qual a razão dos políticos buscarem o poder? O poder não é algo que se possa comer ou qualquer coisa do gênero. É o meio para fazer coisas, como diz a minha filha Loara de dez anos. Então, o seu valor obviamente deveria depender do que você pode ter por ele. Se o objetivo final se consubstanciasse apenas na obtenção da riqueza ou consumo, então as habilidades e a energia dos políticos seriam usadas mais proveitosamente nos negócios privados – pelo menos em alguns regimes... Ora, políticos em busca do poder têm a seguinte e interessante lógica, no meu ponto de vista: como o poder político capacita-nos a fazer coisas públicas buscam o poder para buscar o poder, e assim por diante. Assim, como hão de convir comigo, não existe nenhum resultado final para eles. Portanto, na visão geral da economia, essa atividade seria simplesmente inútil e eles não deveriam buscá-lo nem gastar energia nisso, se fossem homens “racionais”... Mas eles realmente se dedicam a essa atividade, geralmente com muito vigor, dedicação, energia e tempo. Uma explicação possível seria de que eles gostam justamente do processus em si, como um jogo ou atividade “final”. Mas esse gosto pelo processo é classicamente denominado “irracional” nessa visão do homem. E é difícil e desconcertante fazer com que a explicação do sistema se baseie inteiramente na conduta irracional. Outra alternativa é que os políticos estão na política para honrarem “a tradição política da família” e coisas do gênero... Para Mills, a elite do poder é de fato um “grupo de status” no sentido Weberiano do que uma “classe” no sentido marxista. Assim, estar no poder ou buscar permanentemente o poder deriva da detenção de certos “papéis” estratégicos. Na sociedade moderna, o poder está institucionalizado. Entre as instituições, pelo menos três possuem uma posição axial: A instituição política, econômica e a militar (mais relevante nos países pouco democráticos). Por isso mesmo, os que estão colocados à frente dessas hierarquias institucionais se sucedem, sendo familiares ou não, ocupando os postos de comando estratégico da estrutura social. Em resumo, na sociedade, as “decisões-chave” (key decision) são tomadas um escol que é composto pelos dirigentes dessas instituições que cada vez mais se encontram concentradas e, entre elas, existe uma solidariedade inquebrantável, cada vez maior e intercambiáveis. Tais hierarquias institucionais penetram-se, compenetram-se, e entre as mesmas a circulação faz-se fácil e frequentemente. Porque à frente delas estão dirigentes cujas origens de consangüinidade, de classe, status, formação e interesse são idênticos. Muito deles, da mesma família se sucedem por séculos no poder. Uma vez “mais progressistas” que os seus progenitores e outras vezes mais retrógrados mesmo. No entanto, as similitudes sociais, as afinidades psicológicas, as coincidências de interesses e objetivos que os unem são mais fortes, às vezes, que qualquer laço de parentesco. Outra descrição ou alternativa menos severa é que os políticos buscam o poder porque ele os capacita implementar a sua concepção do que é bom e justo para a sociedade, servir o povo ou ao país. Talvez educando as pessoas no processo, ou simplesmente implantando o que eles querem. Contudo, essa conduta politicamente ética, infelizmente nem todos os políticos possuem. Na realidade, a resposta para a questão do que os políticos buscam é ao mesmo tempo óbvia e irredutível a uma asserção simplista. Não haja dúvidas de que eles querem trabalho, posição, fama, influência, o exercício do poder, o ideal, a serem úteis e serem reconhecidos como tal, atividade, o desafio, a auto-imagem, a riqueza (mais difícil agora com a Lei da Responsabilidade Fiscal), os benefícios adicionais, etc. Isso os tornaria diferentes do resto da humanidade? Creio que não. As relações desses elementos entre si e com outras conseqüências conjuntas, causas conjuntas ou causa e efeito, e, com igual conseqüência, competem entre possibilidades. Portanto, separar as várias motivações e confrontrá-las muitas vezes não é um exercício relevante. Contudo, as razões pelos quais as pessoas se dedicam à política constituem uma auto-seleção que pode oferecer aos políticos uma mistura um tanto particular de motivações. Entre elas, as que conduzem a implementação dos seus projetos, ideais, bem como, as de cunho familiar ou simplesmente a busca de celebridade Há toda uma necessidade imperiosa de se fazer uma análise sobre este assunto numa dimensão humana em todas suas vertentes.
In "Palmensis Mirabilis" de João Portelinha