SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA UFT
(TESTEMUNHO DE UM PARTICIPANTE DA SUA CRIAÇÂO)
Para falarmos da sua criação é imperioso fazê-lo tendo em conta a rica e conturbada história da UNITINS, que tem como uma das suas marcas principais a busca dos estudantes pela permanente autonomia e democracia universitárias, enfrentando, assim, com passeatas e greves, até de fome, todas manobras que preconizassem sua privatização. É por isso, que estes eventos, devem ser considerados não somente como marcos históricos do Estado, mas em particular, da própria criação da UFT, que aparece como um capítulo nos 18 anos de existência de uma outra instituição de ensino superior do Estado do Tocantins.
A Unitins foi criada como fundação universitária. Embora tivesse passado por diversas mudanças de regime. Em 1992, ela foi transformada em autarquia do governo; em 1996, volta a possuir uma fundação para sua administração, dessa vez de direito privado. A autarquia não é extinta de imediato e é previsto um processo para sua extinção, que previa uma sobrevida de oito anos... Ao final de 1996, foi instituída a cobrança de mensalidades dos alunos. Naquela época o general Nazareth, então reitor da Unitins, dizia que o regime que se praticava naquela instituição acadêmica “era uma espécie de pacto entre alunos, universidade, sociedade e governo, em que além da existência da fundação – que administrava a verba das mensalidades – e da autarquia - recebia verbas do governo estadual” -, a manutenção da Unitins era garantida ainda com verbas do governo Federal. Em fevereiro de 2000, são publicadas no Diário Oficial de Tocantins - Leis 1.126 e 1.127 -, reestruturando a fundação e criando, a Unipalmas, que herdaria o patrimônio do campus da Unitins em Palmas. Os outros campis continuariam com a Unitins. O curso de medicina veterinária do campus da Unitins em Araguaia foi “transferido” para o Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos, ITPAC, uma instituição privada de ensino superior. As mensalidades do curso, que eram em torno de 220 reais, chegaram a 584 reais! Uma série de medidas desta natureza tinham sido tomadas, estranhamente, no período em que os discentes estavam de férias e os docentes de recesso, no sentido de desobrigar o Estado de financiar a Unitins, passando-a para instituições privadas. Na realidade, estávamos na época de FHC e o Conselho Nacional de Educação estimulava o crescimento descontrolado de faculdades e cursos privados. Era de fato uma política tendente a privatização da universidade pública brasileira! A Unitins somente estava materializando os ditames dessa política. Foi por tudo isso, que os alunos, criaram então o SOS Unitins e realizaram diversas assembléias nos campi da universidade para discutir questões como autonomia e democracia participativa. Naquela altura não se falava ainda em federalização da Unitins, mas sim, de uma Unitins gratuita e questionando a transferência do curso de Araguaína para o ITPAC. Note-se que a nossa atuação no Movimento, como professores, era bastante exígua, já que a relação jurídico – laboral com a instituição era precária – éramos todos contratados! Lembro-me, como se hoje fosse, em 31 de março, após uma grande manifestação no Espaço Cultural de Palmas, onde os estudantes Élsio Paranaguá, presidente do DCE, Orion Milholmem, Ricardo Aires, Sergio Lorentino – que patrocinou com seus próprios cheques a campanha do SOS UNITINS, presidente da Federação Tocantinense de Estudantes de Direito (FATED), Aldenor Lisboa, Vice-Presidente do DCE, Ademir estudante de Administração, JB e turma da Engenharia Ambiental, Marivaldo e turma de Arquitetura, Rizia, Auro e turma da comunicação social, etc. – os quatro primeiros então estudantes do Curso de Direito - decidem, em assembléia, entrar em greve. Apenas estavam presentes quatro professores; eu, Deocleciano - ajudando na mobilização e sensibilização dos grevistas - Marli e o professor José Manoel Miranda... É que os professores naquela altura tinham receio de perder os seus empregos.... Os estudantes do Curso de Direito da Unitins, embora fossem os precursores das passeatas e greves em prol das reivindicações já atrás expostas, dois deles estranhamente não aderiram à greve!? E sabem o que aconteceu? Eu e o Deocleciano (um dos poucos docentes protagonistas da luta pela federalização da UFT, hoje esquecido...) fomos obrigados, embora contrariados, lecionarmos para estes dois acadêmicos!
Bem, após um dia de intensa mobilização dos estudantes, fizemos uma passeata pela cidade de Palmas, indo do ministério Público Federal, para entregarmos uma representação contra o governo estadual. Seguimos em direção ao Espaço Cultural onde o senador Eduardo Siqueira Campos estava assumindo a Secretaria de Governo do Estado. Tinha-se preparado para ele uma grande homenagem, com outdoors, presença de políticos do Estado e do Congresso Nacional... Foi quando os estudantes apareceram, cantaram o Hino Nacional, de costas para o palco. Em função deste movimento, houve posteriormente, mais precisamente, em 28 de abril de 2000, um acordo entre as autoridades públicas do governo estadual e os lideres estudantis para a gratuidade da Unitins. Em 23 de outubro de 2000, também, como consequência de toda esta luta titânica feita pelos estudantes, edita-se a Lei 10.032, criando a Universidade Federal do Tocantins, pública e gratuita. Em 15 de maio de 2003, três anos depois, os primeiros professores concursados tomam posse na instituição... Mas antes desta data, outra também importante, foi a do primeiro concurso da UFT, do qual fiz parte, num momento trágico da minha vida! É que eu estava fazendo a prova exatamente no momento em que o meu pai estava morrendo em Angola. Entre prantos e telefonemas, fiz o concurso e passei... Hoje me arrependo profundamente de não ter ido ver o meu papai pela última e derradeira vez. Na altura, pensei que estava fazendo a coisa certa. Como podem ver, fiz parte de todos estes marcos da história da nossa universidade; 28 de abril de 2000, 23 de outubro de 2000 e 15 de maio de 2003... Com tudo isso, logicamente, estou a vontade para dizer, que o dia 15 de maio de 2003, embora seja uma data importantíssima na história da nossa Universidade, não deve ser considerada a data da criação da UFT. Corroborando com Ricardo Aires: “... Seria o mesmo que dizer que Tocantins não teria sido criado em 5 de outubro de 1988, mas somente na data em que tomaram posse os primeiros servidores públicos concursados pelo Estado”. Duas coisas me orgulham de ter feito na vida: ser um dos protagonistas da independência de uma Nação, como ex-guerrilheiro do MPLA e ter feito parte da criação da UFT. Isto, como é obvio, sem descorar minha participação na implantação de vários cursos de Direito no Estado. Estes foram os fatos ocorridos antes mesmo do dia 15 de maio de 2003, data da nossa posse.... Assim, a mais jovem, bela e prospera Universidade brasileira, muito bem conduzida pelo ilustre Prof. Alan Barbiero, é a maior e melhor obra do povo Tocantinense e como tal, todos nós uftistas*, sem exceção, sentimo-nos deveras orgulhosos!
VIVA A UFT! VIVA OS UFTISTAS!
O uftista,
João Portelinha, professor.
* palavra por mim criada, neste instante, significando aquele que construiu a UFT ou que a ela tem amor...
3 comentários:
Grande Portela,
Como protagonista e vivenciador de uma luta brava e heróica, então na qualidade de presidente do DCE, o vosso relato da história que fora encabeçada, principalmente, pelos estudantes, pelo ideal de uma universidade livre, gratuita, autônoma e de qualidade, veio bem a calhar. Parabéns pelo seu texto.
No Tocantins, as pessoas que aqui chegam e ocupam posições de destaques são esporadas pela abelha do messianismo. Buscam a todo custo apagar a história de outros, em um verdadeiro culto a pessoa do "eu". Eu fiz isso, eu fiz aquilo e etc.
O que será da história deste Estado, se não existirem pessoas altruístas como você?
Recentemente, Eu e Orion movemos uma ação popular contra a Reitoria e a UFT, para que fosse incluída no calendário acadêmico da UFT, a data de sua criação e que a mesma pudesse ser prestigiada, já que custou muito suor, lágrimas e abnegação de toda uma geração de estudantes da UNITINS, a hoje UFT.
A ação ganhou repercução na mídia. Confesso que fiquei estarrecido com alguns artigos em sites travestidos de “jornalistas", com comentários odiosos, desleais e indignos a minha história e a do Orion.
Ora, tudo que fizemos em prol da existência de uma instituição universitária pública e gratuita neste Estado, e hoje, em mais uma luta vitoriosa, já que foi feito um acordo com a instituição, onde será incluída a data de criação da UFT no seu calendário acadêmico, reverenciando assim a luta dos estudantes de uma geração, sermos tratados como oportunista e que só buscam os holofotes midiáticos, é deslealdade.
Isto no remete a fazermos uma reflexão sobre o comportamento da pessoa humana, e chegamos a uma conclusão de como uma parcela é mesquinha e pequena.
A nossa juventude é formada, em grande quantidade, por críticos incapazes de construírem algo, por isso, destroem as obras daqueles que se dispõe a fazer. Mas como dizia Abraham Lincoln: “Para você que está chegando agora, criticando o que está feito, deveria estar aqui na hora de fazer. Não sejas um especialista em usar a crítica ao que está feito como pretexto para nada fazer."
Recebo todas as críticas com altivez, visto que os meus atos continuam a incomodar os "críticos incapazes". Luto e continuarei a lutar por ser este um princípio que me norteia, e anexo ao meu currículo de vida, mais esta vitória de luta.
Por fim, gostaria muito poder reencontrar o amigo e que o encontro fosse regado a um bom vinho.
Um abraço a família.
O meu respeito e um grande abraço.
Do amigo ELSIO PARANGUÁ LAGO.
Amigo Elsio Paranaguá
Que prazer! Vocês são os verdadeiros protagonistas desta grande obra chamada UFT! E tu te deves sentir orgulhoso por seres um dos mentores de tudo isso! Um grande abraço
Amigo Elsio Paranaguá
Que prazer! Vocês são os verdadeiros protagonistas desta grande obra chamada UFT! E tu te deves sentir orgulhoso por seres um dos mentores de tudo isso! Um grande abraço
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