MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


terça-feira, 8 de setembro de 2009

O SIGNIFICADO DE UMA OBRA POLÊMICA

O escritor e advogado Dídimo Heleno acaba de lançar a sua mais importante obra: “livros sangrentos”. De uma forma critica e bem humorada, o autor, relata-nos as contradições e violências expostas nos cinco primeiros livros da Bíblia. Como “vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio, saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter, uns para com os outros, uma amabilidade de viagem” (Fernando Pessoa). È essa “amabilidade de viagem” e compreensão que deveremos ter com o festejado autor tocantinense que, como, nós, se indaga sobre o sentido da existência humana. È uma velha pergunta que não pode ser reduzida ao silêncio e todos nós o fazemos... Só que Didimo teve a coragem e a “ousadia” de colocar no papel suas indagações e inquietações. Vivemos e trabalhamos, suportamos encargos e cuidados, sofremos e alegramo-nos, experimentamos êxitos e fracassos, fazemos esforços e renúncias, vamos envelhecendo e sabemos que o termo é a morte. Não sabemos nem como nem quando; mas estamos persuadidos de que caminhamos para fim da vida, de que a nossa existência no mundo se encontra sob o signo da morte. Vale a pena viver? Qual é o sentido do nosso existir? Hoje temos novos olhares sobre questão... O homem hoje já não vive mais aconchegado no seio natural de uma fé religiosa comum, com a sua ordem de valores e a sua doação de sentido à vida humana. O homem dá-se conta de que o mundo moderno da técnica, com todo o seu progresso e bem estar, não é capaz de emprestar um sentido conveniente. Sente que este mundo, com todas as suas realizações prático-técnicas, no fundo, não está dominado pelo homem, nem resolve os problemas fundamentais humanos, antes ameaça e não consegue responder à questão do homem sobre o sentido. Quem não possui nenhuns valores e objetivos válidos, que dêem à sua vida sentido e orientação, perde o norte à vida, não sabe o para quê e para onde. Experimenta um vazio interior, um profundo mal-estar e rebela-se. È de fato necessário acreditar-se em algo. Quando concebemos um Deus criador, esse Deus identificamo-lo quase sempre com um artífice superior. As coisas tornam-se mais fáceis e mais cômodas para nós. È muito incomodativo que Deus não exista. Porque desaparece com ele toda a possibilidade de achar valores num céu inteligível; não pode existir já o bem a priori, visto não haver uma consciência infinita e perfeita para pensá-lo. O que nos mete medo é pensamos que se não acreditarmos na existência de Deus nos encontraremos num plano em que há somente homens e assim ele terá total responsabilidade sobre sua existência. Dostoievsky escreveu: se Deus não existisse, tudo, seria permitido!. Aí se situa o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido, se Deus não existe; fica o homem, por conseguinte, abandonado; já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. O autor dos “livros sangrentos” acredita que é possível o homem ser bom e mais humano mesmo sem estar “atrelado” a qualquer religião. O existencialismo de sua obra, digamos, filosófica, não é de modo algum um ateísmo, no sentido de que se esforça por demonstrar que Deus não existe. Ele nos remete para uma questão muito polemica: “ainda que existisse o Deus das religiões, ele não poderia ser uma criatura grotesca que nos querem fazer querer. (...) Deus não pode ser aquele senhor do Antigo Testamento. Não pode agir com tanta desconsideração e intimação. Deus tem que ser o que há de melhor e mais nobre em cada um de nós”. O autor preferia um Deus bom, um Deus misericordioso... Talvez um Deus mais próximo do Novo Testamento...


In "Palmensis Mirabilis" de João Portelinha

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