MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


sábado, 16 de outubro de 2010

CONVERSA COM A LOARA SOBRE DILMA

                  
 A minha filha Loara está pesquisando, tanto em livros quanto na internet, tudo que se relaciona com as “Amazonas”!  E é todos os dias aquela coisa... O pai sabia que no séc. III a.C. as Amazonas já teriam atingido a Grécia, antes apenas se conheciam localizadas na Ásia Menor e que durante séculos as suas estórias povoaram os imaginários de Gregos e Romanos e mais tarde com Colombo o mito foi transposto para o Novo Mundo?  Que a presença das famosas guerreiras na guerra  de Tróia ficou como elemento importante do mito e na Ilíada. Príamo recorda os tempos em que ele e os seus homens as combateram. Eles consideravam-nas mesmo «antineirai» que significa «equivalente aos homens», portanto seus pares. O herói da Ilíada Aquiles travará um combate com Pentesileia, rainha das Amazonas!   Sim, minha filha, inclusive os especialistas dizem que mito das Amazonas encontra-se em todos os continentes, excepto na Oceânia. Elas são dadas como certas na  China, nas «ilhas misteriosas», em relatos de navegadores árabes do séc. XI a XIII. Através do folclore da Escandinávia, da Rússia, da Boemia, de África e das Índias... Podemos seguir o rasto de relatos da sua existência e concluir que as Amazonas impressionaram vivamente homens de todos os tempos. Elas foram e são um tema recorrente e têm servido de inspiração a obras literárias e seduziram e seduzem pintores, escultores, compositores, autores de teatro. Isso tudo, caros leitores, explicado por mim para não “fazer feio” numa discussão com uma “especialista” de treze anos que passa a vida vasculhando tudo sobre o seu predileto objeto de estudo – AS AMAZONAS!
 Houve uns dias de trégua, mas ontem voltou à carga... O pai sabia que na América Portuguesa também se divulgou o mito. Em 1576, Pêro de Magalhães Gândavo chamava ao grande rio Maranhão «Rio das Amazonas» comprovando a divulgação do mito no nordeste brasileiro?
   Eu já enjoado do assunto, disse-lhe, citando Camões: Que cessem as amazonas e as musas do sábio Grego e do Troiano. Da fama e das vitórias que tiveram; que eu canto o peito ilustre ango-brasileiro: A quem Nepturno e Marte obedeceram: Cesse tudo o que a Musa Antígua canta que outro valor mais alto se levanta! (poema de Luiz de Camões adaptado).  Por que não falar das amazonas angolanas e brasileiras? – Questionei.  Aquelas mulheres guerreiras que ajudaram a derrubar a ditadura no Brasil?  As que derrubaram preconceitos de toda a espécie e cada dia lutaram contra a dominação colonial, no caso de Angola, contra invasões estrangeiras, contra a cultura, política e religiões impostas, que se notabilizaram e não são muito faladas?  E que às vezes são deturpadas suas histórias?  Deturpadas?  Sim filha! Disse-lhe. É o caso da candidata Dilma, por exemplo.  Tanto Serra como ela foram militantes estudantis, em 1964, quando os militares, teimosos e arrogantes, resolveram dar um golpe militar no Brasil. Com alguns tanques nas ruas, muitas lideranças, sem compreenderem o momento histórico brasileiro foram para o Chile, França, Canadá, Holanda. Viveram o status de exilado político durante longos 16 anos. Outros, porém, foram verdadeiros heróis, que pagaram com suas próprias vidas, sofreram prisões e torturas infindáveis, realizaram lutas corajosas para que, hoje, possamos viver em democracia plena, votar livremente, ter liberdade de imprensa. Nesse grupo está Dilma Rousseff. Uma lutadora, fiel guerreira da solidariedade e da democracia. Foi presa e torturada. Não matou ninguém, ao contrário do que informa vários e-mails clandestinos que circulam Brasil afora. Somente por estes fatos, Dilma Rousseff guerreira, deve ser considerada uma heroína e não terrorista! Os mal intencionados querem inverter tudo! Os ditadores passam a ser os heróis e os que lutaram contra eles e o seu terror, são considerados terroristas! Dá para entender isso? Outra coisa, minha filha, as mulheres são a maioria no Brasil e presença feminina no primeiro escalão das capitais brasileiras é, além de minguada, concentrada apenas áreas sociais. Com a Dilma, é uma grande oportunidade que as mulheres têm de estarem dignamente representadas! Afinal elas são a maioria... Segundo levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SEPM) nos recém-nomeados secretariados de 26 capitais mostra que 59,9% das mulheres titulares atuam apenas em áreas como educação e assistência social. O Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Cfemea, diz que ainda não foi desconstruído o mito de que as mulheres são naturalmente adequadas apenas para o espaço privado - a casa e a família!  Não podemos tratar isso como uma mera coincidência, como se as mulheres não se interessassem por outras áreas!  Na verdade, mesmo com qualificação igual ou superior ao homem, as mulheres ganham menos e são descriminadas. E pior, do que isso, ainda há barreiras de desconfiança em relação à capacidade das mulheres de liderar e de lidar com cargos públicos no primeiro escalão. Uma pesquisa feita recentemente sobre um retrato da sub-representação feminina nas secretarias e constatou que apenas 19,9% desses cargos de confiança são ocupados por mulheres e que São Paulo ficou com o posto de segunda pior capital no quesito equilíbrio de gêneros em seu secretariado. Isso acontece também no âmbito federal!  Não há dúvida de que o poder é uma cena masculina, as mulheres são preteridas na política e em algumas áreas específicas. Está longe o dia em que os homens vão aceitar as mulheres atuando na política em pé de igualdade.  Mas verdade, também, que alguns homens lutaram sempre a favor das mulheres. Há um dado histórico interessante e que vem a propósito do assunto.  Ao contrário dos outros países, o movimento pelo voto feminino no Brasil partiu de um homem, o constituinte, baiano, médico e intelectual, Cezar Zama, que na sessão de 30 de setembro de 1890, durante os trabalhos de elaboração da primeira Constituição Republicana, defendeu o sufrágio universal, a fim de que as mulheres pudessem participar efetivamente da vida política do país. Em 1891, 31 constituintes assinaram uma emenda ao projeto de constituição de autoria de Saldanha Marinho, conferindo voto à mulher brasileira. Em Minas Gerais, em 1905, três mulheres se alistaram e votaram, mas foi um caso isolado. Em 1917, o deputado Maurício de Lacerda, apresentou a emenda nº 47, de 12 de março daquele ano, que alterava a lei eleitoral de 1916, e incluía o alistamento das mulheres maiores de 21 anos. Essa emenda foi rejeitada pela comissão de justiça, cujo relator Afrânio de Mello Franco a julgou inconstitucional por ter um grupo de mulheres presentes que era contra o voto feminino e nessa ocasião afirmou: “as mulheres brasileiras, em sua grande maioria, recusariam o exercício do direito de voto político, se este lhe fosse concedido” Em 2010, a história se repete, é um homem que apresenta uma candidata para a Presidência da República com chances de ganhar. É bom que as brasileiras não percam a boa chance de terem uma mulher na presidência! O Brasil podia ser o primeiro país a ter o voto feminino...  Mas naquela altura as próprias mulheres recusaram o exercício do direito ao voto!  Agora não percam mais uma oportunidade!  É bom refletirem...


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