In “O Dia que Zumbi Descobriu Portugal “
De João Portelinha
Procurei a mulher mais linda de Angola, Pérola! Não podia ter outro nome...
......João de Oliveira, o emissário de Ferreira, sentiu o rosto ruborizar-se, mas não disse nada. Vestiu-se com um gibão de mangas almofadadas, calções limpos e meias de seda, um longo manto cinzento jogado em seu braço direito, e um chapéu com aba larga enfeitado com penas brancas. Acalmou-se com o pensamento de que, se aquele ex-escravo e seus fugitivos pudessem auxiliá-los na batalha contra os holandeses, nenhum preço seria exageradamente elevado por seu apoio, nem mesmo o orgulho e a honra de um senhor de engenho.
Horas depois foram em caminhados para a embala de Nganga Nzumba..
Após as saudações formais e exageradas. Os emissários do senhor Ferreira disseram-no que tinham um presente especial para ele. João de Oliveira, o chefe da missão fez apresentação:
- Um presente, Alteza, para o senhor!
Indecisa, a jovem escrava deteve-se. Embora desejasse prosseguir a marcha, deu apenas um passo a frente, e ficou esperando de um gesto ou uma ordem de Nganga.Nzumba. Seus cabelos negros com trançados africanos, a expressão ligeiramente distante no olhar, um jeito todo especial de fazer beicinho... Nganga levantou-se do seu trono, coisa rara de acontecer!
- aproxime-se – indicou, e a escrava deu alguns passos à frente, chegando mais perto de um rico tapete persa estendido no chão. Nganga Nzumba examinou-a detidamente agarrou-lhe a mão e proferiu algumas palavras numa língua angolana. Nganga Nzumba apercebeu-se que estava ficando sem ar, especialmente quando a luz do sol ia desvendando aquele corpo de cor de cobre, seios voluptuosos, lábios carnudos, pés descalços e muito lindos, cheia de adornos, com pulseiras de cobre nos braços e tornozelos e lindas miçangas no pescoço...
- Ela é muito linda e é do reino do Bailundo! Ela é escrava ou é livre? Perguntou Nganga Nzumba.
João de Oliveira baixou os olhos. Parecia estar assustado com a pergunta.
- É escrava, Majestade!
- Então, agora não é mais! Todos escravos que chegam à nossa terra são pessoas livres. Você quer ficar aqui como uma pessoa livre ou voltar para o engenho? Nem estava à espera da resposta. Era apenas uma forma de dizê-la que a partir daquele momento era senhora do seu destino. Pois, Nganga em nenhum momento pensou em deixá-la ir. Existe uma proibição no quilombo dos palmares: uma pessoa que se torna súdito de Nganga não pode voltar aos portugueses jamais. Se um desertor é apanhado, é condenado à morte.
Os soldados da guarda pessoal de Nganga aproximaram-se, e um deles começou a empurrar uma das pernas da garota para mostrar-lhe que deveria andar. O outro soldado insinuou empurrar suas nádegas. Com um gesto rápido Nganga demonstrou total desagrado. Aquela cena fez com que os que assistiam começassem a rir:
Deixem a Tchirombô a vontade! Agora ela é uma pessoa livre – disse irritado e com ar de reprimenda.
Tchirombô tremia. O colar e seus adornos balançavam. Ela não olhava para Nganga, mas mantinha os olhos fixos à sua frente. Então quando começou a caminhar, Nganga pegou-lhe a mão, e levou-a para o seu lado.
Então Nganga deu atenção ao emissário do senhor Ferreira que havia se aproximado do tapete.
- Vocês nem respeitam a realeza africana! Esta mulher - apontando para Tchirombô – pertence à corte do reino do Bailundo, é parente do rei. É uma vergonha o que vocês nos fazem! – Disse todo irritado e levantado-se. Assim a reunião ficou adiada sine die por conta deste dramático episódio que perturbou bastante Nganga Nzumba. Naquele momento era mais importante Tchirombô que qualquer outra coisa! Tinha aprendido a fala dos humbundos com Tchingira, na sua corte, em Angola e é nesse idioma angolano que os dois tinham conversado um pouco, mas que fora o bastante, para ele entender perfeitamente que ela tinha uma origem nobre.
Afastando-se depressa e acompanhada por um pagem que lhe fora cedida na ocasião, Tchirombô retornou aos seus aposentos. Cerrou a porta, sem dirigir mais nenhum olhar para Nganga Nzumba, que a observava com manifesta inquietude, meditando sobre as poucas palavras que lhe dissera no dia que o foi presenteado, e querendo averiguar a natureza dos sentimentos que o afligiam, bem como dos planos que faria com ela. Tomado de grande tristeza, pensou em conversar novamente com Tchirombô. Esta não saira do seu aposento desde a sua chegada, o que o fazia ficar bastante preocupado. Absorto nos seus pensamentos, mais uma vez recapitulava tudo quanto se propusera dizer, em que pesasse a sua pouca experiência nessas coisas de namorar, já dera freqüentes provas da sua coragem e máscula energia. Mesmo assim, sentia-se invadido de incomodo nervosismo e exaltação, que se intensificavam, quanto mais se aproximava do quarto onde estava Tchirombô. As aves noturnas começavam a descrever círculos em torno das fortificações da embala. Quando se aproximou, a passo cauteloso, constatou que a porta do quarto da Tchirombô estava semi-aberta...
- Posso entrar Tchirombô, sou eu Nganga?
- Por favor, senhor – respondeu Tchirombô.
Embora um pouco nervosa, suas feições formosas e joviais permaneciam sempre iluminadas de exuberante alegria de viver. Mas esse pequeno nervosismo dissipou-se, logo que ele entrou no quarto, que lhe servia de moradia desde o dia que chegara ao quilombo. Era uma peça octogonal, construída de pedra, coberta de capim. Havia um vão de janela bastante profundo. Um leito de madeira bem trabalhada, no melhor estilo colonial, que ocupava uma das paredes. A mesa, a poltrona de ‘madeira de lei’, exibiam lavragens do mesmo estilo da cama. Tudo se apresentava cuidadosamente arrumado, apenas um cheiro a mofo, inerente ao recinto fechado se notava. Pois, fazia muito tempo que não se hospedava ninguém naquele aposento feito para as visitas especiais! Mas, depois de escancarar a janela, a pedido de Nganga Nzumba, diante da qual se estendiam ramos de roseiras vermelhas, Nganga Nzumba sentiu como o frescor da noite lhe trazia uma sensação de alívio. Duas lamparinas achavam-se na mesa, que iluminavam um apetitoso e farto repasto: cabidela com polenta, vinho, numa garrafa de cristal, um moringue de barro (uma moringa) cheia de água fresca e cristalina da fonte. Lençóis de linho, de reluzente brancura, cobriam a cama. Na bacia do lavatório havia água limpa... Então examinou o trabalho realizado pelo taciturno pagem e verificou que nada faltava para a plenitude do conforto de uma hospede acolhida, de improviso, num velho quarto. Todavia sentia-se um moço tomado por uma sensação estranha, enquanto se acomodava à mesa com Tchirombô. Acossava-o a recordação da sua casa em Angola e sua família. Nganga Nzumba, com seu caráter jovial, despreocupado, não tinha, por índole, propensão para pensamentos cismáticos e indiscretos. Era um soldado, de corpo e alma, e a austera disciplina militar que aprendeu com sua progenitora, às quais costumava dedicar-se com entusiasmo, satisfaziam-no a tal ponto que, na sua vida anterior, mantivera-se avesso a muitas coisas que para jovens da mesma idade pareciam atraentes ou importantes. A essa altura, lembrou-se do que dissera seu primo-irmão Andalaquituxi, que um homem que queira ser um bom comandante de tropas não pode constituir uma família. Também lhe vinha à memória certos comentários que ouvira, ainda em Angola, por sua mãe ficar ausente de casa bastante tempo para guerrear contra os portugueses com as suas destemidas e belas amazonas. Talvez fosse esta a oportunidade sui generis para constituir uma verdadeira família, pensou. Mas Nganga Nzumba tinha por hábito prestar pouca atenção a conversas que tratavam de assuntos de fórum particular, especialmente quanto se tratavam de pessoas estranhas. Nesse caso, preferia silenciar e entregar-se à solução de qualquer problema militar ou o estudo da tipografia da região onde estava situado o quilombo dos palmares. Assim se explica que ele conhecesse melhor do que ninguém essa região e com isso, tirava alguma vantagem em relação aos seus adversários. Mas aragem da noite, que entrou subitamente, apagou as lamparinas. Imóvel, nas trevas, da janela, Nganga Nzumba contemplou o pátio com aquela cacimba, em cuja água almejava refrigerar o sangue ardente. Lá fora reinava o mais completo silêncio... As mangueiras lançavam sobre à casa das visitas uma densa rede de sombras, ao passo que o luar lhes banhava a copa. Também estava aclarado o pedacinho do jardim que Nganga Nzumba cuidava pessoalmente e que tinha flores preferidas de sua mãe, Nzinga. Nitidamente, as flores destacavam-se da negrura dos ciprestes. Tudo isso parecia ao jovem Nganga um ambiente propício e convidativo para um romance. O porte, a gaferinha com turbante, o pescoço com colares de búzios axiluanda, o pano traçado e rodado, o andar rebolado, o requebro provocante, a voz, os seios voluptuosos e rijos que nem um baboque, os pézinhos lindos e descalços (era fissionado em pés femininos...), a expressão dos olhos negros da moça, sua cor e pele aveludada, os lábios carnudos, seus dentes lindos e branquíssimos... Sua candura, tudo isso era irresistível a tal ponto que o jovem Nganga, que normalmente tinha de agüentar gracejos, quanto à sua indiferença para com o belo sexo, permaneceu a noite toda extasiado pela formosa princesa umbunda. Quando Tchirombô se dirigiu a porta para chamar alguém para acender a lamparina, Nganga Nzumba disse:
- Deixa assim mesmo Tchirombô... Tu tens medo da escuridão?
Sem mesmo esperar pela resposta, convidou-a para saírem daquele quarto escuro.
- E o jantar? – Perguntou Tchirombô admirada com a proposta de Nganga Nzumba.
- Eu explico-te... Há coisas que são tão ou mais importantes que a comida, Tchirombô...
Nem esperou que saíssem do quarto... Num ímpeto Nganga beijo-a freneticamente e aprofundou o beijo, fazendo-a pressionar o corpo contra o dele numa resposta instintiva. A língua de ambos encontraram-se voluptuosamente e iniciaram quase que uma dança erótica... Tchirombô começou a perceber um arrepio no baixo ventre que se espalhou por quase todo corpo... Quando tinha encontrado aquele tipo de sensualidade num beijo? Nganga Nzumba pensou. A reação dela o estava enlouquecendo de desejo, destruindo todos obstáculos no caminho. Não era mais uma questão de admitir nunca ter encontrado tanta sensualidade. Na verdade, nunca sonhara que aquilo pudesse existir...
Segurou a lateral do rosto de Tchirombô e beijou o lóbulo delicado, alisando-o com os lábios.
Tremores violentos de prazer sacudiram o corpo dela, que virou o rosto na de Nganga Nzumba, acariciando seus dedos com sua língua, sentindo o desejo se tornar cada vez mais ardente. Então, ele a empurrou de um jeito frenético, pegando-a quase desprevenida.
Nunca tinha tido encontrado aquele tipo de sensualidade num beijo? Ela não ofereceu nenhuma resistência... Mas de algum modo, Tchirombô pôde resistir à determinação de Nganga Nzumba em quer possuí-la. É verdade que ele não estava acostumado à rejeição das mulheres, aliás, de ninguém, tratando-se de um verdadeiro comandante! Era como se a fraqueza dela fosse irresistivelmente atraída pela força dele, a feminilidade para a masculinidade, a suavidade dos seus lábios para o comando feroz da boca dele! O coração dela batia loucamente. Seus sentidos ávidos eram traiçoeiramente vorazes ante o prazer sensual daquele beijo...
- A Tchirombô ové wa vina!. Amé do kwssolé (tu és muito linda, eu gosto de ti) – já não sei que se esta passando comigo? O que é isso? A voz dele estava rouca de excitação, e as mãos quentes voltaram para o corpo de Tchirombô, moldando a cintura e os quadris enormes, subindo em direção aos seios rijos que deram as boas-vindas à pressão daquelas mãos que até aquele momento somente tinham tocado em utensílios de trabalho e em armas!
- Não posso suportar isso – disse ele, pega na intensidade dos meus sentimentos e reflete-se no meu trabalho – Não quero me sentir assim... Não posso desejá-la tanto assim... Isso é demais! Andalaquituxi tinha razão... Um soldado que se preze não pode envolver-se tanto com uma mulher! Isto é quase um feitiço! – exclamou e tremeu visivelmente.
A pulsação de Tchirombo era quase um clamor doloroso. A pressão daquelas mãos calejadas enviavam calor para cada terminação nervosa, de modo que o seu corpo inteiro vibrava contra os toques, como um berimbau tocado por um músico fabuloso da sua Terra natal, Huambo. . Mas ao mesmo tempo sentia-se perdida, com medo, terrivelmente sozinha num lugar que era estranho a qualquer experiência, levada por um homem tão poderoso e que era quase um mito.
Nem chegaram a sair do quarto... Logo eles estavam na cama . Um clamor selvagem os possuía, fazendo-os mover irrequietos sobre a cama. Nganga Nzumba observou a maneira como sua companheira o olhava, com lábios entreabertos, a língua umedecendo-os e o coração batendo contra as costelas de modo visível. Os mamilos estavam rijos, mas foi a expressão maravilhada que ele viu nos olhos dela que fez o seu corpo reagir de maneira mais intensa.
Era um olhar que traduzia o maior elogio que uma mulher poderia fazer a um homem. Um olhar que o excitava e lhe dava as boas-vindas. Braços delgados se envolveram ao redor de Nganga Nzumba. O desejo estava instigado ao ponto que não podia mais controlá-lo. O corpo magro estava suado e escorregadio contra o dele que era másculo. Com que perfeição eles se encaixavam... Era como se ela tivesse sido feita somente para ela, no momento
Nenhum comentário:
Postar um comentário