MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


domingo, 25 de outubro de 2009

Motivações que agem nos recônditos do poder


A questão da motivação dos políticos é crucial neste debate. Tem-se argumentado comumente, (por ex: na escolha da vida pública) que o interesse deles é pessoal porque “buscam o poder” nas eleições ou de outra maneira. Buscar o poder político é realmente a definição de um político. Mas qual a razão dos políticos buscarem o poder? O poder não é algo que se possa comer ou qualquer coisa do gênero. É o meio para fazer coisas, como diz a minha filha Loara de dez anos. Então, o seu valor obviamente deveria depender do que você pode ter por ele. Se o objetivo final se consubstanciasse apenas na obtenção da riqueza ou consumo, então as habilidades e a energia dos políticos seriam usadas mais proveitosamente nos negócios privados – pelo menos em alguns regimes... Ora, políticos em busca do poder têm a seguinte e interessante lógica, no meu ponto de vista: como o poder político capacita-nos a fazer coisas públicas buscam o poder para buscar o poder, e assim por diante. Assim, como hão de convir comigo, não existe nenhum resultado final para eles. Portanto, na visão geral da economia, essa atividade seria simplesmente inútil e eles não deveriam buscá-lo nem gastar energia nisso, se fossem homens “racionais”... Mas eles realmente se dedicam a essa atividade, geralmente com muito vigor, dedicação, energia e tempo. Uma explicação possível seria de que eles gostam justamente do processus em si, como um jogo ou atividade “final”. Mas esse gosto pelo processo é classicamente denominado “irracional” nessa visão do homem. E é difícil e desconcertante fazer com que a explicação do sistema se baseie inteiramente na conduta irracional. Outra alternativa é que os políticos estão na política para honrarem “a tradição política da família” e coisas do gênero... Para Mills, a elite do poder é de fato um “grupo de status” no sentido Weberiano do que uma “classe” no sentido marxista. Assim, estar no poder ou buscar permanentemente o poder deriva da detenção de certos “papéis” estratégicos. Na sociedade moderna, o poder está institucionalizado. Entre as instituições, pelo menos três possuem uma posição axial: A instituição política, econômica e a militar (mais relevante nos países pouco democráticos). Por isso mesmo, os que estão colocados à frente dessas hierarquias institucionais se sucedem, sendo familiares ou não, ocupando os postos de comando estratégico da estrutura social. Em resumo, na sociedade, as “decisões-chave” (key decision) são tomadas um escol que é composto pelos dirigentes dessas instituições que cada vez mais se encontram concentradas e, entre elas, existe uma solidariedade inquebrantável, cada vez maior e intercambiáveis. Tais hierarquias institucionais penetram-se, compenetram-se, e entre as mesmas a circulação faz-se fácil e frequentemente. Porque à frente delas estão dirigentes cujas origens de consangüinidade, de classe, status, formação e interesse são idênticos. Muito deles, da mesma família se sucedem por séculos no poder. Uma vez “mais progressistas” que os seus progenitores e outras vezes mais retrógrados mesmo. No entanto, as similitudes sociais, as afinidades psicológicas, as coincidências de interesses e objetivos que os unem são mais fortes, às vezes, que qualquer laço de parentesco. Outra descrição ou alternativa menos severa é que os políticos buscam o poder porque ele os capacita implementar a sua concepção do que é bom e justo para a sociedade, servir o povo ou ao país. Talvez educando as pessoas no processo, ou simplesmente implantando o que eles querem. Contudo, essa conduta politicamente ética, infelizmente nem todos os políticos possuem. Na realidade, a resposta para a questão do que os políticos buscam é ao mesmo tempo óbvia e irredutível a uma asserção simplista. Não haja dúvidas de que eles querem trabalho, posição, fama, influência, o exercício do poder, o ideal, a serem úteis e serem reconhecidos como tal, atividade, o desafio, a auto-imagem, a riqueza (mais difícil agora com a Lei da Responsabilidade Fiscal), os benefícios adicionais, etc. Isso os tornaria diferentes do resto da humanidade? Creio que não. As relações desses elementos entre si e com outras conseqüências conjuntas, causas conjuntas ou causa e efeito, e, com igual conseqüência, competem entre possibilidades. Portanto, separar as várias motivações e confrontrá-las muitas vezes não é um exercício relevante. Contudo, as razões pelos quais as pessoas se dedicam à política constituem uma auto-seleção que pode oferecer aos políticos uma mistura um tanto particular de motivações. Entre elas, as que conduzem a implementação dos seus projetos, ideais, bem como, as de cunho familiar ou simplesmente a busca de celebridade Há toda uma necessidade imperiosa de se fazer uma análise sobre este assunto numa dimensão humana em todas suas vertentes.

In "Palmensis Mirabilis" de João Portelinha

A FUNÇÃO DA COMUNICAÇÃO POLÍTICA

A comunicação política é o processo de transmissão pelo qual a informação política circula de um lado para outro do sistema político, e entre este e o sistema social. É um processo contínuo de troca de informações entre indivíduos e os grupos em todos os níveis. É, especialmente, uma troca de informações entre governantes e governados, de forma assegurar o seu acordo. Com efeito, todo e qualquer governante procura fazer aceitar as suas decisões e cada governado tenta formular e fazer tomar em consideração as suas necessidades. O acordo entre os dois termos não pode realizar-se a não ser pela comunicação, isto é, pela troca.

A comunicação política assegura a adequação entre os governantes e os governados por troca permanente de informações... Os governantes devem ser o eco das aspirações, das reclamações e das exigências dos governados; estes devem aceitar as decisões coercivas tomadas pelos governantes. Esta aproximação efetua-se por troca de mensagens dos governantes para os governados, mas também dos governados para os governantes.

A comunicação corresponde, portanto, a uma exigência fundamental do sistema político. “pode escrever-se que a comunicação política está para o sistema político como a circulação sanguínea” para o corpo humano, diz o cientista político Milbrath.

Quais são os suportes da comunicação? Por que meios a informação é difundida, veiculada? É possível distinguir, sobretudo três meios de comunicação. A comunicação pelos mass media. Quer se trate dos media impressos (imprensa, livro, cartaz, etc.) quer dos media eletrônicos (rádio televisão, Internet etc.). A comunicação pelas organizações também é importante. Como os partidos políticos que servem de ligação entre governantes e governados e os grupos de pressão. Assim, todos governantes elaboram uma decisão a partir do enxergam. Por conseqüência, a única maneira de influir numa decisão é atuando sobre as percepções daqueles que as tomam. A comunicação será, portanto, a única maneira de mudar ou de influir numa percepção. A comunicação por contatos informais é bastante importante nestes casos... Este modo de comunicação por relações “face a face” é essencial nas sociedades tradicionais. Mas mantém importância nas sociedades desenvolvidas, apesar do desenvolvimento dos mass media. Os mass media não atingem o púbico como um bloco indiferenciado, A massa na qual se cria a opinião comporta-se como se estivesse estruturada. Os seus efeitos fazem-se sentir por intermédio de certas pessoas que desempenham neste processo o papel de incentivadores e de ligação: os “opinion leaders” (os formadores de opinião ou os comandantes de opinião, como se diz nos EUA). Cada um deles influência os membros do “grupo primário” (família, grupo de trabalho, etc.) ao qual pertence.

Cada sistema político desenvolve a sua própria rede de comunicação política. Em função, por exemplo, das suas possibilidades e do seu desenvolvimento econômico. Porque há estreita relação entre o nível de desenvolvimento econômico e o nível de desenvolvimento dos mass media. Há, ao mesmo tempo, uma relação mais geral entre a comunicação e o desenvolvimento político. Isso porque as estruturas de comunicação social desenvolvem-se paralelamente aos sistemas políticos. Por outro lado, o grau de autonomia das estruturas de comunicação permite distinguir os sistemas liberais dos sistemas autoritários, procurando estes últimos controlar estreitamente a comunicação política para moldar a opinião pública. É por isso que a sociedade brasileira está muito atenta quando se discute qualquer coisa que se relacione com o controle dos meios de comunicação.

In "palmensis Mirabilis" de João Portelinha

AUTORIDADE OU LIBERDADE?

Assisti nestes últimos dias quase todas as palestras sobre educação ministradas por ilustres e diversos especialistas em educação. Apercebi-me, também, pelas questões apresentadas na ocasião pelos pais e professores que a preocupação maior seria se os organismos que se propõem cuidar da educação dos nossos filhos deveriam ter mais autoridade ou não. De fato, muitas vezes hesitamos, assumimos posições contraditórias e oscilamos de um comportamento para o outro. Na realidade, os pais sentem cada vez mais sua autoridade contestada, já não sabem se a devem abandonar ou acentuá-la. Apercebem-se da inadequação das modalidades anteriores da sua presença, mas não descortinam que modalidades novas as devem substituir. Em suma, pensam dever escolher entre a autoridade e a liberdade. Por conseguinte, para clarificar o “problema do melhor comportamento”, há que elucidar estes dois conceitos.

Aquilo a que se chama atitude autoritária é fácil de definir. É a que atua por coação, independentemente das suas modalidades, as quais variam em função dos países, épocas e, sobretudo, costumes de grupo, dos meios socioeconômicos e profissionais, da personalidade e da psicologia dos pais. Será, pois, mais ou menos regressiva, consoante os casos, e recorrerá a diversos tipos de sanções. Mas implica sempre que o pai exerça a sua “soberania” e não se preocupe com a adesão dos filhos às suas estipulações.

Aquilo que se designa por atitude liberal é igualmente simples de definir. É a que evita a imposição e busca a adesão. Mas pode exercer-se de formas muito variadas: entre a simples busca de uma atitude benevolente, que se esforça por evitar as sanções, e o extremo de uma posição libertária, há uma infinidade de graus e variantes. A própria “autodisciplina” envolve uma multiplicidade de modalidades possíveis. Se o principio é claro, as realizações resultam demasiado diversas para que a utilização imprecisa da expressão permita saber sob a que comportamento concreto corresponde.

Há que se acrescentar que a situação recíproca destas duas tendências é muito paradoxal. Com efeito, a atitude autoritária foi e continua sendo constantemente criticada. De Rabelais e Montaigne até à psicologia contemporânea, as suas insuficiências e perigos foram demonstrados com clareza. No entanto, apesar dessa argumentação, não foi adotada ou degenerou num abandono no qual alguns autores vêm a fontes de muitos males da nossa sociedade e tentam então reabilitar uma atitude autoritária. Ora, em todos esses debates, o problema é colocado em termos de escolha. Opõe-se uma educação pela liberdade e uma educação pela autoridade, como se uma e outra se excluíssem. Assiste-se a uma oscilação que leva, consoante os casos, a preferir uma à outra, e verifica-se o malogro de ambas. A meu ver, existe aí um erro de método, tanto do ponto de vista teórico com prático. Na verdade, na educação não se deve escolher entre liberdade e autoridade, mas sim entre tipos de autoridade e tipos de liberdade. Assim, a autoridade pode ser tirana, representando fraqueza, modo que certas formas de liberalismo. Estas duas formas de fraqueza encontram-se, por vezes, em momentos diferentes, no mesmo educador. Ao invés, existe uma forma de autoridade que emana do prestígio e, nessa medida, é suficientemente forte para reconhecer zonas de liberdade às crianças e adolescentes. Analogicamente, a liberdade pode ser concedida a estas. De forma gradual e deliberada, com fins lucidamente educativos. Pode também ser uma forma de abandono, de desinteresse a seu respeito, apresentar-se como solução de facilidade e provir então da negligência. Há, pois, diversas formas de autoridade e liberdade que se devem distinguir e analisar. Contentarmo-nos em opor os dois termos é superficial e enganador. É por isso que muitos debates educativos se mantêm verbais e insignificantes. Opõem-se conceitos que não têm a mesma significação para todos os interlocutores: há, portanto, que ultrapassar essa oposição. De resto, ninguém vive impunemente as delícias dos extremos, como eu costumo a dizer...

In “palmensis Mirabilis” de João Portelinha

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

A nossa representação política

É extremamente difícil fazer-se uma tipologia dos Partidos. No entanto a meu ver são possíveis duas noções de partidos: uma geral e universal, e, em certo sentido, material, considera o partido como a “qualificação de um movimento de idéias centralizado no problema político e cuja originalidade outra é suficientemente percebida pelos indivíduos, para que estes aceitem ver nele uma realidade objetiva independente dos comportamentos sociais”; outra noção, de caráter mais formal, prende-se à natureza do liame que reúne os indivíduos no partido e à delimitação de seus objetivos imediatos. Na verdade, extrema variedade de partidos torna bastante difícil a formulação de um conceito de validade universal, devendo-se concluir em face de cada caso concreto, e tendo em conta o respectivo sistema jurídico, se se trata ou não de um partido político. Quanto à natureza jurídica dos partidos, poucos autores sustentam que eles sejam pessoas jurídicas de direito privado. Inúmeros autores atribuíram aos partidos a natureza de entes auxiliares do Estado, ao afirmarem que são “entidades sociais tendentes a transformarem-se em entidades”. Na realidade os partidos são instituições dotadas de personalidade jurídica e situadas no âmbito do direito público interno. Apesar disso, entretanto, ao renovar a legislação sobre os partidos, o legislador brasileiro optou pela expressa qualificação dos partidos políticos como pessoas jurídicas do direito privado (Lei 9.096, de 19 de setembro de 1995, artigo 1). Quanto à organização interna os partidos, eles podem ser considerados: partido de quadros e partido de massas. Os partidos de quadros estão mais preocupados com a qualidade dos seus membros do que com a quantidade deles, não buscam reunir maior número de integrantes, preferindo atrair as figuras de notáveis, representativos das elites sociais. Esses notáveis são desejados, seja pelo seu prestigio, que lhes confere influencia sobre os eleitores, seja pela sua fortuna, que contribui para cobrir as despesas das campanhas eleitorais. Mais do que a quantidade de filiados, importa a sua qualidade. Os partidos de massas buscam o maior número possível de adeptos, sem qualquer espécie de discriminação, procuram servir de instrumento para que os indivíduos de condição econômica inferior possam aspirar às posições de governo. Para, além disso, os partidos se distinguem pelas suas opções políticas e ideológicas. Interessante é que em alguns casos independentemente das suas ideologias e sua vocação, por necessidade ou vantagens, agrupam-se em opiniões convergentes, criando-se uma força grupal capaz de superar obstáculos político- ideológicos e de conquistar o poder político. Foi o que aconteceu dia 08 de outubro com a eleição para governador do estado. Como se verificou, no momento de votar foram sempre os interesses que determinaram o comportamento do eleitorado (deputados), ficando em plano secundário a identificação do partido com determinadas idéias políticas. A par disso, os partidos são acusados pela sociedade de se terem convertido em meros instrumentos para a conquista do poder, uma vez que atuação dos deputados, neste caso, não condiz com idéias enunciadas nos programas dos seus partidos pelos quais foram eleitos pelo povo. No entanto, eu vejo vantagens... É sempre mais fácil governar sem oposição e nos demonstra a capacidade de articulação do novo governador! Gostaria de alertar aqui para um fato político importante. Muita gente pensa que as alianças que foram feitas agora que permitiram este “governo de coalizão” é uma estratégia para as eleições de 2010! É um grande erro pensar-se assim. Em 2010 há outros interesses; alguns partidos representados no governo estadual vão ter o seu próprio candidato a governador e também dependerá das alianças feitas em Brasília para as eleições presidências que certamente vão se refletir aqui e noutros estados.

sábado, 3 de outubro de 2009

A imagem é de um livro alemão de educação infantil

A EDUCAÇÂO SEXUAL DOS NOSSOS ADOLESCENTES

É sabido que as deficiências educativas dos nossos adolescentes são inúmeras e talvez o desfazamento entre a informação e a educação tenha hoje tendência para se acentuar. Ora, entre uma e outra existem grandes diferenças. A primeira exerce-se no plano intelectual, elucida sobre a estrutura anatomo-fisiológica da espécie humana e dirige-se, como que anonimamente, à inteligência. A segunda, ao invés, exercer-se no plano afetivo e moral e dirige-se à personalidade e consciência na sua intimidade.

É certo que a primeira é frequentemente negligenciada - muitos adolescentes, de ambos os sexos, acolhem com apreensão a sua própria puberdade. No entanto, nos nossos dias, muitos fatores concorrem para a informação: a liberação dos costumes, o espetáculo da rua, a preocupação de alguns pais e a Escola, contribuem muitas para isso, direta ou indiretamente. E esta difusão crescente da informação representa um progresso indiscutível. Mas isso não basta. Há também necessidade de uma educação que integre a informação na personalidade do individuo e lhe permita assimilá-la. Quanto maior e mais precoce for a informação, mais exige uma educação. Ora, é permitido pensar que muitos desconhecem a distinção dos dois domínios. Todavia, para que a educação sexual seja possível, impõe-se duas condições: em primeiro lugar, é necessário que exista entre o educador e o educando um entendimento suficientemente simples e confiante para que se possa estabelecer um diálogo que incida em questões reais; há igualmente necessidade da existência de um acordo, pelo menos virtual, entre eles sobre valores morais. A família, que seria o local ideal para essa educação, não a pode assumir se as citadas condições não forem satisfeitas. É por essa razão que a instituição escolar pública está mais bem situada para a informação do que para educação, devido a um estatuto que deveria proibir o corpo docente de impor uma moral qualquer ou rejeitar outra. Mas, hoje em dia, a precariedade de todo o acordo, o esboroamento das idéias em todos os domínios e, sobretudo, a incerteza de cada um perante convicções dantes bem arraigadas e solidamente reafirmadas são de tal ordem, que se tornou cada vez mais difícil satisfazer essas condições de assegurar semelhante tarefa, o adolescente se encontra só e sem possibilidade de diálogo, a não ser com companheiros aos quais se deparam com os mesmos problemas. A puberdade precoce também se reveste de incidências gerais sobre a personalidade no seu conjunto, na medida em que provoca uma maturação psicológica mais rápida. É só ficarmos atentos à propaganda televisiva que se esta fazendo sobre um lançamento de um livro sobre sexo, numa hora imprópria, que diz: faça sexo gostoso... É bom para todas as idades... O meu filho de cinco anos já me perguntou se também podia fazer sexo! Pai, é para todas as idades... Não ouviu na televisão? Essa maturação psicológica mais rápida que me referia, faz haver atritos com os adultos, porquanto o adolescente é levado a reivindicar rapidamente formas de autonomia que outrora, só mais tarde eram desejadas ou reclamadas.

Compreende-se, pois, o espanto das gerações anteriores que têm a recordação de só haver sentido ou manifestado muito mais tarde os comportamentos, atitudes e sentimentos que hoje detectam nos indivíduos cuja idade civil levaria a considerar ainda crianças. Esta surpresa, que se transforma em confusão, surge com nitidez na vida familiar, onde o assombro por notar tão cedo as características da adolescência e os sintomas da sua crise. Também se manifesta no meio escolar. Quando a puberdade surgia mais tarde e a escolarização era mais breve, os alunos eram essencial e quase exclusivamente crianças. Hoje elas cresceram mais depressa e contribuem para aumentar a massa de adolescentes e o volume de reivindicações, nomeadamente em matéria de orientação e de formação profissionais, de tempos livres e, de um modo geral, de integração na sociedade. Houve quem afirmasse que se situava aí uma das causas da delinquência. De qualquer modo, concebe-se bem o sentimento de revolta que provoca a impressão de ser tratado, mais segundo a sua idade civil do que em conformidade com a idade biológica, por educadores que não discerniram as modificações. Importam, pois, que estes últimos saibam adaptar-se à situação, cujos aspetos novos não descortinam suficientemente.

Há, entre a criança e o adulto, diferenças sólidas, “A criança” dizia Rousseau, “tem maneiras de ver, pensar e sentir que lhe são próprias, e não há nada tão insensato como pretender substituí-las pelas nossas”.

In “Palmensis Mirabilis” de João Portelinha