MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

           PREFÁCIO


        O descritivismo pictorial em OCO DO MUNDO


Autor: João Portelinha

        A regra é clara, normalmente, aquele que escreve um livro convida alguém tão ilustre ou mais ilustre para prefaciar seu trabalho. Mas o escritor e advogado JUAREZ MOREIRA FILHO preferiu ver seu livro prefaciado por alguém que não é tão ilustre como ele nem tão ilustre como os prefaciadores das edições anteriores. A minha sorte é que o valor da obra OCO DO MUNDO, fez esgotar rapidamente tais edições e com a sua reedição, a terceira, tenho oportunidade e a honra de prefaciar esta maravilha da nossa literatura!
         O livro terá certamente várias categorias de leitores; de um lado, os estudiosos do regionalismo brasileiro; de outro, os amantes da boa leitura. Atrevo-me a dizer que para uns e para outros a leitura desta obra será sumamente proveitosa.
         Um lugar à parte na obra do autor é ocupado pelo romance poderosamente estruturado e de um estilo sempre admirável. Numa apresentação tão sucinta como esta, não é possível pôr em relevo as múltiplas qualidades que o fazem, com toda justiça, ser admirado por uma multidão de fiéis leitores, pois sua vasta obra está em todas as livrarias da nossa capital, nas bancas de revistas e na própria Internet.  
         Entende-se por romance regionalista, aquele que põe o seu foco em determinada região do nosso imenso Brasil, visando retratá-la, de maneira mais superficial ou mais profunda, conforme o gosto de quem a escreve. Além disso, são sempre marcados por um “pequeno realismo”, como afirma o estudioso Nelson Wernek Sodré, que está preocupado em retratar minúcias da linguagem, dos costumes, do folclore e em valorizar o caráter grandioso da natureza brasileira, a flora e a fauna.  Embora todos estes requisitos sejam abundantes neste romance, Juarez vai mais longe, o OCO DO MUNDO, vilarejo aludido no livro, não é um lugar geograficamente localizável no mapa do país, por ser ficcional. No entanto, com o seu descritivismo pictorial bem trabalhado no romance, o autor remete-nos necessariamente para este vilarejo igual a tantos outros numa região geograficamente reconhecível - o norte de Goiás. E confirmando muito mais um compromisso com as tradições regionalistas desta região específica do que propriamente com a toponímia destes lugares com características comuns como Porto Nacional, Natividade, Paraná, Cristalândia, Dueré, que o autor conhece muito bem e, inclusive tendo morado nesta cidade, onde viveu a sua infância, em época uma região de exploração de cristal de rocha.
         Em seu romance devemos admirar as descrições do vilarejo OCO DO MUNDO, em cujo cenário se desenrolam grande parte dos acontecimentos; as ruas, os larguinho do povoado, os latidos dos cães vagabundos, os gatos “exodozados’, o Vai- Quem - Quer que movimentava a corretela, as corridas de jegues, os circos pobres, bem como a pintura das personagens que, em maior ou menor grau, estão em contato com o protagonista: os meninos, os palhaços, os tocadores de violas, as mocinhas querendo se perder, o folclore, a idiossincrasia do povo sertanejo, seus usos e costumes. Nos dramas, revela-se grande artista por uma concentração tão  intensa, que o leitor é arrastado pela ação, do começo ao fim. Qualquer aspecto retratado no livro, mesmo quando descreve os aspectos escusos da vida humana, como o filho “aloucado” de seu Ferreiro e Dona Fia, o Cego Frazão, ilustre violeiro, retrata-os com muita mestria, imprime às suas criações força surpreendente e fá-los figuras principais do seu romance. Cada um destes é representado como uma personalidade individualmente caracterizada, e em nenhum lugar se encontram tipos irreais, tipos inventados. Essas descrições, cuja veracidade ninguém poderá negar um instante sequer, fá-lo um grande pintor da realidade.
         A realidade regional no romance é onipresente. Trata das condições de vida de gente humilde. Suas descrições baseiam-se na mais aguda observação das circunstâncias e dos homens do sertão bruto, cheio de miséria e totalmente desprotegido pelo poder público.
   Quando absorvemos na leitura às condições de vida tão bem descrita pelo autor, temos necessidade de respirar profundamente e pensar nos meios de extinguir, um dia, semelhante miséria. O realismo das discrições faz-nos sonhar com novas e melhores condições de vida e desejar sua efetivação.
                  “Mudam os tempos e, com eles os homens”, afirma um dos nossos velhos provérbios. Com a modernização das técnicas agrícolas, o êxodo rural, o desenvolvimento das cidades e de uma literatura urbana, alguns chegam até a vaticinar o desaparecimento do regionalismo!  Que mude o que tiver que mudar, mutatis mutandis, que mude, por exemplo, a pobreza, o isolamento, a falta da atenção do poder público no sertão!
         No entanto, duma coisa acreditamos, se houver adeptos como Juarez Moreira Filho e Obras como OCO DO MUNDO, este tipo de literatura vai permanecer, contrapondo todas expectativas  pessimistas, pois, o que se vê aqui é o engrandecimento do regionalismo, na pena deste notável escritor, “em que o homem é a expressão maior de toda a criação literária”, como bem disse o grande escritor José Mendonça Teles.
          O romance OCO DO MUNDO trás em seu final um GLOSSÁRIO “de ternos e expressões regionais dicionarizados e não dicionarizados”, onde o escritor Juarez teve a louvável preocupação não só com os leitores em si, mas também com a pesquisa e o alunato. Portanto, uma visão de escritor, leitor, e concomitantemente de educador, uma vez que também é professor.
         Resta-nos apenas agradecer a este gênio da nossa literatura tão representativo, que pode ser considerado um dos melhores escritores regionalistas do Brasil, conhecido nacionalmente, mas essencialmente tocantinense, por nos ter brindado esta obra reeditada, que vem estampada, como sempre, com o estudo circunspecto e profundo da personalidade do povo sertanejo. 

                   OBRIGADO JUAREZ!          

                                                       
Palmas, 08-01-2010

            João Rodrigues Portelinha da Silva
          Presidente da Academia Palmense de Letras

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