MEU ROMANCE

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O DIA QUE NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

ESCRITOR & PROFESSOR


terça-feira, 8 de setembro de 2009

O GRANDE PARADOXO...

A nossa época é, apesar de tudo, a melhor de todas as épocas de que temos conhecimento histórico; e que a forma de sociedade em que vivemos no Ocidente, a despeito de muitos defeitos, é a melhor que conhecemos.

Não é, sobretudo, o bem-estar material que tenho em mente, se bem que seja extremamente significativo que, no curto espaço de tempo decorrido desde a segunda Guerra Mundial, a miséria tenha desaparecido quase por completo do Norte e do Ocidente europeus – enquanto a maioria da população do planeta morre de fome (especialmente como conseqüência do desemprego, corrupção das classes dirigentes, má distribuição de renda, problemas climáticos e problemas estruturais...) e seus dirigentes políticos vivem na opulência! O desaparecimento da miséria, infelizmente apenas no Ocidente, tem diversas causas, dentre os quais a mais importante será porventura a intensificação da produção. Gostaria de referir três causas que se revestem de importância particular em conexão com o nosso tema: elas revelam claramente aquilo em que se acredita no Ocidente.

Em primeiro lugar, a nossa época estabeleceu um credo moral, que se impôs abertamente como evidência moral. Refiro-me à tese de que ninguém deve passar fome em quanto houver o suficiente para comer. E tomou seguidamente uma resolução, a de não deixar ao acaso a luta pela pobreza, mas de considerá-la como uma obrigação elementar de todos, em particular dos que usufruem de uma boa situação material.

Em segundo lugar, a nossa época acredita no principio de dar a todos a melhor oportunidade na vida – igualdade de oportunidades -; ou, por outras palavras, acredita, na luta contra a miséria através do saber; e acredita, por conseguinte, e com razão, que a formação universitária deve ser tornada acessível a todos que possuem as optidões necessárias.

Em terceiro lugar, a nossa época despertou nas massas necessidades e a ambição de posse. É evidente que isto representa uma evolução arriscada, mas sem ela a miséria das massas é inevitável: isto foi claramente reconhecido pelos reformistas dos séculos XVIII e XIX. Constataram que os problemas da pobreza era insolúvel sem a participação dos pobres e que havia que despertar primeiro o desejo e a vontade de melhorarem a sua situação para se conseguir a sua colaboração. Alguns pensadores que atualmente se interessam pela questão ambiental numa perspectiva filosófica ressaltam que talvez o traço mais marcante da civilização moderna tenha sido a ideia de que o ser humano é tão mais humano quanto consegue estender o seu controlo sobre todos os níveis e planos da sua existência... Para aqueles que pensam a questão ambiental nos seus aspectos filosóficos e espirituais, é de singular importância a construção de uma ética que se baseie num sentido de respeito e cordialidade para com natureza que nos envolve e a natureza que somos... Em alguns fóruns onde se discute o meio ambiente fala-se em proteger tudo que nos cerca e, em nenhum momento, infelizmente, falam sobre milhares de seres humanos que perecem por inanição... É necessário que surja uma ética da superação da visão do mundo que tentou e continua tentando reduzir os seres, incluindo o próprio homem, à condição de objetos submetidos à racionalidade do cálculo e da produção. É necessário uma mudança radical de compreender o lugar de ser humano no universo, o nosso lugar entre os outros seres... A pergunta que os ambientalistas fazem sempre: “o que seria do homem sem os animais e sem as plantas? E eu pergunto: que seria o mundo com plantas e animais (irracionais) sem os Homens? A opção civilizacional mediante o qual o homem se erigiu em valor absoluto, fundamento de toda a verdade e realidade, não é sem graves conseqüências para a vida de todo universo... No entanto, outro extremo, seria, pensarmos no meio ambiente e em ecologia sem pensamos no homem, sem combatermos a fome de milhares de seres humanos... O homem continua ou não ser a medida de todas as coisas?

In "Palmensis Mirabilis" de João Portelinha

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